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Como organizar um período sabático
Jake Ingle | Unsplash
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Com planejamento é possível organizar um tempo sabático – que pode durar meses – para o corpo e para a mente e repensar escolhas e caminhos

Há muitos anos, um reitor de uma universidade americana percebeu que a simples oferta de bons salários não seria suficiente para reter seus professores mais brilhantes. Conhecedor do conceito original do termo sabático, ele incluiu na proposta de contratação um ano de descanso remunerado a cada seis trabalhados, desde que cada um permanecesse um período exclusivo na instituição.

Estava introduzido, dessa forma, o chamado período sabático no mundo acadêmico, que, tempos depois, chegou às empresas. A saber, shabbat é uma palavra antiga, de origem hebraica, para designar o sétimo ano de descanso da terra, após seis de colheita farta.

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Hoje em dia, muita gente até pensa em fazer um sabático, mas poucos colocam o plano em prática por achá-lo inacessível – pelo tempo de ausência e pelo dinheiro. Para mim, esse também era um sonho distante, mas, após três anos de planejamento e economia, vi meu sonho se realizar. Mais do que isso, vivenciei uma experiência positiva e transformadora.

Vá sem culpa para o seu sabático

ano sabático

Sempre fui viciada em trabalho e, se há dez anos alguém me dissesse que eu faria um sabático, não teria acreditado. Nunca achei que isso coubessse na minha rotina. Até que, um dia, me dei conta de que o tempo passa rápido e que meus sonhos antigos não me cabiam mais. Sentia uma inquietação constante e uma pergunta se repetia dentro de mim: “Se está tudo bem, por que não estou tão feliz?”

A terapia me ajudou a perceber que eu precisava de um tempo para repensar minhas escolhas. Foi assim que essa jornada teve início. E foi também a terapia que me ajudou a amadurecer para definir muitos dos passos vitais para esse período de pausa. Nos meses que precederam o ano sabático, o desafio foi conciliar o dia a dia com a consciência de que no ano posterior aquela não seria a minha rotina. Além, claro, de lidar com a ansiedade e o medo, sentimentos comuns nessa fase.

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Sair da zona do conforto exige coragem e fé. Ainda assim, o prazer de viver um tempo totalmente livre, dedicado à redescoberta de quem você é e a realização de projetos pessoais – sem as pressões da vida regular – é algo extremamente revigorante. O importante é ir sem culpa ou receio de ser feliz. Nas páginas seguintes, resumi os principais passos e soluções para você também realizar seu tempo de pausa.

Como saber se preciso de um sabático?

Para mim, a tomada da decisão sobre um assunto que envolve mudanças que impactarão as pessoas no meu entorno é sempre a parte mais difícil. Assim, depois que optei por fazer o sabático, colocar o plano em prática foi só uma questão de combinar uma estratégia de viabilidade com a paciência para o tempo das coisas. Acredito que a pergunta a fazer para si mesmo é: “Tudo bem se eu fizer uma pausa agora?” É preciso ponderar que, provavelmente, você está numa fase pulsante, com a perspectiva de anos de trabalho pela frente. Por outro lado, já demonstra (e o fato de estar lendo este texto é um sinal disso) a necessidade de um tempo. Essa pausa poderá servir para repensar uma mudança de carreira, realizar projetos pessoais ou vivenciar um sonho antigo, desses que não são possíveis em um mês de férias.

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Já tomei a decisão. E agora?

Tomada a decisão, vamos ao planejamento. Na época que comecei a organizar meu sabático, percebi que existiam seis questões que sempre apareciam nos exercícios mentais que fazia: objetivos (o que eu mais queria naquele ano); habilidades (o que eu precisaria aprender/estudar para alcançar os objetivos); local (onde eu precisaria estar para vivenciar aquela experiência); estilo (qual o meu sonho em relação ao estilo de vida relativo àquela fase); período (quanto tempo poderia ficar afastada); e finanças (quanto eu precisaria gastar ou quanto poderia dispor para realizar os itens anteriores). A partir disso, fui organizando meu sabático. Ah, no item dinheiro vale incluir uma reserva para os meses depois do retorno. Assim você não chega com a necessidade urgente de ganhar algo para sobreviver.

Sabático não são férias. O que vou fazer?

A definição dos objetivos é algo bem importante para que o sabático não vire uma espécie de férias prolongadas. Isso poderia, posteriormente, levar à sensação de que o dinheiro foi desperdiçado. Esse também não é um período de fuga (de um problema, de uma situação incômoda). Se você está mal consigo mesmo, a tendência é que suas experiências sigam a mesma energia. Meus objetivos principais, por exemplo, eram ganhar fluência no inglês e escrever um livro. Junto com isso, eu também pretendia aproveitar meu tempo longe para conhecer diversos países – na Europa é possível fazer isso gastando pouco. Talvez o seu objetivo seja aperfeiçoar seus dotes culinários na Toscana ou fazer um trabalho voluntário na África. O importante é ter um foco que ajude a dar um sentido maior à sua vivência.

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Para onde ir

Depois que os objetivos estão claros, é preciso definir o local e como viver: apartamento alugado, casa compartilhada, um dormitório numa casa de família. Escolhi viver em Dublin, na Irlanda, pois, além de ser um país cujo idioma oficial é o inglês, a cidade é considerada pela Unesco como “Cidade Literária”, por possuir inúmeras bibliotecas, espaços públicos dedicados ao tema e diversos eventos. Tudo isso traz uma atmosfera ideal para quem pretende escrever um livro. Um ponto que não poderia deixar de comentar: é possível fazer um sabático sem viajar. Nesse caso, é recomendável que você tenha ainda mais clareza dos objetivos e, principalmente, do prazo para que esse tempo não seja consumido pelos afazeres cotidianos. E, talvez o mais importante, negociar com a família para que as demandas alheias não prejudiquem seu projeto pessoal.

Família, precisamos conversar

Comunicar a decisão aos parentes pode ser a melhor ou a pior parte do projeto, depende da família e da sua situação. Em geral, as pessoas são avessas a mudanças e querem zelar pela sua segurança. Saber que você está disposto a mexer em algo estável pode ser assustador e poderá impactá-las. Por isso, é recomendável que, antes de conversar, você já tenha feito seu planejamento e tenha clareza de questões essenciais como finanças, local e prazo. Isso ajudará a acalmar a ansiedade. E vale a ressalva de que cada situação exigirá um tipo de composição. Quem tem pais ou filhos dependentes viverá uma experiência diferente de alguém sem esse vínculo. Você poderá, por exemplo, optar por um período mais longo ou mais curto, fazer o sabático só ou acompanhado.

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Chefe, precisamos conversar

Um sabático é, em essência, a pausa estratégica na carreira. Sendo assim, a conversa na empresa deveria ser a mais natural e fácil possível, mas nem sempre é assim. Dependendo do seu tempo de atuação por lá, das características do negócio, do estilo gerencial e até mesmo da mentalidade do seu chefe, essa conversa poderá ser mais ou menos complexa. É importante também se informar sobre o que a empresa pensa ou como lida em relação ao sabático. Hoje, muitas empresas já entendem que a qualidade de vida importa e que isso pode trazer resultados melhores lá na frente – algumas, por exemplo, trabalham com o modelo de afastamento não remunerado, mas a garantia de continuidade no seu retorno. De qualquer forma, sempre vale ter a conversa mais amistosa possível, o que mantém as portas abertas.

Ócio e solidão

Depois de meses de planejamento, finalmente chega o grande momento. A sensação de prazer por ter superado os medos e enfrentado os desafios é indescritível. Acontece que não ter uma agenda repleta de compromissos pode ser estranho e até assustador. Sobretudo se optar por fazer o sabático longe de casa, sentimentos como saudade, solidão e uma pequena angústia causada pelo ócio inicial podem bater à sua porta. Para não se deixar dominar por esses sentimentos, uma recomendação é ter uma rotina com tarefas a cumprir todos os dias. Com o tempo, você se sentirá mais confortável e perceberá que os sentimentos começarão a se acomodar dentro de você. Sobre essa fase inicial, existem duas frases que viraram um mantra para mim: “Na dose certa, a rotina não entedia, direciona” e “desacelerar é uma arte – que se aprende rápido”.

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Preciso mesmo voltar?

Você vai se impressionar com a sua capacidade de adaptação. Muita gente que passa por essa experiência relata que aprende a viver de uma nova maneira, com menos ansiedade e mais atenção ao momento presente; consegue desenvolver novas habilidades; e aproveita a solidão tirando o melhor desses momentos – e abre-se para amizades inéditas e preciosas. É claro que, às vezes, a saudade aperta, mas você também aprende com ela. Além disso, você tem no horizonte o momento do retorno para casa. E, acredite, ele chega rápido. Para mim, conforme o sabático foi chegando ao fim, senti melancolia. Provavelmente, por conta do medinho que dá de voltar para a vida “normal”. Ao mesmo tempo, eu estava segura de que a experiência tinha sido rica para me conhecer melhor. Eu iria voltar reabastecida para a próxima etapa da vida e do trabalho.

Oi, estou de volta

Que alegria voltar. E que difícil também. Chegar de um sabático é bem diferente do retorno das férias: dá vontade de contar para todo mundo o quanto foi legal, mas a rotina de quem não foi continuou a mesma. Portanto, um pouco de sensibilidade não faz mal a ninguém. Profissionalmente, voltar pressupõe disposição. É preciso tomar decisões e retomar a rotina de trabalho: para o seu antigo cargo ou em uma nova posição. Ambas as situações requerem coragem para o recomeço. Um conselho: ter uma reserva financeira para a volta. Isso ajudará a basear suas decisões nos seus planos em vez de serem definidas pelo medo. Passado o desconforto inicial, tudo se encaixa.

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Heloisa Andrade conta mais sobre essa experiência em Sabático 45 – Crônicas, Histórias e Dicas Sobre um Período Transformador (Poligrafia)

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