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PENSANDO BEM – Imagine de novo
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Se não sonharmos novas possibilidades e novos mundos, perdemos uma parte importante de nós mesmos

Chove em são paulo, para alívio dos paulistas que sofreram com uma onda de calor. As gotas gordas caem lavando o ar e limpando as calçadas. Estou em um táxi, descendo pela Avenida Europa, e o trânsito não está mau. De repente, o carro para por conta de um farol, eu olho para a direita através do vidro choroso e noto que estou em frente ao MIS, o Museu da Imagem e do Som, um de meus lugares queridos em São Paulo.

Coisas que vi neste local já inspiraram algumas crônicas e artigos em Vida Simples. A última vez que estive aqui foi na exposição sobre a obra do Alfred Hitchcock. Fiz até um pequeno filme com pássaros tentando me atacar, fugindo como o Rod Taylor em The Birds, na icônica Bodega Bay.

O MIS está fechado esperando o vírus ir embora. Fechado, mas não parado. Exposições, cursos e palestras online continuam acontecendo (verifique em mis-sp.org.br).

Pela janela do táxi vejo um imenso cartaz que anuncia um evento sobre John Lennon, sua música e seus dias em Nova York. Seria uma live, como convém atualmente, com fotos do músico feitas por Bob Gruen, o fotógrafo que se especializou no mundo do rock’n’roll, comentadas por gente que entende do assunto. As fotos poderão ser vistas no museu quando ele for reaberto.

Só então me dei conta que aquela pequena parada no trânsito na pauliceia chuvosa estava acontecendo às 11 horas da manhã de 9 de outubro, o mesmo dia em que, em Liverpool, no ano de 1940, nascia John, o futuro Beatle. Sim, John Lennon faria 80 anos hoje! E ele morreu faz 40!

O tempo, esse implacável modificador dos fatos, realmente não para, e tem pressa. Quando completei 15 anos, ganhei de minha irmã Daria o primeiro compacto duplo (um disquinho de vinil com duas músicas de cada lado para tocar na vitrola) dos Beatles, com quatro músicas do primeiro álbum, Please Please Me, que, entre outras faixas, trazia Love Me Do e Twist and Shout.

Lembro de ter criado valetas no disco durante aqueles anos dourados. Pertenço à geração que mais foi influenciada pelos quatro de Liverpool, seja pelo conteúdo de suas músicas, seja pelo jeito, ao mesmo tempo comportado e contestador, de John, Paul, George e Ringo. É instigante pensar que essa banda, que se tornou um fenômeno na Inglaterra, na Europa e no mundo, mudando para sempre o paradigma do sucesso enquanto onda modificadora de comportamentos, nunca igualada por nenhuma outra, durou apenas sete anos. É a força da arte.

Certa vez, em Nova York, entrei no Central Park pelo portão que fica em frente ao prédio Dakota Apartments, onde Lennon morava com Yoko Ono, e onde foi assassinado por um lunático em dezembro de 1980. O portão leva a um jardim chama do Strawberry Fields, onde está a famosa mandala com raios concêntricos em cujo centro está a palavra mágica: Imagine!

Alguns anos antes, Lennon havia lançado seu primeiro disco solo, que trazia a música Imagine, que também dava nome ao álbum. Consta que ele, no começo, não acreditava muito no sucesso da canção, mas ela acabou sendo eleita pela revista Rolling Stone a terceira maior música de todos os tempos – e até hoje é reconhecida como uma espécie de hino de paz. Sua mensagem propõe que imaginemos que as fronteiras, as posses, a ganância e a religião – os grandes causadores de conflitos – não existem, e por isso o mundo vive em paz.

Termina dizendo: “Você pode achar que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único e espero que um dia você se junte a nós”. Essa música é realmente belíssima, não há quem não se emocione com sua letra e sua melodia, simples e profundas. Até porque é difícil ser contra o que ela defende – a paz. Entretanto, a música traz uma segunda mensagem, que passa despercebida apesar de ser tão explícita. E essa mensagem está no próprio título: imagine.

Antes de ser uma ode à paz, Imagine poderia também ser vista como um tributo à qualidade excessivamente humana que é a capacidade de imaginar. “É fácil se você tentar”, diz o ex-Beatle, e ele acerta em cheio. Às vezes nem tentamos imaginar nossas possibilidades, e perdemos uma parte importante de nós mesmos. A música apresenta a ideia de que, se somos capazes de imaginar, somos também capazes de realizar. Esse, aliás, era o pensamento de Walt Disney, que gostava de contar que um dia imaginou um rato que falava, e o que ele realizou é o maior centro de entretenimento do mundo, a Disneylândia.

Parte da história de Imagine deste artigo eu já comentei aqui na Vida Simples há alguns anos, propondo o resgate da imaginação no cotidiano. Quando, agora, passei na frente do MIS, não resisti a propor que imaginemos de novo. Este ano está sendo difícil para todos nós, em todo o mundo.

Para que os próximos sejam melhores, precisamos começar a imaginá-los agora.

É fácil se você tentar…


EUGENIO MUSSAK diz que seus textos, de certa forma, propõem que o leitor imagine algo. De preferência, algo bom. @eugeniomussak

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