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Como o Ayurveda pode ajudar no processo de cura?
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É natural do ser humano buscar melhorar sempre, e hoje muita gente procura o Ayurveda para eliminar desconfortos, apaziguar dor crônica, e tratar doenças graves. Mas quem é o maior responsável pelo processo de cura: o médico, os remédios e intervenções ou a própria ciência da medicina?

Escutar é ouro

“Doutor, o que eu faço?”, deve ser a frase mais comum que um médico escuta. Diagnosticar um paciente é muito mais fácil do que pode parecer. Na grande maioria das vezes você não precisa de máquinas de última geração. A própria pessoa já sabe o que tem e o maior papel do médico é participar e validar o processo de autoconhecimento

A cena é comum: o paciente chega ao consultório, você pergunta no que pode ajudar e ele já diz “sofro de enxaqueca crônica”. Bom, boa parte do diagnóstico já está feito, agora você precisa escutar mais. Em geral, o médico pergunta “você sente essa enxaqueca todos os dias?”. Após refletir, o paciente responde: “não, só quando tomo vinho, doutor”. O médico pondera “bom, então você não toma mais vinho, certo?” e o paciente responde despreocupado “só tomo no final de semana… Mas será que é o vinho, doutor?”.

A carreira do profissional de saúde é, por muitas vezes, um exercício de facilitação do bom-senso. O paciente vem até nós e o que devemos fazer é escutá-lo e facilitar que ele se escute também. E sabe qual é a próxima frase desse paciente em 99% das consultas? Ele suspira e diz “mas você não vai tirar o meu vinho, não, né doutor?”

O chute na parede

O Dr. Michael Greger, grande inspiração nos meus estudos de nutrição moderna, usa uma alegoria muito boa que eu acabei adaptando. Imagine que uma pessoa acorda todos os dias de manhã e a primeira coisa que ela faz é dar um chute na parede. O pé que deu o chute incha e fica muito dolorido. Essa pessoa vai ao médico e mostra o pé, perguntando o que fazer para sanar aquela dor.

O paciente conta o episódio e o médico poderia muito bem simplesmente prescrever um analgésico para tomar antes do chute na parede e um antiinflamatório para depois. Olha que incrível: agora a pessoa não vai mais sentir a dor do chute na parede. Ela pode seguir chutando a parede à vontade. Essa história é exagerada de propósito e pode parecer absurda, mas todos nós temos nosso chute na parede: hábitos que sabemos que nos fazem mal, mas que não abandonamos e tratamos pela raiz. Parece claro aqui que deixar de chutar a parede seria a melhor solução, pois o analgésico não trata a causa verdadeira do problema.

Tá, mas qual erva eu tomo? 

O Ayurveda é uma medicina considerada “alternativa” no Ocidente, o que significa que muitas vezes as pessoas acreditam que existe uma erva, um tempero (na dúvida, deve ser a cúrcuma) ou um óleo que o Ayurveda descobriu que cura todos os males. Quando não dou receitas milagrosas na consulta parece até sonegação de informação ou crueldade mesmo.

A verdade que aprendi com o Ayurveda é que autocura não é um processo apenas ativo. Não é sempre que você deve fazer algo a respeito. Na maioria dos casos, o primeiro passo é deixar de fazer o que deu origem ao problema. Não existe erva do Himalaia e nem terapia indiana para uma pessoa que sente dor de cabeça todas as vezes que toma vinho, por exemplo. O corpo dela já sinalizou que aquela bebida específica não faz bem. Por que tomar um remédio que mascare essa mensagem tão clara? Por que estamos tão apegados aos nossos chutes na parede?

Os quatro pilares da saúde 

Para manter uma saúde boa, é interessante que você observe seus 4 Pilares da saúde: Alimentação, Sono, Movimento e Silêncio. Isso significa se perguntar se você está comendo o que precisa comer, se se movimenta o suficiente, se dorme bem e se tem momentos de silêncio para conseguir reduzir o caos mental.

Quando converso sobre isso, muita gente tenta negociar alguns dos pilares, porque um deles é sempre “impossível de equilibrar”. É impossível comer melhor porque eu trabalho em uma área da cidade que não tem restaurantes bons, ou é impossível dormir mais porque acabou de sair uma série nova incrível que eu preciso assistir. É impossível fazer exercícios físicos enquanto trabalho e faço faculdade, pois não tenho tempo. Sempre existe o impossível. E o impossível, na maioria dos casos, nada mais é do que uma questão de prioridades.

O fato é que saúde você tem ou não tem. Cuidou ou não cuidou. O resultado do que você plantar sempre vem. A maioria das doenças hoje são doenças ligadas ao modo de vida da nossa sociedade. Isso significa que grande parte dos nossos problemas são construídos ao longo de anos de maus hábitos. Um dia a pessoa vai ao médico e recebe um diagnóstico, mas a doença não surgiu ali, ela começou muito antes dos primeiros sintomas aparecerem.

O mais impressionante é que ao longo desse processo de desenvolvimento de qualquer enfermidade, o corpo atua de maneiras incríveis, para eliminar a doença em desenvolvimento. A verdade é que nosso corpo tem ferramentas mais precisas de autocura do que qualquer médico ou farmácia. Deixa eu te contar um exemplo disso: no momento em que alguém pára de fumar, o pulmão já começa a se regenerar. Isso acontece durante toda a vida de fumante: o corpo daquela pessoa estava tentando curar o mal que ela fazia a si mesma e expulsar dos pulmões os químicos tóxicos inalados. Entre um cigarro e outro, seu corpo trabalhava da melhor forma possível para reparar os danos feitos. Isso acontece quando você se corta por acidente, quando come alimentos insalubres, quando dorme mal.

Prioridades

Segundo o Princípio de Pareto, 80% dos problemas vêm de 20% das ações. Em geral, basta cortar uma única coisa, para a sua vida se encaixar melhor. Pode ser o caso de modificar parte da sua rotina, para introduzir uma caminhada até o trabalho ou a faculdade, em vez de pegar ônibus ou dirigir. Pode ser tão simples quanto evitar os restaurantes insalubres perto do escritório, ao contratar um serviço de marmitas saudáveis. Pode ser um relacionamento que faz mal e acaba prejudicando todo o resto. Pode ser um hábito alimentar simples que te deixa com indigestão a tarde inteira. Se pergunte o que você pode estar fazendo que toma muito sua energia ou que gera muitos dos seus problemas.

E tudo fica difícil de fazer quando não é prioridade. Mas quero que você guarde muito bem o que vou dizer agora: se algo machuca você, resolver isso precisa se tornar uma prioridade máxima. A alternativa seria não fazer nada e simplesmente seguir tendo os mesmo resultados e esse caminho a gente já conhece, né?

É a curcuma que vai tirar a sua dor de cabeça? Não. É parar de fazer o que gera a dor. Eu garanto que, quase sempre, a resposta já está com você. É aquela solução que você já tem ou aquele hábito que você já sabe que deveria abandonar. O segredo da autocura não é o que você pode fazer, mas o que precisa parar de fazer. Escolha essa semana um chute na parede para abandonar e sinta a diferença!

Ah, e caso queira se aprofundar nesse tema, eu dei uma palestra sobre Ayurveda e Autocura que está na íntegra no YouTube para você. Fica o convite.


Sou Matheus Macêdo, primeiro brasileiro a se formar em medicina na Índia com especialidade em Ayurveda no curso chamado BAMS (Bachelor in Ayurveda, Medicine and Surgery). Vivi na Índia quase 7 anos e de lá tive a honra de criar o Vida Veda, um empresa social dedicada a divulgar o conhecimento ayurvédico em língua portuguesa.

Nasci no Rio de Janeiro e hoje moro em Guimarães, Portugal, e percorro o mundo dando palestras sobre Ayurveda e medicina integrativa.

Muito obrigado pela leitura e até a próxima semana!

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