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O muro da cegueira
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Navegamos numa nave azul pelo cosmos. No lento despertar de nossa consciência, ainda nos iludimos. Por nada precisarmos fazer para que ela gire e avance em seu curso, nos imaginamos sem qualquer responsabilidade na sua manutenção. Uma embarcação destas mais simples, que cruzam o azul daqui de baixo, custa perto de quatro vezes menos com manutenção preventiva, quando comparada com uma que ciclicamente precisa de amplas reformas. No caso do nosso planeta, a situação é mais dramática, pois a tecnologia dos sistemas biológicos e naturais, que sabotamos por ganância e falta de visão, são irreparáveis com os conhecimentos que temos atualmente. Nossa nave azul avança rápido para um muro que nós mesmos erguemos: o da nossa cegueira. Avançamos sob o comando de uma centena de timoneiros. Cada um deles aproa um rumo diferente e parece que vão todos de olhos vendados e mãos atadas por compromissos escusos. Vivemos sob um sistema burocrático que tem como finalidade sua própria continuidade em vez de gerir o bem comum.

Em todos os mares e esquinas do planeta fechamos os olhos para o imperdoável. Nas ruas dorme gente sem abrigo ou alimento, enquanto no mar, embarcações arrastam redes de pesca milimétricas matando tudo a sua frente. Outras, quem sabe ainda mais perversas, arrastam tubarões para fora d?água e os devolvem mutilados para agonizar no fundo do mar sem as barbatanas. Por quê? Para abastecer uma doente tradição de status e virilidade. Fechamos nossos olhos para os abusos pelo conforto de mais um dia sem confronto. Esperamos que alguém se levante para reclamar da água que ou sobe pelos nossos calcanhares ou falta nas torneiras. Um mar sem tubarões não é seguro para os homens. É um lugar com superpopulações de pequenos animais marinhos. Os mesmos que alimentam-se dos micro-organismos aquáticos que produzem metade do oxigênio do planeta. Um mar sem tubarões é um planeta sem vida. Por um instante abrimos a janela e encaramos a realidade. No seguinte, nos julgamos e acionamos o mecanismo de culpa. No banco dos réus, indicadores em riste, frente à própria face, enumeramos tudo o que temos de errado. Embotamos acusados e nos julgamos indignos de qualquer situação melhor. A janela logo se fecha sem qualquer ação. Encarcerados na culpa, fechamos a porta do calabouço com a única janela para a realidade lá dentro. Desnorteados, ou aceleramos o carro mais uma vez para o shopping center, onde o ar condicionado e as vitrines coloridas aplacam a angústia, ou nos sentamos aparvalhados de frente a uma grande tela. Ali o drama de um outro nos comove. Na escuridão da culpa não há consciência ou mudança. Na balbúrdia da selva cinza, há cada vez mais forma e menos sentido. Entre anúncios e distrações, escuto um uivo. Como um cão de guarda, ecôo para os meus: pelo direito ao mal-estar! Leio a escritora Eliane Brum e me pergunto: quanto mais precisamos para desembainhar a nossa voz?

LUCAS TAUIL DE FREITAS veleja pelo azul e acredita em novos rumos com menos culpa, mais consciência e ação.

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