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Como alterar a rota
Daniil Silantev
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Neste artigo:

A conta não fecha, os preços aumentam e as dificuldades também. Mas, apesar do cenário cheio de nuvens cinza, tem gente, veja só, que segue sem reclamar, não por conformismo, mas porque, para essas pessoas, o caminho é próspero, apesar dos tempos de crise. Prosperidade, de acordo com o dicionário, tem relação com felicidade, bonança, fartura, sucesso. São palavras aparentemente soltas, mas que já indicam caminhos para onde seguir quando o coração aperta e a falta de perspectiva aumenta. 

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Foi nessa trilha do que é, afinal, essa tal prosperidade que conversamos com especialistas e pessoas que estão olhando para o tempo de hoje com mais esperança e menos amargura. Para alguns pode até parecer uma visão otimista demais, mas, você verá, estamos falando de um período de transformação. Uma dica: sucesso não tem a ver com acumular, mas com fazer aquilo de que se gosta e que dá sentido à vida

Mas o que é ser próspero? A resposta pode parecer óbvia, mas não é. Pelo menos se estamos falando sobre os tempos atuais, em que tantos valores estão ganhando um novo significado. Rosa Alegria, mestre em estudos do futuro pela Universidade de Houston e fundadora do Núcleo de Estudos do Futuro, na PUC-SP, explica que até o século passado o conceito de ser próspero era quase que em totalidade relacionado a ter dinheiro e acumular riquezas materiais. Isso tem muita relação com as duas Grandes Guerras que vivemos e que impuseram a necessidade do crescimento econômico no pós-conflito. “E então houve uma aceleração econômica pautada pelo modelo norte-americano, uma vez que foram vitoriosos na guerra. E prosperidade passou a ser sinônimo de acúmulo. Não havia um contentamento apenas de crescimento, mas de ter bens materiais. Contudo está por terra esse ideal da prosperidade. Até porque, se a gente não mudar isso, esse acúmulo terá um fim junto com a destruição do planeta. É importante que a prosperidade seja requalificada, definida”, analisa Rosa Alegria

A prosperidade de hoje seria, portanto, algo mais amplo e que não se restringe apenas aos ganhos econômicos. Os pesquisadores falam em três dimensões: interior, exterior e coletiva. “Esse novo modelo integra várias faces da vida, como, por exemplo, a minha relação com o ambiente ao redor e de forma saudável, e a relação com minha mente. Não posso me considerar próspera se não tenho mente saudável, se não me sinto realmente feliz. Ser próspero é também ser exponencialmente colaborativo. Quanto mais você colabora, quanto mais distribui, mais você gera riqueza. Pois prosperidade não cabe mais em um mundo de acumular dinheiro e deixar as pessoas presas dentro de um castelo de concreto, fugindo de sequestros”, ressalta a especialista. 

Alcançar isso, contudo, exige certo empenho. É preciso, entre outras coisas, amadurecimento emocional, passando pela autoconfiança e por saber ouvir a própria intuição. Se conhecer torna-se primordial, além de reavaliar, com alguma frequência, as suas escolhas, para entender, por exemplo, se você faz algo porque gosta ou porque se deixou levar por outros fatores. Tem gente que toma a decisão sobre o que fazer da vida influenciada pela opinião da família – e não por suas vontades; outros fazem isso cedo demais, sem a maturidade que a escolha pede. E há de se ter com clareza quais são seus objetivos de vida. Mas talvez o principal mesmo seja ter certeza sobre qual é o seu propósito de vida. Assunto tão falado nos dias de hoje, a consciência do nosso papel no mundo e a realização plena de nossas escolhas implica ser próspero. Acontece que, em meio a tantas possibilidades tecnológicas interessantes e opções de entretenimento, nem sempre é fácil a afirmação de nosso propósito. “Com essa distração toda de hoje”, opina a bióloga e terapeuta holística Monica Louvison, “nos distanciamos de nossa essência, de nossa natureza. E cada vez temos menos tempo, que parece estar curto para tudo. O relógio corre as 24 horas, mas é como se a gente tivesse apenas dez delas por dia. E, com isso, a pressão aumenta e a ansiedade também”. 

Na contramão desse cenário é que precisaríamos, na opinião de Monica, nos conectar a diversas práticas que nos levem para nós mesmos, como a meditação, o reiki, a acupuntura. Mas a receita mágica que todos buscamos dá um bocado de trabalho para colocar em prática. É preciso paciência, resiliência e aceitar, não poucas vezes, dar uns passos para trás. Para a terapeuta, aliás, ser próspero é ter tudo do que se necessita sem esforço, com divertimento e prazer. É ver a satisfação no que você faz. “Além disso, o mesmo prazer tem que estar nas outras esferas da vida nas quais se está envolvido, principalmente ter equilíbrio e sensatez com o cônjuge, filhos, parentes, o servir, e nas áreas social, de saúde, financeira, profissional, intelectual, emocional e espiritual.” 

Contudo está por terra esse ideal da prosperidade. Até porque, se a gente não mudar isso, esse acúmulo terá um fim junto com a destruição do planeta. É importante que a prosperidade seja requalificada, definida”, analisa Rosa Alegria

Xô, crise! 

Quem encarou o desafio de mergulhar em si mesma foi a artista plástica paulista Andressa Moraes, cuja história ilustra muito bem o tema desta reportagem. Aos sábados e domingos, ela é mais uma das artistas que montam uma pequena banca móvel nas calçadas da Avenida Paulista, em São Paulo, para oferecer suas criações, dividindo espaço com aqueles que oferecem artesanato, roupas de novos estilistas e comidas. Arquiteta de formação, até o ano de 2013, Andressa trabalhava em um escritório da área que estudou. Tinha boa posição profissional, horário para entrar e sair e era querida pelo chefe. Ela só não era feliz consigo mesma. Sentindo-se agoniada com o formato de trabalho e acreditando que faltava algo dentro de si, tomou coragem e fez um acordo para sair do antigo emprego. Vivendo na época em um apartamento que pertencia à mãe e aceitando uma rotina com dinheiro bem restrito, ela partiu internamente em busca de se conhecer. 

Nessa época começou a se dedicar a fazer pinturas em aquarela como passatempo e a postar o resultado no seu perfil do Instagram. Não demorou para conhecidos fazerem os primeiros elogios e mostrarem a Andressa o valor que sua arte tinha, no qual nem ela acreditava. A ideia foi amadurecendo e em 2015 ela tomou um novo impulso: ir para a rua vender suas obras. “No primeiro dia eu sabia que ia dar certo, porque voltei sem desenho nenhum para casa. Consegui ver que as pessoas valorizavam aquilo e que era mentira aquela coisa de que ninguém gosta de arte no Brasil, de que não dá dinheiro. Arte no Brasil é legal, sim. As pessoas olham, se interessam, se identificam e compram. Fui acreditando e ganhado confiança em meu trabalho à medida que percebi que as pessoas também sentiam algo diante das minhas telas, que meu trabalho poderia expressar emoções. E me tornei mais confiante sobre as minhas escolhas”, conclui. Para ela, ser próspero é “sentir com o coração e transmitir essa energia amorosa para o outro. É poder fazer o que se gosta e o outro se alegrar com o seu trabalho”. 

Talvez isso explique como a artista não sentiu a crise que fez tantos danos ao país nos últimos anos. Com sua banquinha, como a chama carinhosamente, sempre cheia, a criadora angariou amigos que a conheceram ali, começou a participar de feiras de arte, acaba de montar sociedade em uma pequena galeria para comercializar suas obras e fechou contrato para fazer desenhos para uma marca internacional de cosméticos – após uma pessoa que trabalha nessa empresa ter sido mais uma dessas que, quase sem querer, se depararam com seu trabalho exposto na banca de rua. “Me considero muito próspera, porque tenho alegria no meu dia a dia. Claro que há rotina, que às vezes é complicado, difícil, cansativo, mas há bem-estar de fazer o que faço; é gostoso desenhar, poder amar as pessoas através do desenho. Servir o outro com esse tipo de amor é estar em outro estágio de consciência, é atingir o outro por meio de seu propósito de vida”, afirma. 

O exemplo da artista Andressa vai ao encontro do que a terapeuta Monica Louvison costuma dizer. Na opinião dela, não é a maior parte dos homens e mulheres que consegue, mas muita gente cria oportunidades em meio a uma crise financeira generalizada. Tudo a seu ver estaria relacionado à chamada lei de dar e receber. “No geral, se você vive dando algo às pessoas, não necessariamente dinheiro, em algum momento aquilo vai retornar. Tudo que é feito com amor genuíno e prazer retorna sempre”, afirma Monica. 

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Em um período conturbado como este e cujo fim não será tão instantâneo, faz bem aproveitarmos a situação para os ajustes que são necessários em nossa vida. Questionar o sentido das coisas nunca se fez tão necessário. É fundamental pensar sobre o que consideramos riqueza e aquilo de que verdadeiramente necessitamos. Ganhamos para sermos felizes ou para sermos reféns? E qual é o real valor do dinheiro? A futurista Rosa Alegria recorda que o mundo como um todo vem passando por uma crescente desmonetização do sistema econômico. Ou seja, serviços que antes custavam muito caro, como falar ao telefone – para tomar um exemplo simples do dia a dia –, se tornaram baratos ou até gratuitos em determinados casos. Basta ver a quantidade de aplicativos pelos quais as pessoas trocam milhões de mensagens de texto e áudio todos os dias. E mesmo o custo com a alimentação, que pesa no bolso do brasileiro, pode ser reduzido atualmente por meio das muitas iniciativas e possibilidades de ter uma horta dentro de um apartamento, por menor que seja a metragem. Neste último caso, o investimento é baixo, mas necessita de vontade e organização. 

É Rosa também quem salienta que “a crise é a condição para entrarmos numa nova era”. Assim como ela, muitos outros estudiosos acreditam que estamos saindo de uma fase para ingressar em outra. Nesse momento estariam a coexistir a ruptura de algo e o limiar de outro algo. Basta se atentar à história do mundo para perceber que as transformações de eras sempre se deram irremediavelmente em meio a grandes solavancos. “É um dos momentos mais importantes da humanidade. Estamos saindo de uma condição de separação de máquina e ser humano, hierarquizados, comandados, para um momento de interdependência. Nós hoje com a internet estamos criando uma vida em rede, e não há crise que supere a força de uma rede”, garante a futurista, que completa: “Temos de olhar positivamente para a crise, porque em toda a história ela sempre foi o compasso de um novo tempo, reflexo do encontro do mundo velho que está morrendo e o novo mundo do interlúdio, entre uma coisa e outra, como descreveu o filósofo [Zygmunt] Bauman. Vamos ver um novo mundo nascer”. 

Evidentemente, como o compasso das mudanças não é tão rápido como desejaríamos que fosse, tudo continua meio nublado, turvo, dificultando que enxerguemos com clareza determinadas coisas. Infelizmente também, em meio a esse panorama, outros tantos episódios ruins continuam a acontecer, exigindo de nós cuidado e atenção. “Isso de altos e baixos existe sempre. Só que há um porquê para tudo, que não compreendemos”, aponta Monica, complementando a ideia de Rosa Alegria. “Talvez a crise de hoje seja o nosso bem-estar de amanhã, se aprendermos algo com ela. E até nossa política poderá ser honesta num futuro próximo! Quando todos ganham juntos é bom para todos e há prosperidade para todos. Oportunidades onde só um ganha não têm futuro”, comenta.

A terapeuta atenta, ainda, para os micro momentos do cotidiano, aqueles que, se bobearmos, não vemos acontecer ou não damos a importância devida – e que nos ajudam a compor um cenário de abundância e pouco contabilizado por nós. Vale incluir nisso a prosperidade que é assistir a um pôr do sol, por exemplo, e que sem valor monetário algum contribui para o nosso enriquecimento; observar a beleza da água que vem com a chuva; despertar dentro de si a alegria de uma criança. “Coisa mais linda é curtir seu filho crescer. É você poder acompanhar de pertinho com muito carinho e atenção cada momento. Não tem preço que pague. O ideal é saber o que se quer dessa vida, levá-la de forma feliz, equilibrada, sem escassez de nada. Fomos colocados aqui para aprendermos a ser felizes, para aproveitarmos a vida toda sem ansiedade. Na paz, na total abundância de saúde, alimentação e divertimento. Sem sofrimento, sem dor, só com prazer e alegria. A palavra principal é amor a tudo e para todos”, diz Monica. 

Para compreender melhor os caminhos que levam a essa bonança vale também uma ajuda de autores consagrados. São inúmeros os títulos disponíveis nas livrarias, quase que brigando entre si para chamar a atenção do leitor. Alguns são mais focados no dinheiro, ainda com um olhar mais antigo sobre o valor de ser próspero; outros estão alinhados com as ideias contemporâneas. Seja qual for sua escolha, some às metodologias transmitidas em cada página uma grande dose de intuição, confiança e fé. 

É dessa forma que faz Andressa, que faz Monica, Rosa Alegria e o grande número de pessoas que driblaram a crise, ou não deixaram ser dribladas por ela, e continuamente levam adiante atividades inovadoras, renovando o mercado de trabalho e de serviços, em grande número de vezes congregando pessoas para pensarem algo em torno de uma plataforma mais colaborativa. “E por que tantas pessoas se reúnem em torno de ideias e iniciativas?”, questiona Rosa para concluir em seguida: “Porque são respostas dinâmicas, humanas e naturais, que tentam superar a crise por meio da colaboração. Estamos colaborando, temos pensamento próprio, somos protagonistas de nossa história”.

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