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Autoconhecimento: uma jornada de reflexão, descoberta e crescimento
(Foto: Freepik) De acordo com psicanalista, conseguimos produzir uma síntese do que somos
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Em algumas etapas da vida, principalmente em momentos difíceis, nos questionamos se realmente nos conhecemos. Aquela pulga atrás da orelha surge na tentativa de entender nossa essência e o que mostramos para o mundo nas relações interpessoais. Olhamos no espelho em busca de respostas: “Quem sou eu?” Nessas situações, entender como o autoconhecimento funciona é um caminho para se desenvolver.

Seja para lidar com situações simples ou mais complexas, é fundamental compreender pelo menos um pouco de quem somos: características, qualidades, virtudes, valores, defeitos, personalidade, medos, traumas. Um conjunto de fatores que nos moldou até o aqui e agora, no momento em que você lê estas palavras.

No entanto, autoconhecimento é um tema profundo e um processo pessoal nada fácil. Ainda mais importante do que isso: é um aprendizado eterno sobre o próprio ser durante o caminhar da vida. Um processo de início, meio e meio. Sem final.

O psicanalista Marcos Torati afirma que o autoconhecimento não tem um destino final “por causa da natureza dinâmica do ser humano e da condição transitória da existência”. Além disso, ele acrescenta que a constante interação com o ambiente – que é imprevisível e mutável – nos expõe a estímulos que nos colocam em contato com “facetas e dimensões desconhecidas de nós mesmos”.

“Temos a questão da natureza dinâmica do próprio ser e o meio exterior que naturalmente nos impacta e nos revela. O ambiente não apenas nos afeta, mas também nos mostra quem somos em diferentes camadas. Por isso, o autoconhecimento deve ser compreendido como uma atitude ética, e não como uma tarefa passível de conclusão.”

Apenas uma síntese do que somos

As experiências nas curvas da vida nos pregam peças o tempo todo. Quando menos esperamos, nos deparamos com algum detalhe sobre nós mesmos que estava escondido no inconsciente. Às vezes, isso acontece porque somos naturalmente seres em constante transformação. Em outras, é o ambiente ao nosso redor que desperta algo novo em nós. É comum acharmos que já nos conhecemos por completo, mas essa sensação costuma ser ilusória.

Por estarmos o tempo todo em mudança, o máximo que conseguimos é produzir uma síntese do que somos. Uma possibilidade de identificação com as nossas percepções sobre nós mesmos. Somos transitórios e afetados pelos eventos internos, inconscientes e externos. Eventos que não temos controle total”, afirma Torati.

“Temos a capacidade de síntese que nos conforta para produzir uma falsa ideia de controle e de previsibilidade sobre nós mesmos. Ou seja, que possa guiar as nossas ações e que a gente possa se nortear de acordo com aquilo que nós entendemos da gente”, complementa.

Sentido, propósito e intenção à existência

O ser humano tenta expressar quem é por meio de ações e posicionamentos nas relações interpessoais. Mas isso não revela, de fato, o que somos. Representa nossas intenções. Nosso “eu verdadeiro” é algo que “escapa”. Algo que não compreendemos inteiramente. Assumir essa condição ao longo da vida faz parte do processo.

“O autoconhecimento deve ser visto como uma atitude ética, e não como uma tarefa com fim. É um ato de vida que dá sentido, propósito e intenção à existência. Ele nos auxilia na auto representação, mas quando é colocado como uma meta idealizada, empobrece o ser”, afirma Torati.

Aprender a desenvolver esses aspectos, ligados a quem somos e ao modo como nos conectamos com o mundo, é também uma forma de pausar. Um respiro necessário frente à constante pressão para alcançar um ‘eu ideal’.

“A ideia de alcançar um ‘eu perfeito’ é uma fuga ilusória da nossa condição essencial: sermos falíveis, imperfeitos e instáveis. Buscar esse ‘dia’ em que seremos completos é uma ilusão. Esse ‘dia’ simplesmente nunca vai chegar. Reconhecer isso deixa tudo mais calmo e leve em relação à jornada. No fundo, a ansiedade em torno de um ‘eu idealizado’ é uma tentativa de escapar de si mesmo.”

Como desenvolver esse autoconhecimento sem fim?

Em uma sociedade marcada por exigências de performance, produtividade e busca incessante por um “eu ideal”, o autoconhecimento pode se mostrar mais vez uma meta inalcançável. No entanto, é possível trilhar um caminho mais humano e realista – sem idealismos – rumo a uma compreensão mais profunda do próprio eu.

Torati propõe estratégias acessíveis que não prometem respostas definitivas, mas que ajudam a construir uma relação mais honesta e simbólica com quem somos:

  • Tempo sozinho (solitude): estar consigo mesmo, de forma ativa e consciente, é essencial para a autorreflexão. Muitas vezes surge espontaneamente em momentos de desencontro com o mundo, mas também pode ser buscada intencionalmente. Como dizia o pensador chinês Confúcio: “A solidão é o caminho que nos leva até nós mesmos.”;
  • Contato com a arte: a apreciação artística (quadros, filmes, literatura, teatro) provoca estados dissociativos que nos tiram do ego e permitem o contato com emoções e pensamentos inconscientes. A arte abre espaço para nos experimentarmos de outras formas, o que revela aspectos ocultos de nossa subjetividade;
  • Meditação: a prática meditativa favorece a observação dos pensamentos e sentimentos em tempo real. Ela aprofunda o contato com o presente e com o fluxo da mente, o que cultiva atenção plena e autocompreensão;
  • Escrita de diário: registrar diariamente emoções, pensamentos e vivências é um exercício de simbolização e reflexão. Escrever permite criar sentido sobre si mesmo, construindo uma narrativa interna que ajuda a nomear experiências e aprofundar a percepção de si;
  • Terapia: a psicoterapia oferece um espaço seguro de escuta, elaboração e confronto com a própria história. Ela potencializa a jornada do autoconhecimento ao permitir o acesso a conteúdos inconscientes e apoiar a construção de novos significados sobre si e sobre a vida.

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