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Sonho americano: um verão sem fim
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San Diego (EUA) tem um clima extremamente agradável, belas praias e um ritmo de vida leve. Um verão sem fim, muito alinhado com a vida que eu sempre quis.

Faltavam poucos dias para o final de 2017, quando, numa tarde ensolarada, eu caminhava com os meus grandes confidentes, Caroline e Breno, em frente ao mar de Piçarras. Eu sempre fui muito disciplinado em promover resoluções na minha vida no reveillon. Dessa forma, a proximidade da virada de ano fazia com que os casulos do meu estômago começassem a se transformar em um grande número de borboletas.

Primeiramente, aquele ano tinha sido extremamente difícil. Eu havia encerrado um grande e estressante contrato de trabalho fazia alguns dias. E, no mesmo período, fui me desfazendo de boa parte dos restaurantes que eu tinha. Somado a isso, no ano seguinte eu completaria 40 anos e acreditava que era o momento certo de olhar para a minha vida e perceber se o caminho que eu estava trilhando era exatamente o que eu queria dentro do livro da minha história.

Foi ali, naquela conversa, que as borboletas tanto pediram, que as coloquei para fora em forma de um plano.

Uma pausa

Decidi que precisava tirar seis meses de pausa. Uma espécie de período sabático (digo “espécie” porque eu não queria passar esse tempo na Índia meditando). Eu queria esse tempo para cumprir algumas resoluções pessoais, fazer os ajustes necessários no rumo da minha vida e acalmar o corpo. Mas, tudo isso de uma forma que eu também pudesse aproveitar.

A escolha de onde ir seguia a ordem de tudo que eu vinha trilhando na minha vida, além de estar próxima do meu mantra, #summerneverends, na busca de um sentimento de verão sem fim. Assim, influenciado por outro amigo — por coincidência de nome Henrique Amigo, que já morava em San Diego — decidi que eu teria esse momento na Califórnia.

Pouco menos de um mês depois, eu embarcava para os Estados Unidos com uma mochila, uma prancha, um skate e uma lista de objetivos.

verão sem fim Crédito: Claude Piche | Unsplash

Regras da minha viagem

Por fim, para fazer sentido deixar muita coisa no Brasil, eu precisava honrar os princípios que estabeleci para a viagem. Dividi esses ideais em seis itens ordenados por grau de importância. O primeiro deles era relaxar, aproveitar, me entreter e conseguir enxergar se eu aprovava o Horácio que eu estava me tornando e os caminhos que eu vinha trilhando. O segundo era melhorar o meu inglês, seguido pelo terceiro, de me permitir trabalhar com as experiências que pudessem me ensinar de alguma forma.

O quarto item era — seguindo meu espírito empreendedor — verificar as possibilidades e oportunidades de abrir uma empresa e descobrir se realmente existia o tão falado “sonho americano”. O quinto item, poder trabalhar legalmente no país e, o último — caso todos os outros estivessem funcionando correr atrás dos caminhos legais para poder estabelecer a minha vida e por lá ficar.

Assim, nenhum item poderia atrapalhar o que estava acima dele na lista. Se eu estivesse em um trabalho que atrapalhasse o meu inglês, precisaria largar o trabalho. Se a aula de inglês atrapalhasse um lindo pôr do sol, eu sairia da aula. Regras são regras. Eu não sabia exatamente por que, mas, no fundo, algo me dizia que aquele era o meu destino e que dificilmente eu voltaria para o Brasil ao final do período estabelecido.

Dito e feito. Cumpri a risca a lista e até hoje vivo na Califórnia.

Meu novo lar

Os Estados Unidos nunca estiveram na minha lista de preferência de viagens, tanto que rodei muitas partes do mundo, sem nunca nem cogitar a terra do Tio Sam como opção. Porém, ao pisar aqui, senti que era a hora e o lugar certo para me reconciliar com esse sentimento.

Os primeiros momentos foram semelhantes a férias em um belo destino. San Diego tem um clima extremamente agradável, belas praias e um ritmo de vida leve. Essas características foram curando minhas grandes feridas e estresse de forma rápida, pois estavam extremamente alinhadas com o caminho que eu gostaria de seguir trilhando para a minha vida.

verão sem fim Crédito: Jermaine | Unsplash

Euforia e controle

Esse momento inicial de descoberta foi mágico e difícil de ser descrito. Como eu já tinha sentido isso anteriormente, sabia que esse namoro poderia acabar assim que toda novidade também acabasse. Nesse sentido, deixei essa alegria tomar conta de mim, mas sempre com um controle consciente da euforia.

Em seguida, aluguei um quarto de uma casa que ficava na praia de Ocean Beach, aproximadamente 15 minutos (de carro) do centro da cidade. Na casa moravam mais duas brasileiras e um americano. Esse tipo de moradia compartilhada é muito comum por aqui. O bairro é considerado um espaço quase hippie, lembrando muito os movimentos da década de 70. Carros antigos, camisetas tie-dye, artesanato e a cultura surf. Além disso, possui o maior píer de concreto da Califórnia.

De OB, como é carinhosamente chamado, nunca mais saí.

Adaptação cultural 

Deixar uma carreira consolidada, estabilidade financeira, amigos, dois cachorros, namorada, família e uma boa dose de conforto pode parecer uma revolução para muitas pessoas. Entretanto, no meu caso, parecia a cada dia fazer mais sentido dentro do que eu esperava para a minha vida e também do que eu vinha construindo.

Aos poucos percebi que esse período sabático tinha sido o melhor presente que eu já havia me dado. Fui reencontrando em mim um sujeito que eu admirava. Além disso, cada dia que passava estava mais saudável, menos estressado, me conhecendo melhor, mais simples e extremamente realizado. Era como se eu tivesse encontrado o meu lugar no mundo.

Diferenças culturais

Entretanto, nem tudo é um mar de rosas. As principais mudanças a que tive de me adaptar — e que podem abalar quem vem para cá — foram relacionadas com as diferenças culturais. Algumas difíceis. Os americanos são mais frios e desconfiados com brasileiros. E, além disso, a barreira da língua dificulta muito a interação. Logo, em vários momentos você pode se sentir sozinho.

A culinária da região tem muito menos sabor do que a cozinha brasileira. O que deixa em mim saudades de pratos tradicionais que alegraram minha vida desde a infância.

Porém, existem também nuances positivas que encontrei aqui e que me fizeram bem. Na Califórnia — e mais forte ainda na região que escolhi — televisão é artigo raro nas casas. O uso de bicicleta como meio de transporte é bem comum e organizado, a alimentação natural com ingredientes de qualidade é bem acessível e a preocupação com o status e com o capital é bem menor do que temos hoje no Brasil.

sonho americano Crédito: Montylov | Unsplash

Vida que segue

Nesse sentido, durante o meu período sabático, segui a minha lista de prioridades. Melhorei minha vida e minha saúde, aprimorei o meu inglês. A seguir, aproveitei as mais diversas experiências profissionais que apareceram e aos poucos fui percebendo que os Estados Unidos realmente é uma terra de muitas oportunidades para quem está disposto a trabalhar.

O tempo passava, a minha vontade de ficar aumentava e o universo seguia conspirando a meu favor.

Os últimos itens da lista

Finalmente, abri uma empresa e tirei o meu visto de trabalho. Era um recomeço profissional. Quando você decide trabalhar em uma terra na qual você é desconhecido e estrangeiro, pouco importa o seu currículo. Você precisa provar a cada dia o que você é capaz de fazer. Além disso, você precisa construir relacionamentos de negócios e isso leva tempo. Tudo que você tem é o seu conhecimento e capacidade (e é bom que tenha também paciência).

Seis meses depois de iniciada a minha jornada, exatamente no dia do meu aniversário, quando acabou meu período sabático, decidi ficar.

Alguns meses depois, minha namorada veio juntar-se a mim. Casamos, alugamos uma casa no mesmo bairro que me acolheu quando cheguei e aqui seguimos. Com uma vida mais simples, mais completa e mais feliz.

Tempos depois, os Estados Unidos nos concederam o Green Card e sou extremamente agradecido a essa terra que me recebeu de braços abertos, me abriu uma infinidade de oportunidades e, principalmente, tornou possível eu dar sequência a tudo que sempre sonhei e construí para a minha vida.

A cada dia vivo mais o meu #summerneverends.


HORACIO COUTINHO JUNIOR (TOCO) é multitarefas e um profissional de mil ofícios, ama a esperança dos EUA e sente falta do Carnaval do Brasil.

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