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O Manifesto do Desapego
Anne Nygård
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10 Atitudes para que você desapegue e simplifique a vida em tempos difíceis

Atravessamos tempos desafiadores e isso não é novidade para mais ninguém. A vida tornou-se bastante complexa e, enquanto ainda enfrentamos questões macro sem previsão de solução, outras tantas podem ser minimizadas a partir de atitudes que estão totalmente ao nosso alcance. Isso ajuda a tornar mais leve o estado de espírito, além de manter a mente mais serena diante dos nossos verdadeiros problemas. Para tanto é fundamental desapegar, atitude pronunciada por muita gente, mas pouco praticada. Desapegar não no sentido de deixar-se levar, mas de saber separar, de um jeito estóico, as questões que podemos influenciar de verdade entre todas aquelas que nos afligem.

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Este exercício pode ser metaforizado como o do avião que perde altitude e precisa se libertar de pesos desnecessários. Na missão que muitos enfrentamos neste momento, em que projetos pessoais e profissionais perderam altitude, isso implica em identificar e evitar atitudes que apenas criam fumaça, tornando-se puro desperdício de tempo e saúde física e mental. Para facilitar o mapeamento destes sacos de lixo emocional que insistimos em carregar, mesmo sabendo que o caminho ainda é estreito, preparei um breve tratado de “filosofia bruta”, distribuído em uma trilha com dez atitudes diretas ao assunto.

Este, que podemos chamar de Manifesto do Desapego, nasceu para ajudar você a manter saudável o seu vigor emocional, focando naquilo que poderá fazer uma verdadeira diferença na sua vida neste processo de grandes mudanças que vivemos, com toda insegurança e ansiedade que decorrem dele. “Bora” desapegar então?

1. Desapegue de querer ter sempre razão

O mundo é muito amplo e a realidade é bastante complexa para comportar apenas o seu ponto de vista, sua forma de ver e resolver as coisas. Permita-se enriquecer toda questão com a contribuição de outros olhares, abrindo espaço para uma consciência mais ampliada dos fatos, dos outros e de si mesmo. Um dos significados de inteligência reside na nossa capacidade de identificar o máximo de contextos dentro de uma realidade.

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Perceber as razões do outro, negociar e conciliar são algumas das atitudes que permitiram à humanidade chegar até aqui sem evaporar no meio do caminho.  A sabedoria, invariavelmente, um dia há de nos questionar sobre as batalhas que escolhemos ao longo da vida, lançando-nos numa análise crítica sobre o tempo e a energia que empenhamos versus o resultado que obtivemos. E ela há de esfregar em nossas “fuças” quais dessas batalhas efetivamente valeram a pena, já que boa parte rendeu apenas desequilíbrio, ansiedades de toda ordem, uma vida vivida em estado de paz armada. Com esse questionamento, virá à tona uma das verdades universais, clichês até, mas sempre contundente: afinal você prefere ter paz ou ter razão?

2. Desapegue da obrigação de opinar sobre tudo

Diariamente, milhões de palavras são despejadas furiosamente nas redes sociais. Uma rápida leitura já indica que grande parte carrega apenas uma necessidade doentia de se manifestar, seja qual for o assunto. A obrigação autoimposta de opinar ferrenhamente sobre tudo, especialmente questões que não se conhece em profundidade, queimando tempo, energia e retórica. Recursos que poderiam, por exemplo, serem dirigidos para aquele curso que ficou pela metade, aquele livro que nunca saiu da estante, aquela mensagem de apoio a uma pessoa querida, aquela ligação para alguém que faz tempo que você não vê, mas que é importante em sua vida.

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Se for inevitável opinar, coloque seu ponto de vista desapegado da necessidade de convencer o outro ou desqualificar opiniões contrárias. Cada um sabe a dor e o sabor de ser quem é, de onde veio, a história que traz em si e quais valores o sustentam. Todos aqueles imensos textos deixados em notícias, calculadamente planejadas para melhorar algoritmos de visibilidade nas redes, transforma-se em lixo digital em questão de horas, porém o lixo emocional surge em poucos minutos e impregna a atmosfera durante um bom tempo. Aplique o Triplo Filtro de Sócrates ao receber alguma informação. Antes de responder ou pensar em passa-la adiante, pergunte-se: Isso é verdade? Isso é bom? Isso é útil?

3. Desapegue da ilusão do controle

Se alguém lhe dissesse que nada está sob seu controle, como você se sentiria? Pois bem, eu direi: absolutamente nada está sob seu controle. Os resultados que você obtém não são frutos do seu controle, mas da sua influência sobre determinados recursos. Logo, um bom resultado não quer dizer que você deteve controle, assim como um resultado ruim não implica na sua perda. Afinal, é impossível perder algo que nunca se teve. Os resultados são consequências do como você influencia recursos primários como o seu tempo, sua saúde, seu conhecimento e suas relações. Da boa influência sobre eles, nascem recursos secundários, onde inclui-se o financeiro.

Logo, diante da impermanência da vida, do imponderável, lições dolorosamente aprendidas em tempos de pandemia, percebe-se que o controle não passa de uma pueril ilusão. A vida com sabedoria busca identificar estes recursos para influencia-los positivamente, alcançando resultados que não raro ultrapassam as metas desejadas. Para o espírito imaturo, o sentimento de sucesso que nasce de uma meta atingida cria a falsa ilusão do controle, induzindo-o a dedicar atenção extrema às questões que não temos competência para influenciar. Isso acaba causando profunda sensação de perda ou impotência quando as coisas não saem como planejamos. Desapegue-se da pretensão do controle. Assuma a consciência e exerça uma recorrente e positiva influência sobre seu tempo, sua saúde, seu conhecimento e suas relações.

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4. Desapegue de expectativas irreais

Grande parte das crises nascem de uma expectativa não cumprida ou não atingida. De tempos em tempos a sabedoria popular lembra que a expectativa é a mãe da frustração. Isso não significa que não devemos estabelecer objetivos em todos os palcos da nossa vida, desenhar metas para conquista-los e zelar pela nossa potência de agir para atingi-los, influenciando aqueles recursos que já comentamos. Porém, é preciso lucidez quando o imponderável surge no caminho.

Numa pandemia, por exemplo, que a tudo impacta e a tudo transforma, nasce a possibilidade – um eufemismo para a brutal necessidade – da reinvenção. A reinvenção estimula a criatividade, que por sua vez, implica em estar preparado para errar quantas vezes for necessário, até identificarmos novas métricas. E para errar, é preciso desapegar da expectativa, transformando cada queda – aceite o fato: elas são inevitáveis – em uma queda menos dolorosa.

Quem aceitou mais rápido que as expectativas criadas ao final do ano passado estavam profundamente comprometidas logo ao final do primeiro bimestre deste ano, permitiu-se livrar de um peso descomunal, lidando frontalmente com a realidade e abrindo espaço para a reinvenção. Como bem disse Ariano Suassuna: nem otimista, nem pessimista. O melhor mesmo é ser um realista esperançoso.

5. Desapegue da dependência da aprovação alheia

Sentir-se querido, reconhecido e valorizado são sentimentos saudáveis para qualquer um. Mas quando a dependência emocional da aprovação alheia torna-se excessiva, a nossa autopercepção passa a sofrer uma distorção muito grande. Abdicamos da nossa espontaneidade e da nossa autenticidade, passando a seguir modelos pressupostos de aprovação. Ainda no pacote, matamos a nossa criatividade, nosso poder de opinião e decisão.

O medo da rejeição, a aversão à crítica e o receio de emitir opiniões e não sermos aceitos, criam um enfraquecimento bastante crítico da autoestima. Algo que pode, inclusive, demandar em distúrbios emocionais tais como a Síndrome do Impostor. Ser reconhecido não é algo ruim. A questão torna-se crítica quando dependemos apenas da manifestação alheia para nos sentirmos felizes. E convenhamos: nem sempre ela acontece.

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Não contaram pra você, mas quando passamos a ter clareza do nosso propósito, mais ficamos expostos às críticas. Óbvio que não depender da aprovação alheia não implica no comportamento antiético, de moral e caráter duvidosos. Significa, sim, que devemos ter coragem para decidir, para expressarmos nossas ideias, defender nossos pontos de vista e negociarmos de forma segura sobre questões que nos afetam, aprendendo a dizer não e evitando deixar-se levar apenas pela visão alheia.

6. Desapegue da obrigação de não sentir medo

Você não é super-herói. Você é humano e, como todo humano, está sujeito ao medo e à insegurança. E também à impermanência que, cedo ou tarde, vai lhe brindar com aborrecimentos, revezes, tragédias e, às vezes, tudo isso junto num combo cruel.

O medo é um instinto de autopreservação. Compreendê-lo significa conhecer-se melhor. Quando aceitamos essa ponta visível da nossa vulnerabilidade, somos conduzidos a uma maior tomada de consciência sobre nós mesmos. A autoconsciência – com o mínimo de distorção possível – é o que nos permite empreender movimentos sustentáveis de desenvolvimento, fazendo da vida um exercício contínuo de transformação do conhecimento em sabedoria.

E da sabedoria, em atitudes. Atitudes não apenas para lidarmos melhor com as tristezas, mas também para fruirmos melhor as nossas alegrias. Sentir medo, portanto, é algo saudável, que nos possibilita questionar e assumir a responsabilidade sobre nós mesmos. O medo torna-se problema quando nos deixamos dominar completamente sem compreendê-lo, abraçando o desespero e a paralisia. Ou, ainda, quando num distúrbio de ego, acreditamos que nada pode nos deter, caindo na vala na inconsequência que já enlouqueceu e matou muita gente antes do tempo. Quando o medo bater em sua porta, atenda-o. Convide-o para entrar e converse com ele.

“Apresente-o” também para pessoas em quem confia, que poderão trazer outros olhares e medidas sobre ele, ajudando você a compreender sua real dimensão.

7. Desapegue da ideia de nunca pedir ajuda

Quando estamos bastante machucados por uma crise, não encontrando mais forças para reagir por si próprio, qual a melhor atitude a tomar? Se ao ler a palavra ‘atitude’ você pensou num vôo mitológico de Fênix ou num ato de bravura tipo vestir a cueca por cima da calça e sair voando… é óbvio que a conta não fecha! Pedir ajuda é a atitude que melhor cabe nessa hora. E também é a mais difícil de tomar, pois envolve a flexibilização do próprio ego. Dominar o orgulho, romper o medo quanto ao “que vão pensar de mim”, e dividir a angústia é um dos mais libertadores e terapêuticos exercícios de desapego, pois proporciona fôlego durante a exaustão.

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Falar sobre o que se sente, preferencialmente contando com a ajuda de profissionais da Psicologia ou de grupos de apoio, como o Centro de Valorização da Vida, é um passo valioso na gestão de tempos difíceis, especialmente na recuperação de um estado emocional suficiente para gerir os demais fatores envolvidos. A crise atual afeta a grande maioria e sabemos que isso não é indistintamente. Muitos perdem pouco, outros perdem muito, outros tantos perdem tudo e, tal qual numa guerra silenciosa, há ainda aqueles que tristemente perdem a própria vida. Reconhecer a hora de levantar a mão e pedir ajuda torna-se ato de brio, tanto quanto o ato daquele que, na condição de ajudar, o faz sem intenções posteriores. As grandes rupturas da história sempre obrigaram o homem ao apoio mútuo. Logo, se precisar, peça ajuda. Se não, ajude como puder.

 8. Desapegue de discutir por discutir

Conflitos são parte da natureza humana. Acostume-se a isso. Conduzidos de forma saudável, eles nos permitem colocar pontos de vista de forma assertiva, sem desprezo ao olhar do outro. O conflito respeitoso é produtivo. É negocial. Ele estimula a criatividade, já que a visão de mundo se amplia, permitindo-nos perceber outros caminhos e respostas. O problema é quando o conflito vira confronto, enrijecendo a crista do nosso ego e mantendo-nos em um estado de rinha contínua.

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Pensamentos e sentimentos fritando em óleo quente, o que, invariavelmente, desanda em julgamentos superficiais, discussões infrutíferas e uma queima de energia vital e de tempo que não tem mais volta. Quem nunca entrou numa discussão idiota e que, na falta de argumentação, deixou de estruturar o próprio pensamento e correu para o infantil exercício de desqualificar o outro e sua forma de pensar? Lembra aquele bate-boca num algum comércio qualquer, que lhe esgotou tão rápido que, ali mesmo, você sentiu vergonha e pediu desculpas ao perceber que o problema era bem menor e que havia errado a mão?

Essa vergonha é o sinal que aquilo poderia ter sido conduzido com mais inteligência emocional no campo ético da vida, porém reduziu-se apenas a um confronto de egos alterados. E estes, como você já deve ter percebido, nunca revelam um vencedor, mas apenas trazem à tona o grau de selvageria que habita em nós.

9. Desapegue da necessidade de impressionar

Guarde bem isso: conselho não solicitado não passa de palpite. Especialmente se é dado sem qualquer noção do que o outro vive, dos caminhos que percorreu e das batalhas que enfrenta. O palpite isolado, mesmo que bem-intencionado, revela mais a necessidade de impressionar do que ajudar verdadeiramente. Ele serve para reforçar uma pseudo superioridade, uma suposta melhor condição, nada além da infantil necessidade de chamar a atenção, disfarçada para suavizar as próprias carências.

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Quando essa necessidade se descontrola, nos tornamos caricaturas de nós mesmos, banhando em tinta dourada aquilo que nos incomoda, nos fragiliza. Essa postura se manifesta em muitos momentos. Sabe quando você comenta um lugar que visitou, algo que comprou, uma atividade que iniciou e, sem ao menos assimilar, alguém já dispara em seguida que foi para um lugar melhor, comprou a versão 4.0 ou envolveu-se em uma atividade mais legal? Já imaginou que, por diversos momentos, esse algué pode ser… você? Desapegar dessa necessidade confere leveza. Promove o encontro e cria e relações mais autênticas.

Em tempos de crise – e nos outros também – palpitar à toa sem compreender a realidade sobre a qual se refere ou, pior, tentando fazer passar por empatia a própria carência por “likes”, é algo que apenas nos afasta da serenidade e da sabedoria.

10. Desapegue da ideia que só você está do lado certo

A diversidade humana hoje está na ordem de 7, 6 bilhões de habitantes. Sim, é isso mesmo: cada pessoa à sua volta tem uma origem, uma história, uma forma própria de viver a vida, de agir, reagir e interpretar o mundo, mesmo que ela esteja dentro de um grupo catalogado como homogêneo. Como falamos, isso significa que o conflito de olhares e opiniões sempre vai existir. Quando conduzidos de forma respeitosa, os conflitos abrem possibilidades para, no mínimo, compreendermos pontos de vista diferentes.

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Com isso, evitamos tornar o viver uma experiência polarizada, binária e, no mínimo ampliamos nosso repertório, conhecendo caminhos tão válidos quanto os nossos na equação dos dilemas que surgem durante a jornada. Abrimos a possibilidade do diálogo e da divergência criativa, não destrutiva. Nunca se falou tanto em Criatividade como competência essencial para os novos tempos. E também Flexibilidade, Agilidade, Inteligência Emocional, Pensamento Crítico, Influência Social, entre outras tantas características percebidas nas pessoas que conseguem não apenas lidar melhor com a complexidade das crises, mas que permitem-se crescer com elas.

Pontos de vista endurecidos demais, incapazes de considerar e aproximar outras visões de forma complementar, e não neutralizante, tendem a tornarem-se rapidamente obsoletos.

O terreno onde as visões antagônicas precisa se encontrar de forma respeitosa – e não aniquiladora entre si – tem nome e nunca sai de moda: Ética. É ela quem possibilita que o “certo” de cada lado se pronuncie, busque o cenário negocial ideal. Se ao longo da história a Humanidade não tivesse atingido no mínimo alguma sabedoria – mesmo que à duras penas – para transformar confrontos em conflitos, certamente já teríamos nos destruído completamente ao longo do caminho. Oportunidades para isso, tais como guerras, catástrofes, pandemias, quebras econômicas, ditaduras de todos os matizes, entre outras tantas, nunca faltaram.

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Vale a pena identificar e desapegar de tudo aquilo que, na forma de atitude ou comportamento, intoxica nossas vidas. A nossa paz de espírito, fator crucial em tempos de grandes desafios, agradece esse fôlego.


Eduardo Zugaib – Escritor, consultor e palestrante. Autor dos livros A Revolução do Pouquinho, O fantástico significado da palavra Significado, Humor de Segunda a Sexta e Plano de Trabalho para Toda Vida – www.eduardozugaib.com.br[email protected]

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