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Novembro Azul: conscientização e combate ao câncer de próstata
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Há algumas décadas, ser diagnosticado com câncer era um considerado um caminho sem volta. As pessoas tinham medo, não havia tanto acesso a informações sobre a doença e frequentemente acreditavam-se em boatos ou desinformações. Além de pouco conhecida, a doença era sistematicamente associada a um castigo ou a qualquer outra relação que gerava culpa.

Hoje, apesar de haver ainda tabus relacionados ao câncer – especialmente ao câncer de próstata – há mais campanhas de conscientização, divulgação de informações e tratamentos mais avançados que combatem a doença com maior eficácia.

Iniciativas como o Novembro Azul, que dedicam o mês inteiro ao debate sobre essas questões, são importantes para desmontar alguns mitos, incentivar a prevenção, esclarecer sobre os sintomas mais recorrentes e fazer com que cada vez mais homens passem a realizar os testes com frequência.

Embora o medo e o preconceito gerem uma certa resistência a adotar essas práticas, a mentalidade de muitos homens vêm se modificando e criando um ambiente mais seguro para conversar sobre o câncer de próstata.

Prevenção e sintomas

Ronaldo Menezes, 58, é um personagem fora da curva quando o assunto é câncer de próstata, isso porque os tabus em torno do assunto nunca o afetaram ou, pelo menos, nunca o impediram de se cuidar. Morador do estado da Bahia, além de praticar atividade física regular, sempre fez consultas frequentes com profissionais da urologia desde que chegou aos 42 anos, idade média indicada para que se tenha uma maior atenção com a próstata.

Em um dos intervalos de um exame para o outro, Ronaldo decidiu realizar uma cirurgia, embora o médico na época tenha solicitado novas avaliações para sua sáude. Foi nesse momento em que um pequeno nódulo foi identificado na próstata, mas, por ser recente, a cirurgia de remoção foi o único procedimento necessário, sendo dispensada a quimioterapia, radioterapia ou outras formas de tratamento, já que a chance de metástase – a possibilidade de surgimento de tumores em outras regiões do corpo – era mínima.

A prevenção é, portanto, um dos pilares fundamentais para que se evite o aparecimento de um câncer e possibilite o diagnóstico precoce. Mas como começar essa prevenção? Para a médica Pamela Carvalho Muniz, é necessário levar alguns aspectos em consideração, como os fatores de risco. “O primeiro é a idade, quanto mais velho o indivíduo maior o risco de diagnosticar um câncer de próstata, principalmente em torno dos 60 anos; outro fator é o histórico familiar – aqueles homens que têm de primeiro grau (o pai e o irmão), que tiveram câncer de próstata antes dos 60 anos possuem maior risco de diagnosticar a doença”, explica a oncologista.

Outras situações podem favorecer o surgimento de um câncer de próstata, como a obesidade e uma maior presença de gordura no corpo. Para prevenir a doença, ações mais simples ao longo da vida dão conta de reduzir as possibilidades de um diagnóstico positivo, como explica o médico Fernando Maluf, do Instituto Vencer o Câncer. “Uma dieta saudável, evitando o sedentarismo e a obesidade, não fumando e não consumindo álcool em excesso. E, a partir dos 50 anos ou conforme orientação médica, os exames de dosagem de PSA e toque retal devem ser realizados anualmente”, explica o profissional.

A prevenção é fundamental neste tipo de câncer porque a doença pode ser assintomática ou silenciosa, surgindo sintomas mais fortes em casos mais avançados e com dificuldade de reversão do quadro. Ainda assim, Pamela Muniz explica que é mais comum a “presença de diminuição do jato urinário, dificuldade para urinar, sangue na urina, ir muitas vezes ao banheiro para urinar durante à noite, demora para iniciar o jato urinário e ainda alguns sintomas relacionados ao avançar da doença como emagrecimento não intencional e dor óssea“, afirma.

Cuidados necessáros

O câncer de próstata é um dos mais recorrentes no Brasil em homens, quando são excluídos os tumores de pele não melanoma. A porcentagem dos casos é de 28,6%, segundo os levantamentos mais recentes, mas ainda assim há uma certa resistência da população masculina em se sensibilizar pela pauta e buscar formas de prevenção ou diagnosticar precocemente.

“Precisamos falar cada vez mais sobre a doença, porque no seu estágio inicial, ela pode não apresentar sintomas, atrasando a busca por ajuda médica e consequentemente retardando o diagnóstico”, explica Pamela Muniz.

Segundo a médica, em fases iniciais, há cerca de 90% de chance de cura dos tumores, por isso o incentivo em procurar urologistas o quanto antes.

Além disso, Fernando Maluf enfatiza a importância da realização de exames de rotina e iniciar o rastreamente o mais cedo se houver casos na família de homens que já foram diagnosticados com a doença. “Este é um câncer relativamente comum e descobrir a doença no início faz toda a diferença sobre o tipo de tratamento“, afirma.

Na população negra, as chances de um diagnóstico positivo é maior e costuma aparecer mais cedo, como foi o caso de Ronaldo Menezes, embora tenha identificado o tumor no início e passado por uma cirurgia assim que diagnosticado.

Apoio psicológico

Lidar psicologicamente com um diagnóstico desse tipo pode não ser tão fácil. Há emoções e sentimentos que vão surgindo ao longo do tratamento e da convivência com o câncer, que, querendo ou não, acaba alterando a sua rotina e passa a ser presente na sua vida. Mas, como fazer para que esse processo seja o mais equilibrado possível com nossa saúde mental?

Ronaldo não sabia que iria se deparar com um câncer de próstata. Seu objetivo era realizar uma vasectomia e, por isso, precisou fazer todos os exames de rotina novamente. Foi aí que encontrou um pequeno tumor alojado na próstata. No início foi difícil processar tudo, entender que seus planos teriam que mudar e que, a partir dali, deveria iniciar um tratamento mais focado em combater a doença. No caminho do hospital para casa junto com a esposa, a ação que ele teve foi a de chorar. “Por que você está chorando? [questiounou a companheira]. E eu respondi, não sei”, conta ele sobre o diálogo.

Tudo que está ligado a órgãos, especialmente com conotação sexual,  mexe com o emocional e as pessoas precisam ter com quem conversar, por isso é tão importante o apoio psicológico“, explica Mariangela Blois, psicóloga oncológica que atua no atendimento de pacientes com câncer. Segundo ela, são várias questões que surgem nos homens, principalmente relacionadas a como o corpo será afetado pela doença, como “medo de morrer, medo de perder a função erétil, de não ter mais uma vida amorosa, medo de incontinência urinária“, explica a terapeuta.

Além de um apoio profissional, é fundamental e importante a presença dos familiares, como foi o apoio recebido por Ronaldo durante o tratamento e diagnóstico, não só da esposa, mas também de outros parentes. “Por isso que a gente trabalha não só com o paciente, mas às vezes com a família”, defende Mariangela. 

Ronaldo lembra o quanto o machismo e os estereótipos afetam a saúde do homem e interferem em maiores chances de cura, como, por exemplo, evitar realizar o exame de toque por preconceito ou passar por um tratamento com muito sofrimento mental.

Mariangela explica que muito disso está relacionado ao fato que os homens não querem sequer imaginar que terão problemas nessa região. “O homem não cuida dessa área porque não quer descobrir nada“, enfatiza. 

Recentemente, a psicóloga publicou o livro Câncer sem papas na língua (Matrix), um chamado à comunicação afetuosa e à relação saudável entre pacientes e médicos, de forma que as informações sejam claras e contemplem as necessidades de cada um. “O médico vai cuidar da área dele, então ele vai informar o paciente de uma forma que ele não consegue compreender direito, por isso é importante a presença de um profissional de saúde mental neste momento“, conta. 

Os profissionais da medicina acabam não tendo formação para uma escuta qualificada, como no caso dos de especialistas em saúde mental, por isso a importância de psicólogos em hospitais oncológicos e outras unidades, que possam ouvir e processar, junto com o paciente, tudo que está acontecendo. “A gente tem que escutar tudo, porque cada pessoa tem o seu universo e seus medos particulares“, finaliza Mariangela, porque assim se consegue evitar casos de ansiedade, depressão ou ideações suicidas.

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Tabus

Apesar dos avanços na divulgação de conteúdos informativos e em campanhas como o Novembro Azul, que buscam conscientizar sobre doenças que acometem nós, seres humanos, há ainda desinformações e conteúdos que assustam ou até mesmo afastam as pessoas de compreenderem de forma mais adequada e qualificada um diagnótico.

“É muito importante que cada vez mais se fale sobre câncer. É claro que o diagnóstico de um tumor maligno assusta, mas é preciso dizer que é possível curar. E o diagnóstico precoce é o grande aliado da cura. Quanto mais inicial for o tumor, maiores são as chances de comemorarmos a cura”, comenta a médica Pamela Muniz.

Fernando Maluf lembra ainda que há casos e localidades nos quais os profissionais de urologia ou oncologia não são acessíveis, como nas pequenas cidades do interior ou regiões periféricas das grandes cidades com baixa cobertura do sistema de saúde, o que pode retardar a descoberta de um diagnóstico precoce. “De qualquer forma, o exame de toque é rápido e indolor. O exame de sangue para checar o PSA também é simples e os dois se complementam”, defende.

No tratamento de Ronaldo, ele lembra o quão importante foram as suas visitas rotineiras ao urologista e a identificação precoce do tumor, que rapidamente foi removido via cururgia e impediu com que o estado de saúde se agravasse. Diferente disso, postergar um diagnóstico implica em dar chances para que o câncer evolua e possa tomar maiores proporções.

Se conseguirmos durante o mês de novembro falar nas televisões, jornais, revistas, mídias sociais, rodas de amigos, estabelecimentos de saúde sobre SAÚDE e mais especificamente saúde masculina, aumenta-se a chance disso se tornar um hábito, que é o que tanto queremos”, conclui Pamela Muniz.

Políticas públicas

Combater o câncer de próstata, além das outras incidências, é fundamental para reduzir o número de casos e mortes relacionadas, não só com informação, mas também com investimentos e incentivos públicos. “A promoção de saúde deve ser pauta prioritária no desenho de políticas públicas que garantam primeiramente o acesso da população a consultas e a exames em tempo hábil para garantir diagnóstico precoce”, justifica Pamela Muniz ao defendir uma maior integração entre a comunidade civil, médica e as políticas governamentais.

A médica também lembra a importância da educação nesse processo, que pode criar uma cultura de maior cuidado, atenção ao corpo e preocupação com as práticas preventivas e atividades que reduzam o surgimento de determinadas doenças. “Se nossas crianças forem formadas com o pensamento de que saúde é prioridade, de que atividade física e alimentação saudável previnem câncer, que vacinação é fundamental, evitaremos doenças e diagnosticaremos de forma cada vez mais precoce grande parte dos tumores, aumentando assim as chances de cura“, conclui.

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