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Não há controle
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Pode ser um alívio descobrir que a vida não depende só de nossos meticulosos planos e desejos

A irmã do meu pai era incapaz de matar um mosquito. Tinha pavor de incomodar quem quer que fosse. Até o controle remoto ela deixava quietinho em cima da TV e, acredite, levantava-se do sofá a cada vez que ia fazer uso do aparelhinho – que rapidamente devolvia ao seu lugar como quem pede desculpas pelo incômodo. Sua etiqueta a impedia de deter algo ou alguém que não fosse ela mesma.

Discreta, minha tia fazia o diabo para permanecer invisível. Um acidente vascular cerebral tratou de provar que até o autocontrole tem um quê de utopia. A doença foi coerente com seu estilo de vida: foram mais de 30 anos desde a primeira crise até a sua partida. Minha tia foi deixando o mundo suavemente, para que aos poucos nos habituássemos à sua falta.

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Minha ilusão de poder controlar as coisas se manifestava em meus armários rigorosamente organizados. Decerto, era a minha forma de tentar domar os fatos. Quando meu pai disse que na vida era preciso ter um salário fixo, cavei um emprego ainda na faculdade e segui trocando de empregador, crescendo nos limites do possível. Era como estar numa gaiola aberta, apegada ao prato de alpiste. Mas, o maior perigo era a falsa sensação de segurança.

Está vindo aí…

Aos 40, aprendi que o incerto pode ser estímulo para ir mais longe. A rotina tem lá o seu valor, mas o frio na barriga revigora. A vida de autônoma é uma batalha por dia, como arrumar um emprego hoje e ter de encontrar outro amanhã. Mas a sensação de estabilidade da carteira assinada costuma engessar, até escorrer por entre os dedos em um telefonema do RH.

Então, foi um alívio descobrir que a vida não está sob o meu controle e que algumas coisas simplesmente não dependem de mim. Viver é verbo perigoso e deliciosamente incontrolável: só nos resta atuar sobre nossa forma de reagir a cada fato.

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Para os que insistem em não aprender, a vida repete a lição com igual teimosia. Como na história do casal que uma amiga conheceu. Comemoravam emocionados a gravidez viabilizada por uma barriga de aluguel. “Nosso filho não terá problemas degenerativos”, disseram, orgulhosos. A encomenda do embrião foi meticulosa. O dinheiro é bom nessas coisas e tudo parece estar correndo de acordo com o previsto, exceto por um detalhe: eles teriam pedido um menino. Vem aí a pequena Lua, com a missão de ser o Sol de suas vidas.

Cris Guerra acaba de lançar seu sexto título, Escrever uma Árvore, Plantar um Livro, e roda o país levando novos olhares sobre a vida. @eucrisguerra

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

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