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O ano em que aprendemos a morar em nós mesmos
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A casa continua sendo um refúgio importante para morar, mas não nos protege de tudo. Especialmente, de nós mesmos.

 

Com tantas coisas mudando, dentro e fora da gente, estamos experimentando novas relações com o morar. Muitas delas, ainda não entendemos direito.

Por muito tempo, nossa casa foi um destino. Um lugar para onde a gente voltava no final do dia, depois de enfrentar os desafios do mundo. Ultimamente, tem sido um ponto de referência do qual não é seguro se afastar muito, nem por muito tempo.

Os perigos são inúmeros e a pandemia nos apresentou vários deles reunidos. De repente, a convivência em família passou a ser um grande risco e o contato próximo deixou de ser demonstração de afeto para se transformar em transgressão. Só os mais ousados, ou aqueles que não têm outra alternativa, se arriscam a aglomerar juntando crianças e idosos, por exemplo. 

A casa continua sendo um refúgio importante, mas não nos protege de tudo. Especialmente, de nós mesmos. É que estar “trancados a sete chaves” nos fez sair do transe. Entender que o mundo lá fora é cheio de belezas e distrações e que passamos a maior parte da vida dependendo delas ou desejando tê-las, como se fossem a resposta para ocupar os nossos vazios. 

Assim, para cada canto escuro, há sempre uma bela luminária. Para cada infiltração no quarto existe um bom papel de parede. Para cada goteira no telhado e para cada coração partido, há sempre um novo carro, uma joia bonita ou uma viagem inesquecível. E podemos comprar tudo isso ainda, mas já não podemos desfrutar (ou exibir) livremente, o que faz com que muitas dessas coisas percam o brilho.

Arrumando a bagunça para morar em nós

E então, como é que fica? A gente fica. Em si, às vezes sós. E, ao fazer isso, somos obrigados a ouvir o silêncio. A enfrentar as paredes em branco. A ouvir o eco da nossa própria voz perguntando: “O que você quer?”; “Do que sente falta?”; “Por que é mesmo que você disse aquilo?”.

Estamos cercados por nossa própria presença e isso nos obriga a olhar para dentro. A encarar medos, a tirar a poeira de mágoas antigas e a derrubar as teias de aranha de relacionamentos que, há tempos, não existem.

Tudo isso pode ser difícil, pesado, penoso. Depende de nós e do quanto estamos dispostos a encarar uma boa faxina. É que, mesmo quando a gente começa, dá trabalho tirar a sujeira que se acumulou nos cantos e limpar o que ficou escondido embaixo do tapete. A gente bagunça tudo antes de arrumar e, até lá, é preciso abraçar o caos e, às vezes, dormir várias noites sozinho, enquanto ele se ajeita no sofá. 

morar em nós

Presença

Por ser tão incômodo e difícil, às vezes, a gente fecha todas as portas, janelas e gavetas. Às vezes, a gente se abandona, se acomoda e isso pode até ser confortável, mas está longe de ser reconfortante. 

Em comunidades simples, especialmente nas zonas rurais, quando uma casa é velha ou fica muito tempo fechada, recebe o nome de “tapera”. Significa que está vazia e já não é mais um lugar seguro, ao contrário. Costuma ser perigosa porque as paredes e o telhado podem ruir, soterrando tudo à sua volta.

A diferença entre uma casa em ruínas e uma pronta para morar é a nossa presença. Nossa capacidade de cuidar. De manter o jardim sem ervas daninhas. De mudar as coisas de lugar sempre que for preciso. Mas, uma casa bonita nem sempre é sinal de solidez. Por isso, antes de escolher a cor das paredes, é bom se ocupar de conhecer o terreno. É importante preparar um bom alicerce. Assim como, é inteligente ter certeza de que o projeto foi bem feito. E por fim, é necessário garantir uma boa base. E, só então, começar a construir, sabendo que é firme o bastante.

Para muita gente, 2020 será o ano em que vamos aprender a ficar em casa. E, meu desejo é que a gente encare esse desafio sem medo. Só assim, vamos entender que esse pode ser o ano em que aprenderemos a morar em nós mesmos. E, arrisco dizer: esse sim é um bom investimento.

 

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