
Ateliê de histórias
- TEXTO Fellipe Abreu
- DATA: 29/04/2015
Para algum desavisado que vê o corpulento Babu Gai caminhando pelas ruas sem conhecer seu ofício, poderia arriscar: ex-campeão de queda de braço, rapper, lutador de boxe. Mas, olhando com atenção, um detalhe entrega toda a verdade: uma fita métrica enrolada em volta do pescoço. E toda a impressão inicial se desfaz quando somos convidados a entrar em seu ateliê de costura na Rua Marechal Floriano, da pequena Erechim ? no interior do Rio Grande do Sul, onde ele mora há quatro anos. Para dar conta da demanda de trabalho, Babu passa o dia entre linhas, tecidos, tesouras e vestidos. Só interrompe o trabalho quando chegam novas clientes ou quando vai ajudar um imigrante que precisa ligar para a família, em algum ponto do continente africano. É que o ateliê funciona também como ponto de encontro informal da comunidade africana local, que tem em Babu uma figura de exemplo e liderança. Pendurado na parede, um quadro emoldura uma capa falsa de uma revista de celebridades na qual Babu, relaxando em uma praia, é o personagem principal. O computador ajuda a matar a saudade da terra natal, sempre sintonizando diversas rádios africanas. Mas, as de seu próprio país, a Gâmbia, ele não gosta de escutar. ?Eles vivem uma ditadura e as rádios gambianas são obrigadas a falar bem do governo?, explica Babu, que estudou costura e exercia a profissão em sua cidade, mas teve que fugir devido ao regime político. Foi para Cabo Verde e, dois anos e meio depois, veio parar no outro lado do oceano Atlântico. ?Decidi vir pra cá porque conheci muitos brasileiros em Cabo Verde e todo mundo me falava muito bem desse país. Resolvi tentar!?, explica. E deu muito certo.
Depois de morar em Fortaleza, São Paulo e Passo Fundo, ele abriu seu ateliê de alta costura ? como ele define seu trabalho. O ?Atelier do Babu? produz roupas sofisticadas para formaturas e casamentos, mas sem deixar de lado as peças com inspiração africana. Tem status de celebridade na pequena Erechim e já encontrou até uma pretendente. Mas, sobre ter uma família por aqui, ele responde ?Calma, vamos ver, vamos ver…? e solta uma risada meio tímida.
?A ditadura me fez deixar a Gâmbia. Mas encontrei novas chances no Brasil? ? Babu Gai
POSTS RELACIONADOS
-
Conviver
#AbraceNossosFilhos: mães lutam por amor
No mês de maio, mães de LGBTQIA+ pedem ajuda para combater o preconceito. Cris Ventura, mãe de uma menina trans, compartilha sua história e diz: “ajude a gente a proteger nossos filhos do preconceito e das agressões que eles sofrem nas ruas, divulgando nossa campanha #AbraceNossosFilhos“ Durante os dois últimos anos, que coincidiram com […]
-
Transformar
Migrar não tem a ver com saber, mas com acreditar
Isabel Arruda é uma brasileira que decidiu construir uma nova vida com sua família no Canadá. Apesar de ser seu sonho, a mudança trouxe desafios que resultaram em grandes aprendizados. Foi a partir das dificuldades de seu dia a dia como imigrante que Isabel descobriu a escrita. Depois de lançar um livro com suas experiências, […]
-
Comunidade Vida Simples para Assinantes
Caderno de exercícios – Tudo tem seu tempo (edição 243)
Seu Caderno de Exercícios “Vida Na Prática” de maio está disponível. Este material foi preparado com o desejo de aprofundar suas reflexões a partir da leitura da matéria de capa da edição 243 de Vida Simples “Tudo tem seu tempo” (acesse a versão digital da revista para dispositivo móvel ou para desktop). Tome alguns minutos para responder às […]

TAMBÉM QUERO COMENTAR