Na arteterapia, colagem é a ponte entre o sentir e o criar
Por meio da arte, pessoas de todas as idades podem encontrar alívio emocional, autoconhecimento e equilíbrio mental
Com a colagem é possível transformar algo já usado em uma nova obra de arte. Fotografias, tecidos, papéis coloridos, canetas, adesivos… tudo é material para essa forma de expressão. Mas muito além da renovação material, as colagens oferecem oportunidades de aprimoramento de habilidades motoras e, principalmente, de cuidado com a saúde mental durante a arteterapia.
A arteterapia
A arteterapia é uma técnica que possibilita que as pessoas demonstrem seus sentimentos através da arte ao invés das palavras. A prática é feita por meio da mediação de modalidades plásticas, como desenhos, pinturas, bordados, dobraduras, tecelagem e uma infinidade de expressões artísticas.
Cada modalidade tem uma propriedade terapêutica específica, mas o objetivo geral “é oferecer às pessoas a possibilidade de não precisar falar sobre coisas que são difíceis de serem verbalizadas, porque o trabalho arteterapêutico é predominantemente não verbal”, explica Angela Philippini, arteterapeuta e autora do livro “Linguagens e materiais expressivos em Arteterapia: uso, indicações e propriedades”. Os resultados são produtos imagéticos que narram os estados psíquicos dos pacientes, como uma foto do que está acontecendo dentro da pessoa.
O corpo também sente a terapia, resultando em correspondências fisiológicas. Durante a produção artística, o organismo libera neurotransmissores, como serotonina, endorfina, dopamina, ocitocina, que causam a sensação de bem-estar e relaxamento.
Os benefícios da colagem
A colagem é uma das modalidades plásticas que oferece o maior número de benefícios para os pacientes. Essa afirmação é resultado de uma pesquisa coordenada pela professora e arte terapeuta Noah Hass Cohen, que, com o mapeamento de um scanner cerebral, mostrou o que acontecia com o cérebro quando determinadas modalidades artísticas eram utilizadas. Assim, ao testar os recursos das colagens, mostrou-se que essa técnica ativa a maior quantidade de áreas no cérebro ao mesmo tempo.
Isso acontece porque a colagem é uma junção de diferentes atividades. Seleção de imagens, recorte dos materiais, organização visual e a própria colagem da obra. Assim, as percepções sensoriais, criativas e visuais são estimuladas, além dos benefícios psicológicos.
“Além disso, a colagem tem uma vantagem em relação às outras modalidades expressivas porque com ela conseguimos trabalhar com um material pronto ou semipronto: imagens que podemos retirar de revistas, de jornais, de embalagens de presentes, etc. Isso facilita, sobretudo, quando a pessoa no processo arte-terapêutico tem a preocupação de fazer algo ‘feio’ ou acha que não tem habilidade artística. A colagem facilita”, explica Angela.
(Foto: Estee Janssens/Unsplash) Essa modalidade artística é muito utilizada nos diários e scrapbooks
Ainda, pensando na análise das produções artísticas, a colagem faz a reprodução de imagens da realidade cotidiana e oferece uma imagem mais clara do que está acontecendo com o paciente. “É uma mensagem mais ou menos clara, embora, naturalmente, no trabalho terapêutico existam muitas camadas de sentido para além daquilo que a gente vê num primeiro momento.”
Por ser uma linguagem artística mais direta, é muito comum ver a colagens serem aplicadas em contextos variados, como por coletivos, moodboards, diários, scrapbooks, etc.
Não existem barreiras para esse recurso terapêutico, crianças, adolescentes, adultos e idosos podem adotar a colagem no dia a dia. Como forma de expressão não verbal, a técnica oferece benefícios terapêuticos de ordenação, estruturação, síntese e integração para todas as idades.
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