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Por que é tão difícil sair da inércia? 
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As respostas estão dentro de nós, mas é preciso abrir mão das situações cômodas para seguir em frente ouvindo, de verdade, o coração


Obrigada pelas cartas e sugestões! Seguindo uma delas, quero compartilhar com vocês essa semana um fenômeno comum na vida e na clínica. Chegou-me especificamente uma pergunta que condensou algo que pensei e debati a semana toda por aqui: 

“A gente fala muito sobre seguir o caminho do coração. Mas, muitas vezes, mesmo sabendo da necessidade e da urgência de mudarmos, acabamos não fazendo o que precisa ser feito. Ou seja, deixamos aquela sensação que nos prende numa lógica de sofrimento tomar conta de nós e nos paralisar. Ficamos inertes. Por que é tão difícil ultrapassar essa força que tanto nos prende e que não nos deixa darmos aquele passo que sabemos o quanto vai mudar o nosso viver?”

Essa pergunta maravilhosa explica também por que, algum tempo depois de iniciar a análise pessoal, muitas pessoas interrompem o processo, desistindo da análise ou faltando às sessões.

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No fundo, a gente sempre sabe o que deve ser feito. Mas o mundo – e nós mesmos ecoando-o – vai nos enganando para protelar essas decisões. Por quê? Por vários motivos. O aconchego que o conhecido e familiar oferecem é mais quentinho.

Mesmo no sofrimento, estamos acostumados a uma situação e isso significa que sabemos exatamente o que esperar dela, dando aquela famosa sensação de controle. Ilusão prazerosa, que garante algumas fantasias de existência da “verdade”.

Lançar-se para onde devemos seguir nos libera de sofrimentos, mas também dessas verdades que nos sustentam. Seguir livre e autônomo implica abrir mão dessa segurança do conhecido, da previsibilidade que esse conhecido oferece, ainda que de dor.

Porque nenhuma dor é constante e, como ela vai e volta, a gente prefere acreditar que um dia ela não vai voltar, em vez de assumir a necessidade de levantar acampamento e partir rumo ao desconhecido.

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Nisso, acabamos carregando cadáveres por muito tempo, sem nos darmos conta, acreditando que há alguma vida ali: como nos diz o Zaratustra do Nietzsche, “de companheiros preciso eu, e vivos, não companheiros mortos, e cadáveres, que os leve comigo para onde quero”, companheiros vivos “porque desejam seguir a si próprios”.

Esse excesso de esperança em mudanças que podem vir de fora é um convite pra gente protelar as mudanças que precisam vir de nós mesmos. Assumir essa responsabilidade é duro, porque implica abrirmos mão de culpar os outros ou as situações. Não importa como chegamos até aqui, podemos analisar isso para nosso crescimento, mas não como desculpa pra gente se martirizar, se culpar e criar peso pra não se movimentar.

É preciso fazer o que deve ser feito. É preciso abrir mão do que não podemos mudar, deixar morrer o que mantemos “ligados nos aparelhos” e seguir viagem. Pois, como disse Oscar Niemeyer, aos 94 anos de idade (e viveu mais 10 anos), “a vida é um sopro”.

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Myrna Coelho é psicóloga clínica, professora e doutora pela USP. Decidiu recomeçar a vida do outro lado do oceano, onde segue atendendo seus pacientes e dando supervisão online. Por aqui, semanalmente, reflete sobre como podemos viver com mais liberdade de ser. Mande sua mensagem para: [email protected].

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