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Uma imagem no caminho
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Uma breve reflexão sobre simplicidade

Durante toda a semana acordo muito cedo. Faço minha meditação, preparo meus alimentos e rapidamente saio para meu treino físico matinal. Do meu prédio, caminho por um bairro cheio de casas e árvores sobre ladeiras íngremes que colaboram com meus exercícios, e me ajudam a encontrar distração durante o percurso. Nos ouvidos, uma trilha sonora que escolho antes de sair de casa para dar o mood do dia.

A música me ajuda a desenhar a imagem deste passeio por entre casas, árvores e plantas que observo atentamente. Posso até dizer que sei quando alguma delas mudou de cor, trocou o portão, ou que alguma árvore está para florir ou foi podada. Um caminho que se molda e toma conta da minha imaginação de diferentes maneiras a cada dia. Faço questão de transformar essa caminhada em um hábito saudável.

São muitas casas que formam este percurso até meu destino final, mas confesso que tenho um carinho especial por uma delas. Dobro uma das esquinas deste trajeto, e lá está ela. Me alegro ao enxergar a cerca pintada de um tom de verde que não sei porque traz uma sensação de proximidade ao meu coração. Desta maneira todos os dias ela se apresenta para mim. Até diminuo meus passos para poder admira-la com mais atenção. Aproveito e retomo o meu folego. É uma casa térrea, e de repente descubro que adoro casas térreas. Caminho lentamente ao seu redor curiosa para ver seus jardins de grama baixinha delimitados por rotas feitas com pedras marrons.

A varanda coberta em forma de arco que abriga a entrada da casa com aquelas clássicas poltronas antigas de madeira arredondada, despontam na minha visão e penso que certamente devem ser uma herança familiar. Suas janelas pintadas do mesmo tom de verde, são protegidas por grades com uma estrutura de losangos que remetem a década de 50. Pequenos degraus surgem guiando a uma entrada lateral, que acredito eu, ser a porta da cozinha.

Vasos de xaxim cobertos com rendas portuguesas pendurados na parede, emolduram essa passagem. Estico minha visão mais um pouco, e enxergo um jardim bem cuidado com uma infinidade de tons, texturas e cheiros verdes da natureza, daqueles que dá vontade de passar o dia todo. Faço a curva sem tirar os olhos dela, quando subitamente um muro de plantas fecha completamente minha visão. Sigo em frente. Aperto novamente o meu passo, ao mesmo tempo que tento manter por mais alguns minutos a sensação de familiaridade que ela me traz.

Chego a me questionar o porque da imagem desta casa me atrair tanto. Encontro uma palavra, simplicidade. Uma boa reposta para acalmar meu coração diante da sensação que ela me causa. Continuo meu caminho e reflito sobre isso. Percebo que nela, enxergo uma casa que escapa do excesso cultivando esse modo simples de ser. Uma casa saudável que a medida que consegue diferenciar o essencial do não essencial abre espaço para o inesperado usufruindo da vida com liberdade acima de tudo. Um lugar suficientemente bom que recebe atenção e floresce.

Quem sabe algum dia eu dê sorte de encontrar seu morador, e talvez assim poderei entender melhor a assinatura desse lar tão distinto e reconhecível. O amor que ele coloca ali talvez seja a maior realização de sua vida. Um lar que notoriamente serve ao seu propósito com um alicerce tão sólido quanto uma pedra e tão profundo quanto sua memória.


Clô Azevedo é arquiteta e acredita que a casa é uma extensão das vidas que a habitam. Desenvolve projetos de design de interiores afetivos para conectar pessoas com suas histórias, inspirando a reinventar seu próprio espaço, morar bem e viver melhor. Seu site é designafetivo.com.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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