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Viagem terapêutica: o autoconhecimento como destino
Michael Barón
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A arte do prazer na Itália, os conhecimentos espirituais na Índia e Indonésia e a reconexão com o seu propósito. Esse foi o roteiro de Elizabeth Gilbert quando decidiu pedir demissão do emprego, enfrentar um divórcio e uma depressão.

A viagem, que durou cerca de um ano, deu origem a um dos livros mais vendidos de nossa época, Comer, Rezar e Amar (Objetiva). A história é tão interessante que foi adaptada para o cinema e ainda nos inspira para pensarmos em roteiros com foco na viagem terapêutica, uma junção entre autoconhecimento e as experiências de trocas culturais.

Qual o destino?

Decidir o lugar que iremos conhecer é como entrar em um supermercado sem uma lista de compras. Só no Brasil, são mais de 5.000 cidades espalhadas pelos 26 estados e o Distrito Federal, com particularidades e traços culturais diversos. E aí, como olhar para um mapa com 193 países e cravar: “é esse que eu vou”?

É claro que podemos ir por afinidade, como, por exemplo, um país que tenha modos de vida semelhante ao nosso, ou o contrário, escolher um destino que traga surpresas e novos jeitos de viver a vida, cozinhar e se relacionar coletivamente. Para a coach de vida e carreira da The School of Life, Márcia Miyamoto, a diferença é a maneira como iremos adentrar em uma nova cultura e nos conectar com ela.

Se, por exemplo, desejo resgatar a conexão com meus ancestrais, talvez essa conexão profunda já exista em mim e o espaço físico a ser visitado seja apenas uma ponte para um lugar da mente (consciente ou não) e do coração que vê a viagem como uma oportunidade de sentir a força das raízes”, explica Márcia. Por outro lado, podemos agir com o total desconhecimento sobre o lugar e nos abrirmos para o novo. Ou ainda, no caso de uma pesquisa histórica, Márcia elucida que talvez ler e conhecer o passado e as características do lugar seja uma maneira de nos direcionar para o que gostaríamos de encontrar.

Não há receita pronta. Basta estar receptivo ao novo, imprevisível e consciente do que essa forma escolhida de conexão pode precisar, dentro do previsível, para que seja proveitosa e não se perca tempo (ou dinheiro) com coisas que não valem à pena ou se desperdice a oportunidade por uma falha básica de planejamento”, defende a professora.

O que é uma viagem terapêutica?

Antes de tudo, é importante lembrar que uma viagem terapêutica não substitui práticas de autoconhecimento, seja ela qual for, mas é uma poderosa ferramenta para colocar nossa mente no lugar, ou melhor, deslocá-la para aquilo que não esteva tão bem desenhado na nossa cabeça. Aproveitar um destino como uma possibilidade de troca cultural e desenvolvimento pessoal é uma experiência única.

Mas, claro, o potencial de uma viagem terapêutica não está necessariamente no espaço físico que escolhemos e sim na maneira como nos conectamos com o lugar, como elabora Márcia.

Quando sentimos necessidade de sair do nosso próprio espaço físico é porque desejamos ampliar, variar a visão que estamos tendo do mundo, da nossa vida naquele momento.”

Então, se a sua rotina é corrida, o trabalho te sufoca e te falta tempo para quase tudo, não adianta depositar todas as esperanças em uma viagem se você continuar reproduzindo esse modus operandi pelos lugares onde visita. O olhar viciado do cotidiano é, muitas vezes, um impeditivo para que tenhamos contato com coisas que ainda não conhecemos ou estão fora do nosso radar.

“A mudança de rotina em uma viagem já nos ajuda na tarefa de nos ‘desintoxicarmos’ do olhar viciado do dia-a-dia. Isso ajuda, mas não basta porque se não nos atentarmos a como nos envolvemos nessa nova experiência, lá estamos nós repetindo os mesmos hábitos, reclamando das mesmas coisas, só que com pessoas e em lugares diferentes”, explica Márcia.

O que fazer? Primeiro, compreender que precisamos largar algumas coisas no meio do caminho e buscar a plenitude e a leveza durante uma viagem. Depois, se esforçar para que isso possa continuar, na medida do possível, quando retornarmos à nossa rotina. “Precisamos aproveitar os tantos ecossistemas e serviços de viagens que existem para customizar as experiências que nos ajudam a mudar de perspectiva, que nos tirem o fôlego no sentido de ‘quero mais’, a vida é realmente muito maior“, orienta a professora.

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Qual o custo de uma viagem terapêutica?

Tendemos a acreditar que uma viagem com sentido e propósito precisa ser realizada em um destino que não conhecemos, distante da nossa realidade e que nos apresente possibilidades infinitas de vivências. Mas podemos fazer isso também em lugares próximos de onde moramos. Afinal, por que não?

Márcia conta que, recentemente, decidiu realizar o trajeto do caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. “Foi incrível e realmente uma viagem que não se pode dizer que é barata por conta, principalmente, do valor das passagens e de nossa moeda que se desvalorizou muito”, conta. Mas a experiência fez com que ela percebesse diferentes formas de aproveitar a vida e absorver o conceito de viagem terapêutica.

Aprendi que peregrinar é diferente de somente caminhar e me dei conta que posso – e depois dessa viagem tenho feito isso – peregrinar em São Paulo“, e desde então Márcia tem conhecido diferentes espaços e lugares dessa cidade tão diversa, múltipla e com inúmeras possibilidades.

Outra oportunidade é aproveitar as viagens em grupo, que também podem ser ótimas para o autoconhecimento, seja na conexão consigo mesmo ou com as pessoas ao seu redor. No entanto, é preciso que os interesses e desejos entre as pessoas estejam alinhadas entre si. “Quando viajamos em grupo precisamos compreender as expectativas de experiências que cada um possui e ter a sensibilidade de quando as pessoas desejam estar consigo ou conosco. Não se trata somente de dividir a conta“, lembra Márcia.

O que considerar antes de viajar?

Fazer uma lista de todos os pertences, roupas, documentos e um roteiro para nos guiar são fundamentais para qualquer destino. Mas, no caso de uma viagem terapêutica, o que precisamos levar em conta antes de comprar as passagens ou sair por aí caminhando pela cidade? É o que lista Márcia Miyamoto depois de longas experiências em seu trabalho como coach, professora, mas também como viajante.

1. Procure entender o seu momento de vida e a sua bagagem emocional

A ideia é entender, principalmente, o que não vai muito bem na sua vida, em quais aspectos você acredita que pode ou quer evoluir, melhorar, se aprimorar.

2. Busque por um destino e uma configuração de viagem que se alinhem a essa sua jornada interior

Hoje em dia, além de viajarmos sem saber realmente o que estamos levando na nossa bagagem mental e emocional, partimos para a viagem sem entender precisamente como o destino escolhido pode nos ajudar a, depois dos dias de descanso, voltar para a casa e o trabalho com a real sensação de renovação.

3. Caso receba indicações de lugares a serem visitados, aprofunde a pesquisa antes de se decidir

Geralmente, o desejo por viajar é provocado por algumas fotos que nos são mostradas de tudo o que há de mais deslumbrante no destino. Mas, em geral, essas imagens ignoram possíveis pontos de desagrado ou de tédio do local. Então, viajamos com a crença de que a realidade será melhor do que as imagens que nos foram apresentadas.

4. Dedique-se à reflexão

Não existe uma única fórmula para optar pelo destino certo na escolha de uma viagem. Mas pode ajudar se você fizer uma investigação consciente do que vai no seu interior com algumas perguntas específicas. Qual a configuração de viagem que faria você utilizar melhor o tempo naquilo que deseja explorar ou experimentar? Em que tipo de problema você acha que essa experiência pode te ajudar nesse momento da sua vida?  O que é um lugar exótico para você? Essas e outras perguntas podem funcionar como um questionário guia na hora de decidir um lugar para conhecer.

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