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Sensível repouso
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O sono é mais do que um tempo para o corpo e a mente descansarem. A sua qualidade (ou não) é um ressoar da nossa voz interna. Saiba ouvi-la

Sempre vi uma boa noite de sono como um remédio para os problemas da vida. Não importava o que estivesse passando, tinha a esperança de que acordaria com uma solução. Para mim, esse tempo de descanso sempre foi um bom conselheiro. Mas, mesmo sendo parte da natureza humana, nem sempre ele ocupa o lugar que merece em nossas vidas. Temos a mania de inventar coisas demais para fazer, e com isso nos vemos obrigados a esticar o dia para dar conta de todas elas. Sem perceber, vamos, aos poucos, encurtando o nosso tempo de descanso.

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É dessa falta de cuidado que podem surgir a insônia, o sono agitado, o acordar durante a madrugada, a sensação de ter passado a noite em claro mesmo depois de dormir bastante… A conta sempre chega no dia seguinte. “O sono diz se estamos equilibrados ou não, pois é muito sensível aos sofrimentos físico e psicológico. Ele traz o retrato da nossa história”, resume Karina Haddad, psicoterapeuta do Instituto do Sono de São Paulo. Ele é um espelho que reflete com nitidez o que estamos vivendo e sentindo, inclusive as nossas emoções mais escondidas. “Tudo equilibra ou desequilibra junto. Todos os trancos que enfrentamos na vida, tudo o que vivemos de alguma forma afeta corpo e mente”, diz Karina Haddad.

Não negue repouso ao corpo

Um dos grandes erros que cometemos é quando tentamos controlar o sono. Ao agir assim, deixamos de prestar atenção ao relógio interno, cujos ponteiros marcam a hora do descanso com exatidão. Esse medidor que nasce com a gente é conhecido pela ciência como ciclo circadiano, um processo biológico que leva cerca de 24 horas e comanda o ritmo da nossa existência. Influenciado pela luz, temperatura, movimento das marés, dos ventos, do dia e da noite, é ele quem nos avisa a hora certa de dormir e acordar. Quando estamos dessincronizados com o nosso relógio natural, nos desencontramos de nós mesmos.

No livro Por Que Nós Dormimos (Intrinseca), o neurocientista e psicólogo Matthew Walker fala da bagunça que fazemos com os horários quando transbordam estímulos para a nossa mente, e de como isso é nocivo. “Meia-noite não é mais o ‘meio da noite’. Para muitos de nós, meia-noite em geral é a hora em que pensamos em checar a caixa de e-mails uma última vez. Para agravar o problema, não dormimos mais pela manhã para compensar o horário mais tardio do início do sono”, escreve.

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Negar repouso ao corpo é abrir a porta para problemas emocionais, como ansiedade, depressão e síndrome do pânico, além de alterações hormonais e doenças físicas. E pode ser bem trabalhoso encontrar o caminho de volta para o sono reparador, principalmente quando não conseguimos silenciar os pensamentos. Karina diz que o barulho interno de quem tem uma “mente tagarela” aumenta ao cair da tarde e faz com que a pessoa fique alerta o tempo todo. É um barulho tão alto que abafa os sentidos. “Nossos corpos ficam deslocados no tempo e descolados do ser. E o sentir acaba sendo ignorado.”

Paz para dormir

Enquanto fazia uma pesquisa para esta reportagem, um depoimento que vi na internet me chamou a atenção. Nele, a psicóloga portuguesa Teresa Sousa contou a uma blogueira que dormia tão mal na infância que seus pais não quiseram ter outros filhos. Com o tempo, ela conseguiu fazer as pazes com o sono, mas muitas crianças que têm um início de vida parecido com o dela crescem carregando essa dificuldade. “A chance do bebê que dorme mal ser um adulto que dorme mal é maior do que o bebê que dorme bem”, afirma Renata Soifer Kraiser, psicóloga e autora do livro O Sono do Meu Bebê (CMS).

Crianças pequenas são muito sensíveis e costumam expressar sofrimentos e contrariedades resistindo ao sono. “O bebê sente tudo, até na barriga da mãe. Ele responde, inclusive. E o sono é uma das primeiras funções que denunciam que tem alguma coisa importante acontecendo”, comenta Renata. O bebê percebe a angústia dos pais para que ele durma, a ausência de uma rotina tranquila ou de segurança emocional em casa. É nessa fase que cada um desenvolve sua autonomia em relação ao sono e precisa ter a chance de dormir sozinho.

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Muitas vezes esse desconhecido que é fechar os olhos e não ver mais nada assusta. Quem não conhece pessoas que precisam fazer rituais para ter um relaxamento profundo? Precisar de algum tipo de ajuda para dormir é um comportamento que pode atravessar a infância e ser cimentado na idade adulta. Por trás dessa dependência geralmente há medo, insegurança ou traumas do passado. A nossa resistência em se entregar à escuridão também pode ser uma tentativa de controlar o que não está ao nosso alcance. Com isso, desaprendemos a soltar a mente e não damos liberdade para o sono chegar.

Ganhos ao dormir bem

Quando o sono já não é o mesmo, muitos de nós corremos para a farmácia à procura de remédios e invenções que prometem nos fazer dormir como anjos. O problema é que eles não são milagrosos. “O vazio da existência, as dores da nossa alma acabam sendo preenchidos por receituários médicos. É a busca pela fórmula mágica. Por viver sem fazer nenhum esforço”, observa Karina. Esse olhar para dentro é o que mais ajuda a reencontrar o sono perdido, e há muitas maneiras de fazer isso. Desacelerar à noite, deixar o celular de lado, esvaziar a mente de preocupações e escutar a própria respiração é um bom começo – além de tratamentos naturais que estimulem um reequilíbrio entre corpo e mente, como acupuntura, massagens e meditação.

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Matthew Walker resume os ganhos que temos ao dormir bem. “Já é hora de reivindicarmos nosso direito a uma noite inteira de sono sem constrangimento ou o estigma prejudicial da preguiça. Ao fazê-lo, podemos nos unir ao poderosíssimo elixir de bem-estar e vitalidade dispensado em todos os caminhos biológicos concebíveis. Então poderemos nos lembrar de qual é a sensação de estarmos despertos de verdade durante o dia, impregnados com a mais profunda plenitude de ser.”

Sibele Oliveira acredita que dormir bem é essencial para ter mais disposição e inspiração.

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