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Por que sentimos nostalgia?
Harold Wijnholds
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Basta uma rápida pesquisa no buscador com a palavra “nostalgia” que aparecerá, provavelmente, dezenas de matérias e notícias sobre famosos que compartilham fotos antigas, lembranças da carreira e memórias afetivas que despertam emoção e interesse da população em acessar o conteúdo. Esse sentimento, que provoca um certo saudosismo e uma falta de algo que parece ter sido muito prazeroso, tem se tornado muito comum na vida das pessoas. Foi, inclusive, a palavra mais pesquisada do ano em 2011 no Dicionário Priberam de Língua Portuguesa.

Isso não acontece por acaso. Nós recebemos estímulos o tempo inteiro: cores, cheiros, objetos, formatos, que despertam memórias, lembranças e desejos que existem, mas estavam guardados em algum lugar do cérebro. É por isso que o sabor de uma comida pode nos levar para a infância na casa da avó ou um modelo de carro pode lembrar daquele que um tio usava para te buscar e levar para viagens ao litoral.

Efeitos da nostalgia no nosso corpo

No passado, era comum que esse sentimento fosse rechaçado ou associado a algum problema psíquico. Geralmente, era muito associado à melancolia, tristeza e a conclusões de que as pessoas não estavam tentando viver o presente, mas sim querendo voltar para um passado que não existe mais. Hoje, essa perspectiva tem mudado. “A visão moderna desse termo nos remete a uma emoção positiva, pois desempenha um papel no que podemos chamar de resiliência fisiológica“, explica a psicoterapeuta Graça Leal.

Ao contrário do que se defendia décadas atrás, a nostalgia libera hormônios que remetem à felicidade e à satisfação. Graça explica que estudos feitos a partir do uso de ressonância magnética identificaram que há uma certa interação entre as vias da memória e a sensação de recompensa produzida no cérebro quando sentimos nostalgia. É por isso que esse sentimento pode, na maioria das vezes, ser tão prazeroso e benéfico para a saúde humana.

Nostalgia e o mundo contemporâneo

Livros como Sociedade do cansaço, do filósofo sul-coreano Byung-Chul Ran e Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico, organizado pelo psicanalista Christian Dunker, expõem os problemas das sociedades contemporâneas, suas implicações para vida das pessoas e o impacto que esses fenômenos geram nas relações entre os seres humanos. É cada vez mais comum que as pessoas busquem válvulas de escape e mecanismos que ajudem a desprender da realidade, nem que seja por poucos momentos do dia. A nostalgia, portanto, é um deles.

“Observamos que a população em geral tem enfrentado muitos desafios no mundo moderno, como a pandemia, por exemplo”, explica Graça. O período de crise sanitária vivenciado pelo mundo não trouxe só consequências físicas, mas um processo longo de luto, adoecimento mental, desesperança e cicatrizes que permanecerão por muito tempo na vida das pessoas.

Exatamente por essa razão que buscar o passado, os bons momentos guardados na memórias e as pessoas que passaram pela gente traz conforto, aconchego e boas sensações que nos levam para um lugar de satisfação. “A nostalgia não está necessariamente ligada a uma lembrança ruim, na maioria das vezes ela nos remete a um momento feliz ou positivo de nossas vidas”, acrescenta a psicóloga.

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Nostalgia é o mesmo que saudade?

A resposta é não, isso porque há algumas diferenças entre como esses sentimentos agem no nosso corpo e como eles são interpretados pelo cérebro. “O que podemos dizer é que a nostalgia está relacionada a uma sensação de saudades de um tempo vivido, frequentemente idealizado e irreal. Nostalgia é um sentimento que surge a partir da sensação de não poder mais reviver certos momentos da vida”, explica Graça Leal.

Aquela lembrança que não tem mais a possibilidade de voltar a acontecer, mas está presente no nosso cérebro, ou a idealização de uma época vivida em que era muito proveitosa e prazerosa, embora não seja possível mais vivê-la, é a nostalgia. Já a saudade é algo mais material – mas também existe simbolicamente -, “é um sentimento que, dependendo do objeto, pode ser sanado com o contato com o objeto, quando possível. Por exemplo, se encontro alguém que tenho saudade, esse sentimento alivia”, diferencia Graça Leal.

O que te traz nostalgia?

Fizemos esse questionamento à equipe da Vida Simples sobre o que desperta esse sentimento e que memórias surgem à mente no momento em que essa palavra é dita em uma conversa, pergunta ou um post nas redes sociais.

Abaixo, compartilhamos algumas das histórias e convidamos você, leitor, a utilizar a área de comentários para interagir e contar o que te faz sentir nostalgia.

Andressa Apolinário – Logística e Distribuição

O que me faz sentir nostalgia é lembrar dos tempos na casa da minha avó, onde eu a ajudava fazer a melhor sopa do mundo, com o som dos relógios de corda tocando, todo mundo se reunindo na mesa para saborear aquele prato delicioso. Me deu agua na boca de lembrar da sopa dela.

Ah, e tem uma música que me faz sentir muito isso: “Quero ver você não chorar, não olhar pra trás, nem se arrepender do que faz”… Sempre me emociono.

Karen Oliveira – Marketing digital

Eu fiquei pensando um pouco no porquê de existir a palavra nostalgia se já temos saudade. Qual a diferença das duas? É verdade que só em português existe a palavra saudade? (pergunta sincera pois sempre ouvi isso e nunca dei um Google, haha), talvez isso explique nostalgia. A saudade das outras línguas.

Tudo isso para falar que eu não tenho nostalgia do passado, eu sinto nostalgia de uns momentos específicos em que alguma coisa muito esperada poderia ter acontecido e não aconteceu por um triz, meio que “a vida inteira que podia ter sido e não foi” são vidas paralelas que se criaram na expectativa.

Débora Zanelato – Editora-chefe

Uma das minhas memórias preferidas de infância eram as festas de final de ano na casa da minha avó, que reunia a família inteira: os tios, os primos. Era um momento único de reunir todos e que hoje em dia já não acontece mais. Era como se aquela grande (apesar da baixa estatura) matriarca fosse capaz de agregar a todos ali, em sua pequena casa que se tornava milagrosamente mais espaçosa.

O grande momento de alegria das crianças ficava por conta do doce de canudo: ela fazia a massa e também o doce de leite, processo que levava horas e horas. Os netos mais empenhados ficavam responsáveis por preencher as capinhas com o doce. Aquela receita tinha o sabor da minha infância. Um sabor que habita a minha memória e que eu sei que jamais experimentarei de novo.

Com a partida daqueles que amamos também vão um pouco dos sabores que só eles eram capazes de criar. Mas, felizmente, as memórias permanecem.

Carolina Vellei – Editora online

Nostalgia, para mim, é um sentimento de saudade que surge quando a gente entra em contato com coisas que lembram momentos bons da nossa vida. Sinto nostalgia quando percebo o cheiro de tangerina e lembro da bala mastigável que meu avô me dava. Quando sinto o cheiro de lápis de cor ou giz de cera e lembro dos primeiros anos da escola. Quando ouço Sandy & Junior e lembro da minha adolescência. Minhas nostalgia vem principalmente pelos sentidos do olfato e da audição.

E você, o que te traz nostalgia? Conta pra gente nos comentários!

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