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Uma horta para chamar de sua
Markus Spiske | Unsplash
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Trazer um pouco mais de verde para dentro de casa e usar o próprio manjericão para a macarronada de domingo pode ser o que leva muita gente a querer cultivar uma horta. Para isso não é preciso muito espaço, tampouco habilidade. Um beiral de janela pode, por exemplo, receber alguns vasos ou um pequeno canteiro. Sentir o cheiro do alecrim, podar um pé de cebolinha, escolher as folhas de hortelã, e até colher, por que não, morangos saborosos na primavera.

Aqui, vamos mostrar como esse caminho — sem volta, diga-se de passagem — vem repleto de desafios e pode ser também bem recompensador: cultivar algo tão dinâmico quanto os alimentos demanda uma boa dose de paciência e atenção, mas, junto com isso, ajuda a nos reconectar com o tempo da natureza, entre uma poda e outra, e os minutos dedicados a colocar água e observar o crescimento do canteiro. Quem nos guia nisso é a paisagista e jornalista Carol Costa, autora do livro Minhas Plantas (Paralela). Carol acredita que ninguém precisa ter “dedo verde” para adentrar no mundo das plantas; todos podem colocar a mão na terra e aprender a cuidar do próprio jardim — basta ter as informações certas.

E os benefícios vão muito além de ter uma varanda verdinha. “Esse cuidado é transformador em muitos sentidos. Eu mesma era muito mais ansiosa antes de trabalhar com plantas. Porque não adianta: na natureza, é o ritmo dela, não tem chantagem, não tem ‘oi, você pode abrir antes do meu aniversário?’. A gente aprende a respeitar os ciclos, a cuidar, a se planejar”, diz. Na sua pequena horta, a cada dia uma coisa nova acontece, e isso também pode ser bastante saboroso de acompanhar. “É fascinante ver um alimento crescer pelas suas mãos. As crianças adoram; e muitas delas, que nem se- quer comiam verduras e legumes, passam a se encantar pelos alimentos”, ressalta.

Colocar a mão na terra, cuidar, dia após dia, ver crescer e amadurecer costuma ser uma deliciosa experiência, cheia de aprendizados. É voltar a perceber o plantar e o colher como algo possível e próximo da sua vida, a se encantar com o ciclo das coisas ou as estações do ano. E, no meio de tudo isso, olhar até para o seu lixo de um jeito mais gentil, porque ele pode se transformar em adubo. Uma pequena revolução que se inicia com um vasinho. Vamos começar?

Primeiro planeje

A paisagista Carol ensina que  o primeiro passo é pesquisar sobre as plantas que se quer ter em casa: de que tipo de ambiente elas gostam, qual espaço ocupam, quanto de sol precisam, se necessitam de espaços com mais sombra, gostam ou não de vento, quanto tempo levam para dar frutos. “Pode ser divertido descobrir no susto, mas é mais certeiro fazer um microplanejamento do que você quer, aumentando assim as chances de dar certo”, diz. Ao mesmo tempo, é preciso entender que há um microclima diferente em cada canto da casa. “Existem cômodos ensolarados, outros mais úmidos e também aqueles onde o vento faz a curva”, brinca ela. É essencial entender essas sutilezas antes de eleger quais espécies cultivar no seu pequeno espaço.

Muda ou semente

Se esta é a sua primeira aventura de cultivo, uma sugestão é optar por um vaso com a mudinha já nos primeiros estágios de crescimento, mesmo que lhe pareça tentador acompanhar o processo de desenvolvimento desde o início. É que as sementes são mais frágeis e precisam de mais cuidados nas primeiras semanas – se quiser tentar, primeiro semeie em um local protegido e depois passe para o vaso ou canteiro quando a muda já ostentar alguns pares de folhas. A muda crescida é mais resistente e, por isso, mais “forte” para iniciantes. Isso significa que a sua horta pode durar menos, porque a muda tem um ciclo menor de vida – enquanto a semente é bebê, a muda já é uma adolescente. Mas, mesmo assim, vai ser um início bem animador.

Escolha o melhor lugar

Não condene as plantinhas apenas ao parapeito da janela da cozinha se ali não houver nada de sol. Carol explica que a vegetação precisa de iluminação. “Hortaliças, por exemplo, pedem quatro horas de sol. E é sol mesmo, e não uma leve claridade”, diz. Assim, analise onde a incidência solar é melhor e instale ali o seu canteiro ou seus vasinhos. Veja em que lugar também dá para fazer sujeira sem culpa. Pode ser na lavanderia, na sacada, no quintal… Ah, e os vasos podem ficar, no máximo, a 3 metros de distância da luz natural. Se não bate nada de sol nas suas bandas, não é motivo para ficar sem sua horta; apenas o ciclo de vida será mais curto. Escolha as mudinhas maiores e as colha num período menor. Em geral, elas duram cerca de 15 dias.

O jardineiro fiel

Já pensou quem vai cuidar das plantas? Seu companheiro, seus pais, um empregado, os amigos da república? Carol aconselha que, se estiver no começo, o melhor é que você mesmo seja o Jardineiro Oficial. E mantenha um número de vasos de que consiga dar conta. “Quanto mais gente envolvida, mais confusão: além de ficar de olho nas plantas, vai ser preciso acompanhar as trocas de informações entre as pessoas. A praga que um viu e esqueceu de avisar pode se espalhar… E há sempre o risco de um achar que o outro não regou direito e daí encharcar demais a planta. Mas não desanime; logo, logo, você vai poder ‘terceirizar’ a manutenção”, ensina. Além disso, essa dedicação no início pode fazer nascer uma habilidade que, até então, você desconhecia.

A rega de ouro

Não se prenda a fórmulas como “regue três vezes por semana”, porque existem variáveis que vão interferir nesse quesito – se a planta está dentro ou fora de casa… “É mais importante entender a lógica da rega, porque assim você assume o poder sobre a horta. Então, se você coloca a mão na superfície da terra e ela está úmida, é porque tem água. Se a planta é de ambiente úmido, vai precisar ter essa superfície ligeiramente úmida sempre”, observa Carol. As dicas são: toque a terra com o dedo; se estiver seca, regue, se estiver úmida, não. Coloque água até sair pelos furos do vaso. “É melhor molhar poucas vezes na semana do que um tico por dia. E molhe de manhã ou no final da tarde. Isso economiza água, evita pragas e favorece o desenvolvimento.”

Alimente sua comida

Quer se  surpreender  com o tamanho e a beleza de frutas, verduras e legumes que você está plantando mesmo num pequeno espaço em casa? O segredo, Carol conta, é adubar suas plantas. Os adubos podem ser minerais ou orgânicos. Os princípios são: 1. Não misturar adubos, mesmo orgânicos. Em excesso, podem matar a 2. Alterne o uso ao longo dos meses. Por exemplo: um tempo de bokashi, depois húmus de minhoca. 3. Quanto mais variada a adubação, mais saudável ela vai crescer e mais resistente vai se tornar a pragas. 4. Adube sempre depois de regar, porque na terra seca o adubo não é absorvido. Dilua ou aplique os adubos conforme a indicação da embalagem. “Ou ao menos uma vez por mês”, diz Carol.


cultivar temperos

Seus temperos à mão
Estas ervas frescas trazem mais sabor aos seus pratos e podem ser um bom jeito de começar a cultivar a sua horta. Podem ficar em vasinhos e gostam de sol forte.

ALECRIM

Suas folhas são finas, pequenas e com um verniz que protege contra ventos fortes. Algumas espécies chegam a 2 metros de altura, enquanto outras precisam de pequenos espaços. Plante em partes iguais de areia e substrato: assim, a umidade não incomoda as raízes.

HORTELÃ

Espaçosa, essa planta precisa de um vaso próprio; se plantar com outras ervas, em poucos meses só ela vai restar no canteiro. Deixe-a sozinha em um cantinho levemente sombreado.

LAVANDA

Não é muito fã de umidade: se o solo estiver molhado e ela continuar murcha, não regue. Ela cresce melhor em cidades serranas.

MANJERICÃO

Existem 60 variedades do queridinho das hortas; todas elas crescem bem com sol forte e solo úmido. Faça a poda regularmente para a planta se desenvolver e ficar mais cheia e colha antes de florescer.

ORÉGANO

Você vai perceber como a folha fresca tem um perfume muito diferente da erva seca do supermercado. Plante em local de sol bem forte e regue sempre que o substrato secar.

TOMILHO

Essa erva saborosa pode durar bastante, especialmente se ficar em um cantinho bem ensolarado e ventilado da casa. Só não exagere nas regas. A dica de ouro, lembre, é sempre sentir a umidade da terra.

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