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Redes de apoio como “matrioskas” da educação consciente
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A prática da educação consciente precisa ser um ato coletivo. Ensinar mães cansadas a engolir suas emoções e a performar paciência não me parece ser o melhor caminho. 

Como educar sem violência, se estamos diariamente sendo submetidas a ela?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares. Faço questão de jogar na mesa para todas as mães que vêm me procurar dizendo das suas dificuldades em quebrar padrões na educação das crianças (infelizmente são as mães as maiores interessadas, poucos são os pais).

Donald Woods Winnicott, pediatra e psicanalista inglês, um dos teóricos em que baseio meu trabalho, nos fala da necessidade do ambiente ser sustentador para a mãe (ou para quem faz a função dela) para que, assim, ela possa fazer uma maternagem suficientemente boa para a criança.

É quase como o conceito de Matrioska, as famosas bonecas russas, que simbolizam a ideia de maternidade. Em sua tradição, o próprio nome está conectado à ideia de “mãe”. Nelas, as camadas exteriores protegem as interiores, e a mais vulnerável é a menor, nesse caso, a criança. A psicanalista Vera Iaconelli traz essa analogia em um de seus livros, que eu acho bastante ilustrativa do trabalho de Winnicott.

Sobrecarga

Porém, o que vejo na prática clínica e nos relatos diários que recebo é o contrário: mulheres-mães imersas em ambientes hostis, com parceiros muitas vezes negligentes, sobrecarregadas e sendo culpadas por coisas completamente esperadas e naturais de crianças, como “birras” e dificuldades de colaboração.

É quase cruel exigir paciência de uma pessoa que não tem apoio, escuta, acolhimento, divisão justa de tarefas. E ela reproduz o que recebe, também se exige e se cobra, sem perceber que a Matrioska está falhando em ser sustentação exterior.

Claro que a criança continua sendo a mais vulnerável, mas como a mulher pode proteger estando desprotegida?

Cuidar estando descuidada? Quando ela é a única a estar perto dessa criança e não consegue a poupar de suas opressões, dificuldades e problemas?

Autocuidado coletivo

Você pode pensar que autocuidado é um caminho, mas esse conceito precisa ser trazido com cautela. Somos seres intrinsecamente sociais, nossas necessidades mais básicas são grupais, não solitárias. O conceito de autocuidado de Audre Lorde falava em cuidado coletivo e luta social, inclusive e principalmente.

Mulheres são socializadas para se culpar por problemas que estão além de sua alçada e de sua responsabilidade.

É nosso dever enquanto comunidade em garantir que educação consciente é coisa social, não individual. Ensinar mães cansadas a engolir suas emoções e a performar paciência não me parece ser o melhor caminho. Apoio, mudanças sociais, a tão necessária aldeia, essas sim, saídas para a questão.

LEIA TAMBÉM: Educar uma criança com compaixão é um ato revolucionário


THAIS BASILE é psicanalista, escritora, especialista em psicopedagogia institucional, palestrante, feminista pelos direitos das mulheres e crianças e mãe da Lorena. Compartilha um saber para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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