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Qual é o seu amor?
Dandara hahn
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Perceber que o amor pode se expressar de diversas formas em uma relação nos ajuda a ter uma maior compreensão do outro e de nós mesmos


Tive um vizinho que, todos os dias, cuidava de acordar antes da esposa, para ir à padaria comprar o pão preferido dela. Era um pão pequeno e doce, com creme, um pouco de açúcar e coco por cima. Era feito só em uma padaria, a alguns quilômetros da casa onde moravam. Casados por 54 anos, há mais ou menos três, a esposa foi diagnosticada com Alzheimer, uma doença progressiva que, aos poucos, leva partes da memória embora. Aquele gesto de despertar, trocar de roupa, calçar as sandálias e se pôr a caminho da padaria, era, segundo ele, uma maneira de garantir que a esposa não se esqueceria dele e de seu amor. “Ela pode até se esquecer de tudo! Mas do amor que tem por cada grãozinho de açúcar desse pão, isso ela não esquece. Vou lembrá-la todos os dias, enquanto conseguir”, me disse ele.

E, sempre que me recordo desse gesto delicado, sou tomada por um sentimento bom e por uma certeza de que estamos em sintonia com o amor o tempo todo. Ele está em um poema que lemos, em uma caminhada por uma estrada bonita, em um verso ou uma canção que ouvimos ao entardecer.

Amar não tem jeito certo ou errado

No entanto, estamos tão ocupados procurando por ele, na maioria das vezes, que não o identificamos nessas coisas corriqueiras e pequeninas. Ou até ficamos tão preocupados em entender a forma do amor existir que não percebemos que ele se manifesta diante de nós de diversas maneiras. Não há um jeito certo ou errado de amar. Mas é necessário compreender que, de forma até meio inconsciente, o danadinho do amor tem representações diferentes para cada um de nós. E o nosso maior desafio talvez seja aceitar essas suas múltiplas versões, sem tantos questionamentos.

Calma. O amor existe

No livro As 5 Linguagens do Amor (Mundo Cristão), o escritor americano e conselheiro de relacionamentos Gary Chapman fala um pouco sobre essas formas de expressão do amor e como elas podem ser diferentes para cada um de nós. Ele conta que, basicamente, o amor descobre cinco maneiras para se manifestar diante de nós: por palavras de afirmação, por tempo de qualidade, por presentes, por atos de serviço ou pelo toque físico. Sabe aquela necessidade do outro em dizer e ouvir “eu te amo” ao menos cinco vezes por dia? Provavelmente, a maneira dele de vivenciar o amor é por meio do que Chapman chama de “palavras de afirmação”: é preciso dizer aquilo que se sente o todo tempo, para que só então esse sentimento se torne real. 

É interessante pensar e encarar o que sentimos por esse ângulo das diferenças. O problema surge quando as formas de amar dentro de uma mesma relação. Pode ser que ela seja romântica ou não, são diferentes, e nos vemos incapazes de aceitar isso com o coração aberto. Então, cobramos que o outro nos ame como achamos que é o jeito certo, e não enxergamos que o entendimento dele de demonstração de afeto provavelmente só é diferente do nosso. E que isso não quer dizer que o amor não existe. “Fomos ensinados que devemos amar seguindo uma cartilha única, e isso machuca muita gente. Cria expectativas irreais e não estimula o autoconhecimento”, explica a terapeuta e instrutora de ThetaHealing Fernanda Lisbôa. “Aprendemos a demonstrar amor na infância, mas estamos em constantes mudanças internas ao longo do caminho. E isso altera nossa forma de ver o amor e também de demonstrá-lo.”

Amor não é igual 

Fernanda me explicou, ainda, que muitas vezes, em nossas relações, esperamos que a outra pessoa nos ame da mesma forma que amamos, porque não estamos vendo o outro como ele é, mas sim projetando nele as nossas necessidades de afeto. E, quando não vemos realmente a essência de quem está ao nosso lado, quando não ouvimos nem nos atentamos para a sua forma mais sincera de se expressar, dificilmente temos discernimento para compreender e aceitar as nossas diferenças.

“Muitas vezes, amamos o que a outra pessoa representa em nossa vida. E isso é diferente de amar a outra pessoa por completo. Quando esperamos que o amor vire um espelho, paramos de ver o outro. E isso causa muita frustração”, completou a terapeuta. É nesse ponto que as relações deixam de ser saudáveis para assumir uma postura de cobrança constante e incompreensão, deixando em nós uma sensação de cansaço e um enorme peso nos ombros.

Manifestando amor

Compreender e identificar essas diversas linguagens do amor é um exercício leve, diário, quase como aprender um outro idioma diferente do que falamos desde que nascemos. Precisamos estar abertos, atentos e com o coração livre de julgamentos ou medos, lembrando que é uma via de mão dupla: ouvir e compreender o que a gente carrega por dentro é também uma forma de olhar para o outro com mais segurança daquilo que somos e desejamos para a nossa vida. “Mais do que nossa voz, o corpo também fala”, explica Alice Vieira, bailarina e especialista em expressão corporal. “Até mesmo por meio de gestos e movimentos estamos nos comunicando. Muitas vezes, manifestamos nossos sentimentos também pela maneira de agir, de nos comportar diante dessa ou daquela situação.” 

Segundo ela, é comum que, diante de um momento em que não sabemos como agir, utilizemos nosso corpo para nos defender, impor ou até mesmo para expressar nossa inquietude, falta de jeito ou satisfação em estar presente em uma determinada situação. “Nem sempre vamos conseguir expressar os nossos sentimentos por uma forma verbal. Às vezes, utilizamos também o corpo e suas expressões, para dizer um ‘eu te amo’”, considerou Alice. Essa observação vai ao encontro do que Chapman diz sobre os amores que encontram no toque físico a sua forma de se manifestar. 

Dar um abraço, andar de mãos dadas, oferecer um carinho, ter um tempo em silêncio na presença do outro. Tudo isso são gestos que podem facilmente substituir uma palavra de afirmação, e também ser uma maneira de demonstrar o amor que se sente. Quando entendemos que essas divergências existem e que são elas que conduzem as relações de uma forma menos egoísta, tudo passa a ganhar uma nova perspectiva e também uma leveza diante de nossos questionamentos e dúvidas. 

Libertando nosso amor

Mas, para que estejamos entregues em nossas relações, não basta apenas termos esse entendimento de que as diferenças existem dentro de um mesmo amor. Precisamos também compreender a própria maneira de amar e, a partir dela, sair da zona de conforto e da expectativa que depositamos na expressão do outro. “É necessário ver o outro, sem a projeção das nossas necessidades. Fomos ensinados que o amor é um prêmio, uma recompensa. Então ficamos contando os pontos para ver se a outra pessoa é merecedora do que temos a oferecer”, pontua Fernanda Lisbôa.

Para ela, uma das chaves para se libertar disso é falar o que sentimos. Se a maneira com que o outro se dirige a nós incomoda, ele precisa saber que isso ocorre. E, para isso, precisamos também exercitar a capacidade de ouvir. “Antes de falar, precisamos nos escutar. Criar o hábito de perceber e reconhecer os nossos sentimentos nos ajuda a ter mais clareza. E, quando lidamos melhor com nós mesmos, lidamos melhor também com o outro”, completa. 

Por meio do ThetaHealing, uma técnica de cura que auxilia no processo de mudança de crenças, sentimentos e padrões, Fernanda guia pessoas por um caminho de descobertas e reconhecimento de suas maneiras de sentir, identificando a raiz de decepções e traumas vividos, e trabalhando uma cura pelo entendimento. “Temos muitas crenças que nos limitam quando o assunto é amor. E elas nos impedem de seguir em frente. Para encontrar nossa forma de amar e demonstrar amor, acredito na tomada de consciência para a mudança”, explica. Quebrar essas crenças de que o único amor aceitável é aquele que conhecemos é essencial para que nossas experiências de vida não se baseiem em medos e incertezas, mas sim na compreensão, no diálogo e na aceitação das diferenças existentes em uma mesma relação.

Que haja equilíbrio

No entanto, nada disso faz sentido se não nos enxergamos como merecedores de um amor que seja legítimo e recíproco. Muitas vezes, queremos tanto que o amor nos aconteça que, mais do que não nos atentarmos para o sentimento que se manifesta no outro, aceitamos também situações que desagradam à nossa verdade. É preciso que exista um equilíbrio entre o que realmente existe, o que vemos e aquilo que apenas desejamos que se materialize. 

Mas, é bom lembrar que aceitar que o amor do outro se manifesta de uma forma diferente da nossa é o melhor caminho para a vivência de uma relação saudável. Mas receber migalhas de afeto e se acostumar a viver com elas é contrário a qualquer chance de partilhar de uma relação plena. “É importante se conhecer, mas é preciso ir além. Saber quem se é, se aceitar e se amar. Se entender e se amar é o primeiro passo para fazer o mesmo com o outro”, conclui Fernanda. No entanto, só se ama de verdade quem respeita a si mesmo, suas escolhas e limitações. Isso sem se anular em prol do outro, construindo um canto de harmonia em meio às diferenças.


Débora Gomes acredita que toda forma de amor é uma chave para abrir caminhos e passar com leveza, construindo dias melhores.

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