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É urgente cuidar das florestas
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Organização já plantou mais de 220 toneladas de sementes de 214 espécies e diz que o cuidado com as matas começa também no nosso quintal

Quando os índios do Território Indígena do Xingu pediram ajuda para recuperar as matas ciliares e nascentes da região, foi criada em Canarana, Mato Grosso, a Campanha Y Ikatu Xingu, que na língua Kamayurá significa “salve a água boa do Xingu” – uma ação que uniu a comunidade, órgãos públicos, ONGs, universidades e associações locais.

Dessa mobilização, em 2007, nasceu a Rede de Sementes do Xingu, que prepara pessoas para colher sementes da flora da região das cabeceiras do Rio Xingu e tem uma plataforma de troca e comercialização dessas sementes. Bruna Ferreira, diretora da rede, explica a seguir como é feito esse trabalho e por que é urgente cuidar das florestas.

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Café com Bruna Ferreira

Por que vocês usam sementes, e não mudas?

Essa técnica de usar sementes, que chamamos de muvuca, permite uma restauração mais barata para quem planta. Custa metade ou menos do valor do plantio com mudas e tem uma riqueza maior, se compararmos as duas técnicas com as mesmas condições. Mas, o mais importante dela é que mobiliza mais de 550 coletores com recursos vindos da floresta, gera renda para os agricultores familiares e para os índios, e funciona, entre outras coisas, para que aprendam mais sobre plantar e colher.

Como as pessoas que coletam as sementes, os coletores, chegam até vocês? 

Por meio de instituições parceiras, de outros coletores ou de grupos de coleta existentes. Uns vêm para a rede interessados na renda e outros por considerá-la uma missão.

São todos da região do Xingu?

Eles estão localizados nas bacias dos rios Xingu, Araguaia e Teles Pires. Para ser um coletor, é necessário fazer parte de um grupo que já existe. É preciso falar com o elo desse grupo, que faz uma reunião com os outros coletores para que ele seja apresentado, fale da sua história de vida, da área em que pretende fazer a coleta e se já tem experiência – ele pode ser aceito ou não. Para criar novos grupos, precisamos ter uma instituição parceira junto. Ensinamos como colher a semente, qual é a época certa para fazer isso e o tipo de beneficiamento de cada uma das espécies. Também ajudamos a calcular o preço e acompanhamos o trabalho.

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Como as sementes são espalhadas nas matas? 

Depois de um estudo do bioma, do tipo e do preparo do solo, e de indicações de espécies levando em consideração a germinação de cada uma e a quantidade adequada para aquela área, misturamos as mistura é colocada dentro de uma máquina usada na agricultura ou em uma plantadeira. E então elas são jogadas na terra preparada. Em áreas pequenas, o plantio pode ser manual. Acompanhamos a região por pelo menos três anos.

Por que é importante renovar as florestas brasileiras?

É importante melhorar o microclima da nossa região para a flora, a manutenção dos rios e peixes, além de diminuir as mudanças climáticas e ter alternativas de renda não madeireiras. A Rede de Sementes é uma opção de renda vinda da floresta que não está ligada ao corte de madeira para venda.

Esse trabalho é ainda mais urgente com o aumento das queimadas na Amazônia? 

Não só neste momento. Nossa região passou por uma ocupação que Não podemos pensar que a responsabilidade por restaurar as florestas é só dos grandes produtores. Cada um cuidando de um pedacinho faz diferença caracteriza esse desmatamento já há muitos anos, desde a década de 1980. Mesmo com o tamanho da Rede de Sementes, que é a maior do Brasil, nem em 50 anos a gente teria condições de restaurar todo o passivo ambiental que tem na nossa região por causa da ocupação que foi feita.

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Agora com o desmatamento e as queimadas na Amazônia, esse trabalho tem que ser intensificado. Mas, muito além da Amazônia, todos os biomas estão passando por esse momento de precisar de algum tipo de recuperação das áreas onde estão. O nosso foco hoje é o bioma amazônico e o cerrado, que é para onde a gente fornece as sementes. Mas em todos os outros há condições de fazer um trabalho de restaurar a floresta.

Qualquer pessoa pode ajudar a frear a destruição ambiental, mesmo morando em grandes cidades? 

Sim. É claro que plantar uma pequena área não traz uma mudança para a população como um todo. Mas, com esses trabalhos pequenos, cada um fazendo o seu e unindo forças, a gente consegue fazer a diferença. Não podemos pensar que a responsabilidade é só dos grandes produtores, que têm um passivo gigantesco. Cada um cuidando de um pedacinho também faz a diferença. Às vezes os coletores nem têm um passivo para ser restaurado, mas plantam árvores perto da casa deles porque percebem a mudança na temperatura daquele local, e também com o objetivo de fazer a coleta próximo de onde moram. Mas, se um se conscientiza e dez não se sensibilizam, tudo fica muito mais difícil. Mas se a gente consegue sensibilizar um grande número de pessoas para fazer esse trabalho em pequenas áreas, que seja no quintal da sua casa, é isso o que faz a força.

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