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Por um trabalho mais humano
Brooke Cagle | Unsplash
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Evento discute a necessidade de mudanças no mundo empresarial e fundador do projeto reflete sobre como podemos trabalhar com mais flexibilidade e satisfação

Inspirar a transformação nas relações de trabalho e na maneira de fazer negócios. Essa é a proposta do jornalista Rodrigo Vieira da Cunha com seu projeto Humanos de Negócios, em que conta história de homens e mulheres que construíram suas carreiras em cima de valores éticos e humanizados.  Para Rodrigo, é urgente a necessidade de humanizar o ambiente de trabalho e a forma como as empresas tratam seus funcionários. E também de olhar como cada um de nós se relaciona com aquilo que faz profissionalmente e também pessoalmente.

Para compartilhar essas histórias e reflexões, no dia 1 de agosto acontece a segunda edição do evento Humanos de Negócios, na Unibes Cultural, em São Paulo. A primeira edição reuniu líderes de empresas de todos os tamanhos, empreendedores sociais, acadêmicos e estudantes – e as palestras estão disponíveis no canal do YouTube. E o tema do encontro deste ano será regenerar. Rodrigo explica o motivo. “Estamos vivendo um momento em que é preciso reconstruir, replantar, regenerar o que foi danificado. Precisamos correr atrás do que a gente destruiu. É possível fazer diferente”, diz à Vida Simples.

Entre alguns dos palestrantes da edição desse ano estão Ana Claudia Quintana Arantes, médica especialista em cuidados paliativos, Gustavo Gitti, especialista em práticas de transformação e compaixão, Patrícia Santos, CEO EmpregueAfro e consultora em diversidade étnico-racial, e outros nomes que trazem uma visão mais sensível sobre trabalho e negócios.

Nesta entrevista à Vida Simples, Rodrigo fala sobre a importância de buscarmos alternativas mais humanas para o desenvolvimento, defende que olhemos para outras áreas da nossa vida para além do trabalho e sugere jornadas mais flexíveis, que permitem que cada um traga para a rotina mais alegria e satisfação.


Por que é importante falar sobre regeneração?
Bem, quando estamos olhando para o todo, para o bem comum, existem várias maneiras de atuar. A mais básica é a filantrópica, a outra é a responsabilidade social, e depois disso temos a sustentabilidade. Só que, no estado em que as coisas estão, não adianta mais manter, a questão não é só preservar. Vejo que estamos no estágio de regenerar, replantar. As árvores, as relações, o debate político. Para olhar para frente a gente tem que olhar para o que a gente destruiu e reconstruir essas pontes. Vejo como um próximo estágio desse nível mais elevado de consciência.

O evento traz nomes de áreas distintas, fora do ‘mundo dos negócios’, como uma médica ou um instrutor de mindfulness, por exemplo. Por quê?
Porque acho que é preciso olhar para as coisas de maneira interdependente. Tudo está interligado. Como podemos humanizar as relações nos ambientes corporativos, por exemplo, se nunca olhamos para parentalidade? Então, um exemplo, muitas empresas querem um funcionário que esteja lá das 9h às 18h, mas se a criança fica doente, o que acontece? Já trabalhei em corporações onde a criança era bem-vinda apenas no dia das crianças. No mundo do trabalho a visão é de que filho atrapalha. Isso, por exemplo, é um tema superimportante a se discutir, e está interconectado com tudo. Afinal, que tipo de pessoa estamos formando? Que tipo de sociedade estamos criando? A gente trabalha demais.

E o que você vê acontecer por esse excesso de trabalho?
Pessoas extremamente pressionadas, com problemas de saúde, ansiedade, depressão. O aumento de casos de suicídio nas empresas. Há histórias em empresas em que executivos estavam sendo processados porque nos últimos anos aconteceram diversos casos de suicídio. Uma empresa até colocou rede de proteção para as pessoas não se atirarem. Pessoas que chegam ao ponto de tirar a própria vida porque não vêm outra saída diante de demandas tão desumanas.

Você está dizendo que passamos do limite?
Sim, com certeza. De maneira geral estamos focando demais nossa energia em trabalho, para sobreviver. Trocando horas de vida por dinheiro. E poucos estão se beneficiando disso. Cada vez mais uma concentração maior de renda nas mãos de poucos, a desigualdade aumentando. Estamos em um modelo que está nos escravizando. Não estou dizendo que sou contra o capitalismo, não é isso, mas que as pessoas estão a serviço do capital, e o que deveria acontecer é o capital estar a serviço das pessoas.

Você acredita em uma jornada de trabalho mais flexível?
Sim, existem casos incríveis sobre isso. O mais inspirador para mim é a do Yvon Chouinard, da Patagonia Inc, autor do livro Let My People Go Surfing. A orientação dele é a seguinte: quando há condições boas para a escalada, a pessoa vai fazer um bom trabalho. Ele aposta na liberdade delas em terem tempo para fazerem o que gostam. E é uma escolha delas, elas têm liberdade para isso. Para mim, o que ajuda é criar autonomia e liberdade para elas trabalharem como quiserem. É complexo, não é tão fácil. Mas se a gente parte da premissa da autonomia, da organização, o ambiente de trabalho pode ficar mais confortável e produtivo.

Mas para muitos chefes isso pode ser bem desafiador de aceitar, não?
É curioso, porque as pessoas sempre tomaram um cafezinho, sempre desceram para fumar um cigarro… Os funcionários sempre buscaram um escape, porque ninguém consegue trabalhar horas a fio, não é produtivo. Há muitos estudos que mostram isso. Então é um pouco absurda essa tentativa de controle. Tem empresas que chegam a bloquear acessos a redes sociais, porque tem essa ilusão do controle. Mas aí temos que pensar em autoresponsabilidade. Quem está ali, está de boa vontade, quer trabalhar naquele lugar, gosta do ambiente. E isso é muito importante, ver sentido no que faz, no relacionamento com as pessoas… E acho que depende sim do gestor, e esse pensamento mais controlador está mudando. Porque na prática não surte efeito. Na minha empresa eu propus essa flexibilidade e no começo algumas pessoas acharam que não era possível. E hoje muitas já estão ficando mais tempo em casa. Eu confio nelas, eu sei que elas estão fazendo o trabalho que precisa ser feito.

Qual é seu maior desejo com o Humanos de Negócios?
Eu quero que essas muitas pessoas que também sentem esse mesmo desconforto que eu percebam que temos que fazer diferente. Que essa busca pelo lucro acima de tudo não atende as necessidades que a gente tem. As pessoas dizem que chegar lá é ter coisas e já sabemos que não é isso que te faz mais feliz. Por que temos que continuar nessa busca para ter coisas para perceber só depois que não era isso? Quanto tempo você perdeu porque alguém disse que era importante, porque o sistema disse que esse era o caminho? E tem muita gente incomodada com isso e é um conforto encontrar pessoas que se identificam com essa mesma necessidade de mudança. E o que eu quero é isso: unir pessoas que acreditam ser possível fazer diferente.

Humanos de Negócios 2019
Data: 01/08
Horário: Das 10h às 17h
Local: Unibes Cultural, em São Paulo
Ingressos: Leitores de Vida Simples têm 20% de desconto com o cupom vidassimples: https://www.sympla.com.br/humanos-de-negocios–regenerar__559825
Saiba mais: www.humanosdenegocios.com.br

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