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Uma viagem ao Japão: cinco livros para desbravar a terra do sol nascente
Alex Knight Viagem ao Japão, foto de uma pequena rua com diversos leitreiros em japonês.
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Rayza Fontes, nossa colunista especialista em livros e literatura, decidiu mergulhar na cultura japonesa para trazer indicações capazes de revelar grandes riquezas do país. Confira cinco indicações de livros sobre o Japão a seguir.


Quando você pensa em Japão, qual a primeira coisa que passa pela sua cabeça? Eu pensava em flores de cerejeiras e carpas laranjas. Pensava também em imagens de multidões atravessando a rua ao mesmo tempo e em muita tecnologia. Hoje, após as leituras que você já vai conhecer, eu penso em paisagens exuberantes, jardins milimetricamente construídos apenas para a contemplação, penso em comidas deliciosas e completamente exóticas ao meu paladar ocidental. Quando eu falo que ler é viajar sem sair de casa, é sobre conhecer o Japão sem nunca ter pisado lá

Embora tenha tido acesso a um ou outro desenho japonês quando criança, jamais senti uma urgência em saber mais sobre o país, o que geralmente acontece com essa leitora obcecada por viagens que vos fala. Logo no começo da pandemia, no estranho ano de 2020, eu e meu marido pegamos covid. Ainda era maio, ninguém conhecido tinha sido infectado e o lockdown estava no auge.

Em resumo: foi uma avalanche de sentimentos, com o acréscimo da agoniante ausência de olfato e paladar e as incertezas sobre a duração dos alimentos sem gosto e dos perfumes sem cheiro. Durante o isolamento, que durou 15 dias, vimos uma série chamado “Nosso homem no Japão”. E foi a partir daqueles episódios mostrando um apresentador inglês conhecido por um programa sobre carros que eu enxerguei o Japão muito além das carpas coloridas e flores de cerejeira. 

A literatura japonesa feita por mulheres é riquíssima. Não por acaso autoras como Sayaka Murata, Hiromi Kawakami, Banana Yoshimoto e Yoko Ogawa  já apareceram por aqui em diversas ocasiões. E no que depender de mim seguirão sob os holofotes, afinal de contas uma trama rica em personagens e reviravoltas ganha o coração de qualquer leitor.

Um outro autor japonês que vez ou outra aparece é o badalado Haruki Murakami, cotado todos os anos para o prêmio Nobel, mas ainda sem ter levado a estatueta para a casa. Já o conterrâneo Kazuo Ishiguro não pode reclamar: além do Nobel de literatura em 2017, o autor já havia dado mostras do seu grande talento ao ter dois livros adaptados para as telonas: “Vestígios do dia” (1987) e “Não me abandone jamais” (2005).  

O mais surpreendente é que depois de conhecer – e amar – todos os autores com nomes aparentemente complicados do parágrafo anterior, eu nunca mais consegui abdicar de um bom romance tendo o Japão como pano de fundo.

E o melhor: em cada um deles eu pude conhecer um país completamente diferente de tudo que eu havia imaginado.

Aguardo ansiosa para saber qual Japão você descobriu nos livros. 

1 – O Buda no sótão – Julie Otsuka 

144 páginas – Grua Livros

Em “O Buda no sótão” as vozes de dezenas de japonesas rumo ao desconhecido levam as narrativas sobre imigração a um outro patamar. O livro usa as muitas vozes e seus dramas em comum para chamar a atenção do leitor para “a história plural da comunidade japonesa na costa oeste americana.”. É um daqueles livros que poderia durar para sempre. E quando acaba deixa a gente pensando sobre as agruras enfrentadas por nossos próprios antepassados atravessando oceanos e lutando para sobreviver, não só materialmente, mas emocionalmente, sem o apoio dos seus e de tudo aquilo que era familiar.

2 – Uma rosa só – Muriel Barbery

176 páginas – Companhia das Letras

Eu não estou maluca, pessoal. A promessa era conhecer o Japão, certo? Eu sei que a autora é francesa, mas não pude resistir. É uma trama repleta de templos (e eu sugiro fortemente que você dê uma pausa na leitura e procure por imagens de cada um deles. É uma experiência única!), repleta de jardins, tradições, chás, comidas exóticas e um mistério que começa discreto durante o recebimento de um testamento e vai crescendo até sair das páginas e ir morar no canto esquerdo mais recôndito da nossa imaginação.

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3 – Minha querida Sputinik- Haruki Murakami

200 páginas – Companhia das Letras

Um Japão de alta velocidade, cores vibrantes, restaurantes diferentes e uma narrativa quase cinematográfica. E não é exagero dizer que em alguns momentos eu esquecia estar lendo um livro e pensava na trama como um filme (alô, Netflix, corre aqui!). É difícil resumir sem dar pistas importantes sobre a trama. Mas já posso garantir que um triângulo amoroso como o de k., Mil e Sumire eu não me lembro de ter visto. Foi o primeiro livro do Murakami que li, em um clube de leitura que me trouxe também amigos queridos. É como eu sempre digo, os livros dão muito mais do que a gente imagina. Eu já ganhei amigos, além de uma imaginação fértil e um amplo repertório lexical!

 

4 – Antes que o café esfrie – Toshikazu Kawaguchi

225 páginas – Editora Valentina 

Eu não quero convencer ninguém a nada. Mas vou deixar um questionamento que resume o livro de forma bastante acurada: “Se você pudesse voltar no tempo, por apenas o tempo de uma xícara de café se manter quente, para qual momento iria?”. Claro, existem regras. Mas deixarei que os funcionários de uma antiga cafeteria em Tóquio expliquem os pormenores. Cada capítulo é, literalmente, uma viagem. E a leitura flui na velocidade de um bom café quentinho, o único problema é que o livro, assim como todo bom café, acaba antes mesmo que ele esfrie. E me perdoe se algumas lágrimas molharem o seu leitor digital ou mancharem as páginas do livro. É um risco que a gente corre ao revisitar o passado…

 

5 – A fórmula preferida do professor – Yoko Ogawa

224 páginas – Estação Liberdade

Um velho docente de matemática, uma empregada doméstica e o pequeno filho de dez anos. Não era essa a fórmula preferida do professor, mas sem dúvida passou a ser a minha. Uma vida comum, por que não dizer medíocre? E alguns dos personagens mais bem construídos que já tive o prazer de conhecer em um livro. A fórmula do livro é muito mais complexa do que parece em uma primeira olhada na sinopse. Ela envolve um problema de memória, uma mulher com pouca ambição, mas dedicação de sobra, e um garotinho curioso e cheio de amor. Mais do que o Japão, com o “best-seller” instantâneo da Yoko Ogawa eu conheci também um sentimento nunca antes despertado durante a leitura: a ternura.


RAYZA FONTES é jornalista formada na Universidade Federal de Viçosa, professora de Linguagens e Redação, estudante de Odontologia na Universidade Federal do Espírito Santo e o mais importante: mãe de pet, de planta, de muitos livros, casada com o melhor amigo e fã incondicional de todos os membros da família. Tem em si todos os sonhos do mundo, listas intermináveis de viagens, livros e inutilidades. Capixaba da gema, orgulhosa moradora da cidade mais legal do mundo, Vitória – a capital do Espírito Santo -, já trabalhou na redação de jornais diários como repórter e esporadicamente atua como freelancer. Atualmente presta serviços de assessoria de imprensa. Sonhadora compulsiva, leitora crônica, fã de café para acordar e champanhe para relaxar, descobriu muito cedo que ler era a cura e a prevenção para todos os males. Seu instagram é @rayzagfontes.

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*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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