COMPARTILHE
Como mudar um hábito?
Siga-nos no Seguir no Google News

Deixar de praticar ações que costumeiramente fazemos não é fácil e não basta querer. É preciso autoconhecimento e planejamento

Todos os dias, desde a hora que acordamos até hora em que vamos dormir, tomamos decisões. Em algumas ocasiões, elas são grandes. Mas na maior parte das vezes são corriqueiras – o que vestir, o que comer, se vai se exercitar ou não… A repetição das pequenas decisões é que determinará nossa felicidade e sucesso no que almejamos. Só que, como tudo que é rotineiro, há o risco de deixar de ser uma decisão e virar um compilado de ações impulsivas e automáticas. Essas ações são o que chamamos de hábito. 

Um hábito é construído dia a dia e ele acontece por influência de diversos fatores, como nossa história de vida ou o meio que nos cerca. Por si só, um pequeno hábito não significa muito, mas a soma impacta diretamente em quem você se tornará. 

Mudar um hábito não é fácil e não basta querer, como muita gente prega por aí. É preciso um olhar generoso e cuidadoso sobre si mesmo e, a partir daí, traçar estratégias que facilitem novas ações, como nos conta Desirée Cassado, psicóloga, mestre em psicologia experimental pela USP e professora de The School of Life. 

Quando um hábito é benéfico ou nos atrapalha? 

Nós temos hábitos que são positivos e essenciais, como escovar os dentes ou ter horário para dormir, por exemplo. A gente chama de hábito também os comportamentos automáticos, que a gente faz quase sem precisar pensar. E nós só fazemos dessa forma, porque um dia pensamos neles. Por exemplo: imagina quando você entrou em um carro para dirigir, é provável que você tenha elencado todas as suas atitudes. Depois de um tempo, você não pensa mais, apenas dirige. Você nem sabe como chegou àquele lugar. O que se sabe é que, ações que são repetidas constantemente, depois de um tempo, não precisam mais de nossa atenção para que se repitam. É quando dizemos que um hábito foi cristalizado. Mas nem tudo que vira hábito é bom – fumar, comer exageradamente, por exemplo. O que define se um hábito será bom ou não são os efeitos a longo prazo. A nossa mente funciona basicamente para obter alívio e prazer – por isso, a gente sente muito prazer imediato ao realizar algumas ações que a médio e longo prazo nos trazem prejuízo. O problema é que nossa mente não foi feita para pensarmos a longo prazo, nós somos muito mais sensíveis a efeitos imediatos. Se der prazer, é capaz que repitamos.

Isso explica a dificuldade em nos engajarmos em atividades que nos tragam benefícios a longo prazo?

Sim, um hábito que nos faz bem com o passar do tempo muitas vezes exige a renúncia do prazer imediato. Praticar atividade física, por exemplo, significa abrir mão por um tempo de não ficar deitado no sofá relaxando ou deixar o celular de lado. É bastante difícil engajar em algo que não é tão prazeroso de cara, mas é importante para nós no futuro. Por isso mudar um hábito é complicado: é preciso transformar o ambiente externo, já que algumas situações provocam mais nosso hábito. Uma situação para exemplificar: quem mantém guloseimas em casa, em armários mais altos, têm mais chance de evitar comê-las constantemente do que quem as mantém ao alcance do braço e no campo de visão. Os hábitos são sensíveis ao contexto e temos a chance de transformá-los quando mudamos o cenário. 

Como mudar de hábito em um cenário de crise? 

Períodos de crise, como o que vivemos nos últimos meses, são uma janela de oportunidade para mudança. Quando passamos por algo que rompe com a nossa rotina (quando nasce uma criança, quando a gente se casa, quando a gente se separa, quando nos mudamos de casa) implica na quebra de uma rotina pré-estabelecida. E nesse contexto surge um espaço de oportunidade para incluir novos hábitos – eles podem ser para nosso bem a longo prazo ou para prazer imediato.

Muita gente diz: “para mudar algo, basta querer”. É isso mesmo?

Essa é uma das maiores mentiras que nos foram contadas. A gente acreditou que a motivação é o aspecto mais importante para a mudança. Mas eu queria contar para você que a motivação não tem nada a ver com a mudança, ela não ajuda a mudar, porque a motivação é um sentimento e, como qualquer sentimento, ela é fluida, instável, hora está conosco, hora não está… Ela precisa ser substituída pelo compromisso, pela disciplina. Querer uma mudança pode nos mobilizar para pensar em estratégias de mudar, mas não vai ajudar se depender disso para construir algo. Mudança precisa de programação, alteração no ambiente, precisa de ajuda, precisa ter um grau de autoconhecimento para, por exemplo, se antecipar ao autoboicote.

Querer não basta. Mudar é tão difícil, que a gente precisa ter muita clareza do porque estamos mudando, porque vai dar vontade de desistir. Qual o valor está por trás da mudança desejada? Quem você quer ser? Que vida quer ter? Quando pensamos em mudança as pessoas vêm com muitas ambições e todas elas vão caindo por terra, porque é difícil transformar. Então, se você fosse mudar de forma significativa, escolher uma batalha, o que seria? O que traria você mais pra perto da vida que vale a pena ser vivida? 


Você também está a fim de mudar algo que não te faz bem e precisa de ajuda? Entre os dias 10 e 11 de março, Desirée Cassado estará à frente do workshop Como Mudar um Hábito, que acontece on-line na 

The School of Life. Para saber mais sobre a programação e valores, acesse: https://www.theschooloflife.com/saopaulo/eventos/aula-especial/online-como-mudar-um-habito/

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

Vida Simples transforma vidas há 20 anos. Queremos te acompanhar na sua jornada de autoconhecimento e evolução.

Assine agora e junte-se à nossa comunidade.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário