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Como ter relações equilibradas
Tiago Gouvêa| Ilustração
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Na primeira vez que fui a um circo, eu era ainda bem pequena. Mas já sabia perceber as cores, as luzes, os sorrisos e também a alegria que moravam embaixo daquela lona gigante, ao menos diante dos olhos curiosos de uma criança. Embora não tenha boa memória, eu me recordo de uma cena que ficou em meu pensamento: lá no alto, uma bailarina se equilibrava com toda delicadeza na corda bamba. Em uma das mãos, ela segurava uma pequena sombrinha colorida, enquanto a outra mão, livre, apenas parecia tatear algo que a ajudava a se equilibrar no ar.

O movimento de ir e vir se repetiu algumas vezes e tive medo de que a bailarina caísse. Até que os aplausos encerrassem o espetáculo e me devolvessem para a realidade, alternei momentos de encanto e agonia. Eu sei que você pode até estar se perguntando o que tudo isso tem a ver com o texto, mas é que, às vezes, penso que parecemos caminhar lentamente na mesma corda bamba daquele circo, só que entre nossas emoções e sentimentos.

É preciso equilíbrio para manter a leveza e não despencar lá de cima, com as mãos cheias de nossas fragilidades e anseios. Embora não estejamos sós nesse mundo, somos no fim das contas os únicos responsáveis por toda a travessia e por nos devolver sãos e salvos ao chão, ainda que com alguns arranhões.

Medo de não ser aceito impede relações equilibradas

Mas na corda bamba de nossas relações, muitas vezes perdemos essa delicadeza e transferimos ao outro uma certa responsabilidade por nossas quedas ou por aquilo que apenas não saiu como desejávamos. Abrimos espaço para sentimentos que nos desestabilizam, como a raiva, a tristeza, o apego, a dor, porque nem sempre estamos prontos para encará-los de frente e compreendê-los como uma parte só nossa. “Quando falamos de relações, sejam elas quais forem, observamos que tem muita expectativa ao redor: estamos sempre esperando que o outro vá agir da forma que queremos”, pontua Giti Bond, terapeuta e instrutora de ThetaHealing.

Ela me disse que toda essa espera pelo que é do outro muitas vezes vem do nosso medo de não ser aceitos. Queremos tanto ser amados, que criamos em nossa mente a ideia de que, se não fizermos o que o outro espera, ele não vai nos acolher. E então acabamos criando relações longe de serem equilibradas e que se sustentam à base de uma espécie de troca: desejamos ser perfeitos para sermos aceitos e, consequentemente, depositamos no outro a obrigação de nos entregar essa mesma perfeição para também ser digno de receber o nosso amor. “Nosso valor está em grande parte atribuído ao externo, à posição que temos no trabalho, à pessoa que vai atingir nossas expectativas, ao que esperam de nós. Perdemos o valor interno”, completa.

Solte as expectativas

E isso é muito mais comum do que imaginamos. Giti me contou também que esse estado constante de espera está diretamente ligado ao amontoado de informações e influências externas que recebemos ao longo da vida e que ficam guardadas dentro de nós, movendo as nossas ações de maneira inconsciente.

Quando somos crianças, por exemplo, ouvimos de nossos pais que precisamos atingir certos objetivos para sermos pessoas melhores, e aprendemos a atribuir nossos valores àquilo que alcançamos e não ao que realmente somos.

Essas crenças tomam proporções ainda maiores à medida que crescemos e colocamos cada vez mais pesos e cobranças sobre nós mesmos. Queremos ter o corpo perfeito, um trabalho que dê mais dinheiro, ainda que isso não seja sinônimo de realização pessoal. Nossas crenças colocam uma venda em nos olhos e impedem que vejamos quem realmente somos, distanciando-nos ainda mais daquilo que é a verdade da nossa alma. “O equilíbrio está em não permitir que nenhuma situação de fora seja responsável por sua felicidade, nem pela sua infelicidade. A resposta está sempre do lado de dentro”, conclui Giti.

Essa conexão com nós mesmos é essencial no processo de entendimento das emoções. Quando paramos um pouco para olhar para dentro e dar um tempo para que todas as expectativas se dissolvam, as coisas vão ficando mais claras e automaticamente libertamos o outro dessa ideia de ser responsável por nossas dores.

Relações equilibradas: o despertar

Com a voz da ansiedade silenciada, retornamos de forma mais madura e consciente para as nossas relações, encontrando mais  equilíbrio e discernimento. “O outro não pode lhe dar o que só você pode encontrar. Esse amor completo e divino está dentro de nós”, afirma Giti. Em mais de 30 anos de busca espiritual, ela já se deparou com muitas histórias.

Hoje, desenvolve um trabalho chamado “Ser Consciência”. Por meio de palestras, workshops, meditações e retiros, o projeto nos convida a mergulhos dentro de nós, a silenciar a voz do ego e reconhecer a nossa essência, deixando de buscar respostas do lado de fora para encontrar esse equilíbrio dentro.

Todo esse movimento acontece através do despertar da consciência de quem somos e das relações que desejamos estabelecer e manter ao longo da vida. “Quando você muda o foco, olha para dentro e vivencia o amor que está guardado, naturalmente todos esses condicionamentos perdem força e começam a ir embora, abrindo espaço para relações mais felizes e plenas”, descreveu a terapeuta. Uma vez distantes dessas imposições que criamos, temos uma maior chance de vivenciar os dias com mais leveza e de enxergar o outro além dessas nossas expectativas.

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