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Parar de fumar: apoio supera as dificuldades do vício
(Foto: Mike Kilcoyne/Unsplash) Quebrar e sair desse ciclo de dependência é possível
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Mais do que uma dependência química, o tabagismo se relaciona com sentimentos profundos e experiências cotidianas, o que funciona como uma válvula de escape. Por isso, parar de fumar não é apenas jogar o maço no lixo, mas romper com uma rede de vínculos emocionais e rotinas que se tornam parte do dia a dia.

Desde 2007, o número de adultos fumantes no Brasil nunca foi tão alto, com um aumento de 25%, segundo dados preliminares do Ministério da Saúde apresentados em cerimônia em alusão ao Dia Mundial Sem Tabaco

De acordo o estudo, houve um crescimento de mais de 2% da população adulta fumante de 2023 para 2024 – proporção que foi de 9,3% para 11,6%. No encontro, as autoridades enfatizaram o caráter nocivo do cigarro, a sobrecarga do sistema público de saúde e os impactos negativos na economia, além das consequências para indivíduos e famílias.

Vício psicológico no tabagismo

Não é apenas o vício químico – no caso do uso de cigarros, a nicotina – que afeta a vida das pessoas, também há um caráter psicológico. Essa forma de vício forma um padrão de dependência emocional e comportamental a uma substância, atividade ou situação, caracterizado pela necessidade mental de repetir determinado comportamento para sentir alívio, prazer ou até mesmo evitar sofrimento.

No caso do fumo, é muito comum que o vício psicológico aconteça. “O tabagismo produz dependência psicológica porque o ato de fumar está associado a experiências emocionais, comportamentos habituais e estados mentais que reforçam o uso contínuo do fumo”, explica Maria Thereza Toledo, psicóloga e doutora em psicologia clínica.

O cigarro vira uma ferramenta para lidar com a ansiedade, estresse, frustração, tédio e tristeza, além de estar associado a contextos sociais e rotina. O cigarro depois do café da manhã, nas pausas do trabalho, em encontros com amigos, junto com uma cerveja… De acordo com a psicóloga, esse costume “cria uma ligação automática entre situações rotineiras e o ato de fumar, tornando o hábito difícil de quebrar”.

Gatilhos emocionais

Mas quebrar e sair desse ciclo de dependência é possível. Muitos fatores levam uma pessoa a parar de fumar, mas geralmente estão ligados a momentos de intensa reflexão pessoal e mudanças significativas na vida.

Foi o caso de Regiane Aparecida Borges Brito, que começou a fumar aos 18 anos e parou aos 30. Durante o terceiro mês da gravidez do seu terceiro filho, Jeferson, ela decidiu largar o cigarro.

“Foi difícil, mas consegui parar e hoje me sinto livre da dependência. A maior motivação, com certeza, foi a gestação. Chegou um momento que fumar enquanto estava grávida me fazia muito mal fisicamente e psicologicamente. Não tive escolha. Era o momento certo de parar. Me preocupava comigo e, principalmente, com o bebê”, conta.

Ela já havia tentado parar antes, mas não conseguiu passar de nove meses sem o cigarro. “Foi preciso muita determinação. Acho que as tentativas não deram certo porque o vício falava mais alto e eu não resistia”, diz. Agora, aos 55, se sente livre.

Por sua vez, Emigda Bezerra fumou por 20 anos e parou há três. A escolha veio após uma cirurgia ortognática. Ela conta que teve medo de inflamar os pontos caso fumasse. Depois, seu objetivo se tornou virar exemplo para seus dois filhos, Yasmin e Rodolfo, além de cuidar mais da própria saúde.

“Eu me apeguei muito a essas coisas. O coração, a academia e o exemplo que eu poderia dar para os meus filhos – já pensava até nos netos também. Foi isso que me ajudou”, conta.

Os desafios

Ambas passaram por muitas provações para conseguir se livrar da dependência. Regiane tinha vontade de fumar o tempo inteiro, principalmente nos momentos de hábito, como depois do café e do almoço. “Já cheguei a sonhar que estava fumando. Como alternativa, masquei muito chiclete e bebi muita água.”

Emigda relata que sentia muita irritação, ansiedade e compulsão alimentar. Assim como Regiane, sonhava com o cigarro e acordava desconcertada. Sua forma de lidar com a abstinência foi por meio do uso de fitoterápicos e muito exercício físico. “Eu orava e pedia para que não tivesse uma recaída. E continuei os exercícios e os fitoterápicos. Depois de alguns meses, a vontade passou”, diz.

Essas dificuldades encontradas por Regiane e Emigda são comuns decorrentes da mudança de atitude em relação ao vício psicológico. 

Os efeitos da abstinência variam de intensidade conforme o tipo de vício, o tempo de uso e a condição emocional de cada pessoa. Segundo a psicóloga, os mais comuns são ansiedade, irritabilidade, insônia, dificuldade de concentração, depressão e desânimo.

“Algumas intervenções ajudam a lidar com esses efeitos: a psicoterapia, que trabalha o autoconhecimento e a ressignificação do comportamento; técnicas de regulação emocional, como respiração, relaxamento muscular e meditação; criação de novas rotinas (como exercícios físicos, hobbies e projetos criativos) e apoio emocional (participar de grupos de apoio e contar com rede de apoio formada por amigos ou familiares)”, indica Maria.

Mesmo com todos os desafios que envolvem o processo, é possível parar de fumar com apoio profissional, paciência, autoconhecimento e mudanças no estilo de vida. Cada pequena conquista conta e pode fazer uma grande diferença na saúde e na qualidade de vida.

“Chegou um momento que percebi que não era mais fumante, que o cigarro já não fazia mais falta na minha vida e no meu corpo. Só um detalhe: até hoje tenho vontade de fumar às vezes. Não aquela irresistível do começo, mas o pensamento passa pela minha cabeça e logo vai embora”, diz Regiane.

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