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Precisamos falar sobre suicídio: como acolher e buscar ajuda
Divulgação SESI/RS
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Izabel Duva Rapoport tinha 13 anos quando o seu pai morreu por suicídio. Foi um choque para toda a família e, especialmente, para a vizinhança na época. Apesar da comoção, foi dito à Izabel que a causa da morte havia sido uma parada cardíaca, algo relativamente comum, que acomete inúmeras pessoas no Brasil e no mundo.

Foi somente dois anos depois, aos 15, que Izabel conheceu a forma como seu pai partiu. E, dessa maneira, a jovem viveu o segundo grande luto. “Perder alguém por suicídio é viver a dor da ruptura duas vezes. A primeira, quando a pessoa morre e, a segunda, quando se descobre a causa da morte”, comenta a jornalista, neste relato publicado em Vida Simples.

Leia neste texto:

• Seja luz no caminho de quem precisa

• Saiba identificar os sinais

• Como oferecer acolhimento

• Como pedir ajuda?

• Onde encontrar auxílio profissional

• Todos devem estar envolvidos

Segundo o DataSUS, responsável por reunir os dados referentes à saúde pública no Brasil, o número de suicídios subiu de 7 mil para 14 mil em 20 anos, o que resulta em mais de uma morte a cada hora. Há várias causas que, juntas, são responsáveis por levar as pessoas a comportamentos de ideação suicida, embora transtornos psicológicos sejam os mais predominantes.

Não por acaso, quem sofre de ansiedade, depressão ou transtorno de personalidade está mais propenso a acreditar que seu sofrimento pode ser resolvido por esse caminho. Só no Brasil, a Organização Mundial da Saúde estima que 18,6 milhões de pessoas tenham quadros de ansiedade, o que nos coloca na posição de líderes mundiais – e nos acende um alerta necessário: é preciso falar sobre o tema, sem tabus.

A pandemia, especialmente, veio acompanhada de diversos impactos na saúde mental das pessoas. “A pandemia foi um dos contextos que acarretaram uma série de consequências, pois trouxe desafios irreconhecíveis até então, tanto de ordem econômica, mas essencialmente de ordem física e relacional”, explica Letícia Lessa, gerente da área de Saúde Mental do Serviço Social da Indústria do Rio Grande do Sul (SESI/RS). A especialista lembra que o suicídio é um comportamento pautado por múltiplos fatores, sejam de ordem psíquica, biológica, social, econômica, cultural e ambiental.

Seja luz no caminho de quem precisa

Precisamos olhar para o suicídio como uma questão que envolve não só quem passa por isso e seus familiares, mas toda a sociedade. No campo individual, é essencial que a pessoa receba uma abordagem multifatorial e com uma rede de cuidado para que ela possa voltar a se sentir bem e a ver graça na vida. Há, por exemplo, alguns fatores de proteção como o suporte familiar, apoio espiritual ou religioso, ausência de transtornos mentais, ter segurança financeira, entre outros.

Na sociedade, é preciso que haja debates acerca do tema em escolas, universidades, espaços de convivência e também de trabalho. Afinal, quanto mais informação qualificada sobre o assunto, mais preparadas as pessoas estarão para lidar com situações como essa.

Existem dispositivos que as empresas também podem fazer para auxiliar os trabalhadores. Eu consigo capacitar as lideranças para que elas estejam atentas aos sinais dos primeiros sintomas de suas equipes”, enfatiza Graziela Alberici, psicóloga na área de Saúde Mental SESI/RS, especialista em Saúde do Trabalhador pela UFRGS.

O SESI/RS dispõe de uma área de Saúde Mental com uma equipe de especialistas multidisciplinar que elabora soluções para a saúde integral do trabalhador no ambiente laboral. Possibilita uma multiplicidade de apoio psicológico para pessoas em sofrimento, como a oferta de terapia online ou presencial, palestras e workshops em saúde mental, programas de desenvolvimento de lideranças e de equipe, brigada de emergência psicossocial, entre outros.

“Sendo elas (as lideranças) fatores de proteção psicossocial, também conhecida como ‘liderança positiva’, o objetivo dessa formação é buscar uma relação mais humanizada entre trabalhadores e gestores, levando em conta fatores psicológicos e sociais”, comenta Letícia Lessa.

Por isso, no mês de setembro, o SESI/RS também criou uma ação chamada Cabine Seja Luz, instalada no Instituto Caldeira, um ecossistema de inovação em Porto Alegre, onde as pessoas poderão deixar mensagens de acolhimento e motivação, dedicadas a quem passa por momentos difíceis. Por lá também acontece, no dia 13/9, uma palestra sobre segurança psicológica, aberta ao público em geral. O SESI/RS também disponibiliza, gratuitamente, os materiais especiais da campanha do Setembro Amarelo para empresas que desejem conscientizar e guiar o melhor caminho para a sua equipe.

“Às vezes, o outro só precisa de um detalhe para que possa olhar para frente e seguir rumo a um lugar seguro”, diz uma das frases presentes na ação, que busca incentivar mensagens de acolhimento, afeto e companheirismo que as mais diferentes pessoas poderão deixar para que outras possam ler. O farol que estampa a cabine representa um norte para aqueles que enfrentam o mar revolto até chegar à segurança da costa, lembra-nos que, muitas vezes, precisamos de ajuda para enfrentar as dificuldades.

Campanha Setembro Amarelo SESI/RS para falar sobre suicídio. Imagem: Divulgação SESI/RS

Saiba identificar os sinais

É importante levar em consideração as influências que fatores externos podem exercer para o surgimento de ideações suicidas. A cartilha de orientação produzida pela Prefeitura de São Paulo esclarece que perdas familiares, autocobrança, desemprego, uso abusivo de drogas, violência doméstica, bullying, racismo, xenofobia e outros preconceitos são considerados fatores de risco para que alguém cogite tirar a própria vida.

“As pessoas que se encontram em risco de suicídio costumam apresentar três características: ambivalência – ficam em uma luta interna entre querer viver e acabar com o sofrimento através da morte; impulsividade – o suicídio pode ser um ato de impulso, passageiro, e durar alguns minutos ou horas; rigidez – quando a pessoa vê na morte a única saída para o alívio do sofrimento, na sua visão é tudo ou nada”, esclarece Graziela Alberici.

Mudanças no comportamento, modos de agir, distanciamento de colegas de trabalho ou família, agressividade ou humor deprimido são indicações de que alguém pode estar em sofrimento psíquico e, num quadro mais grave, cogitar o suicídio.

Além disso, falas negativas ou autodepreciativas podem dar indícios de quando as pessoas estão instáveis ou com sentimentos de ideação suicida. “É importante observar o uso constante de frases ou de perguntas do tipo: ‘A vida não vale a pena’; ‘Me sinto um fardo nessa casa’; ‘Se eu morrer, você vai sentir a minha falta?’; ‘O que você faria se eu morresse?’ Não banalize esse tipo de fala ou de questão. Muitas vezes, estão relacionadas a pensamentos sobre a morte”, comenta a psicóloga Márcia Barone, mestre em Psicologia Clínica pela PUC/SP.

Como oferecer acolhimento

Identificado os sintomas iniciais e as causas que motivam uma atitude como essa, o segundo passo é acolher quem está passando por uma situação como essa. É importante nunca julgar o sofrimento do outro, banalizar, dar sermão ou dizer frases de incentivo vazias — elas não funcionam e podem até piorar a percepção de alguém em relação às suas dores.

Se mostrar presente e disposto a ouvir o que o outro tem a nos falar é um ato de empatia essencial. “A gente sabe o quão importante é ter uma escuta livre de julgamentos. Isso significa se propor a escutar o que o outro está falando sem colocar a nossa lente”, afirma Graziela Alberici. “Quem está sofrendo talvez entenda que essa é a única saída para acabar com o sofrimento”, complementa a profissional.

É preciso perder o medo de se aproximar das pessoas e oferecer ajuda. A pessoa que está numa crise suicida se percebe sozinha e isolada”, é que diz um trecho da cartilha “Falando abertamente sobre suicídio“, elaborada pelo Centro de Valorização da Vida (CVV).

Ter um ombro amigo, perceber que você não está sozinho, que há pessoas preocupadas e que buscam te ver em uma melhor situação são fatores importantes para que você mantenha a sua conexão com o mundo. “Além disso, o teor da conversa pode ser um elemento chave tanto para orientá-la a buscar ajuda especializada, quanto para conduzir essa pessoa até um profissional, pois é muito difícil para uma pessoa fragilizada emocionalmente ter a iniciativa de buscar ajuda”, explica Márcia Barone.

Izabel passou anos se perguntando o porquê do seu pai ter ido embora e percebeu que uma das causas principais a depressão possui tratamento e, se mitigada, evita ações extremas como essa. “Hoje meu pai é assunto dentro de casa e, cada vez mais, conheço sua vida por meio das histórias de minha mãe – que tanto evitava falar dele”, conta.

Campanha Setembro Amarelo SESI/RS para falar sobre suicídio. Seja luz no caminho de quem precisa. Imagem: Divulgação SESI/RS

Como pedir ajuda?

Embora o suicídio seja um fenômeno social presente na humanidade há séculos, ele ganhou uma nova dinâmica nas sociedades humanas, especialmente depois das intensas mudanças provocadas pelo surgimento da internet, das redes sociais e das alterações nos modos de vida.

“A grande possibilidade de interatividade, compartilhamentos – nem sempre cuidadosos – acaba proporcionando um ambiente de encontro entre muitas pessoas que estão em situação de vulnerabilidade emocional ou adoecidas psiquicamente e isso acaba se tornando um fator de risco”, defende Márcia Barone.

Por isso, além de direcionar um olhar afetuoso e acolhedor a pessoas que enfrentam essa situação, é importante saber como pedir ajuda, no caso de quem vivencia isso diretamente. Muitas têm vergonha, medo ou receio de como as pessoas vão receber esse pedido de ajuda porque, querendo ou não, o suicídio ainda é um tabu no Brasil e vem muitas vezes associado à fraqueza, pecado ou falta de disposição.

Nem sempre a pessoa estará confortável para conversar sobre o que está sentindo, mas é importante se mostrar disposto a ouvi-la com atenção. “Eu não vou ser invasivo, mas me colocar presente, me fazer presente”, enfatiza Graziela Alberici. Ideações suicidas podem ser insuportáveis e muito difíceis de lidar quando se está sozinho, por isso é muito importante conversar com alguém de confiança, dividir os problemas e buscar possibilidades de tratamento em tempo.

“É importante reconhecer também que o sofrimento não é sinal de fraqueza nem de vergonha; que o adoecimento psíquico é desencadeado por diversas situações e equivale ao adoecimento físico”, esclarece Barone. Assim como qualquer outro sintoma ou problema de saúde, o adoecimento mental pode ser diagnosticado e tratado por profissionais adequados.

Onde encontrar auxílio profissional

Pensar no suicídio nos leva a sentimentos de ambivalência, solidão, “muita gente tem um desejo de revide ou imposição do mesmo sentimento negativo aos outros, querendo que sintam o mesmo que ela. Outras pessoas sentem vontade de desaparecer, fugir ou de ir para um lugar ou situação melhor”, explica a cartilha elaborada pelo CVV.

“Por anos, me rendi a um silêncio sufocado de tabus, de tristeza, raiva e muitos julgamentos. De família católica, passei a questionar Deus, sofrendo pela alma ‘pecadora’ do meu pai suicida”, escreve Izabel. A culpa, a vergonha e o questionamento são sentimentos frequentes, embora hoje ela tenha ressignificado essa dor e guardado as boas memórias que viveu com o seu pai.

“Fui percebendo que o suicídio era mais comum do que eu imaginava e que eu só havia focado na morte, esquecendo o essencial: quem foi meu pai”, conta. Compreender essa dor e buscar maneiras saudáveis de conviver com ela são igualmente importantes para quem passou ou está passando por um caso de alguém que perdeu um familiar, amigo ou vizinho.

Mas, antes do suicídio, sabemos que há ações possíveis para evitar um fim tão premeditado, como a busca por atendimento profissional nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Ainda há o Centro de Valorização à Vida (CVV), que atende pelo número de telefone 188, ou o Pode Falar, um canal de ajuda em saúde mental para adolescentes e jovens vinculado ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Todos devem estar envolvidos

Também é importante destacar a relevância de políticas públicas e a ação do Estado no tratamento de pessoas em sofrimento psíquico. Mais de 90% dos casos de suicídio estão associados a transtornos mentais, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Nessas situações, o tratamento adequado pode salvar vidas.

“Com frequência, o suicídio ocorre em condições que não houve acesso a algum tipo de tratamento. Portanto, para que as taxas comecem a diminuir é vital a elaboração de políticas públicas que visem a prevenção dos suicídios“, justifica Márcia Barone.

O combate às desigualdades sociais também é um fator relevante, já que “em regiões mais vulneráveis é maior a dificuldade do acesso aos serviços de saúde mental disponibilizados, ou não há acesso a tratamentos”, observa a especialista.

Por fim, se a morte ocupa um lugar de tabu em nossa sociedade, o suicídio ainda vem carregado de outras questões. Mas, quanto mais pudermos abordar o assunto, especialmente como um sintoma de alguém em um profundo sofrimento, mais poderemos, enfim, mostrar o quanto vale a pena viver.

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