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Recebi uma carta inusitada
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No início da semana recebi um presente inusitado: uma CARTA! Pra quem não conhece, trata-se de uma mensagem escrita à mão numa folha branca pautada. Traduzindo: coisa muito rara nos dias de hoje!

Me senti uma pessoa de sorte; no meio da pandemia também recebera uma carta, dessa vez na caixa postal de uma vizinha, pois eu estava de quarentena em zona rural. Em palavras foram tantas reflexões lindas e potentes numa folha de “papel de carta” que carrego comigo na carteira desde então, virou amuleto de amor de uma amizade que perdura há 30 anos, também coisa muito rara nos dias atuais!

Sou do tempo que as pessoas reduziam saudades, distâncias, assuntos controversos ou apenas batiam um papo reto e direto através de cartas. Se um telefonema interurbano era algo tão oneroso que se limitava à poucas palavras, as cartas possibilitavam infinitas divagações a respeito de qualquer assunto. Escrevi a minha primeira lá pelos 10 anos, pra uma colega de colégio que migrou do interior pra cidade grande, e lembro de pedir pra mãe me ensinar como escrever um envelope, destinatário, remetente, essas coisas. Foi através das cartas que nos comunicamos por muitos anos a seguir, prova de que relacionamentos sobrevivem à distância, se forem cuidados mutuamente.

Mas voltando ao presente dessa semana, ele chegou da maneira mais real/oficial/tradicional que acontece com esse tipo de comunicação: depositado na caixa de correspondências de casa, entre boletos e propaganda de serviços da vizinhança. Ao pegar o envelope nas mãos, a mim endereçado, logicamente achei estranho; convenhamos, mensagens manuscritas não são frequentes hoje em dia; por vivemos com tanta pressa e urgência por tudo e de tudo achei o presente um tanto peculiar, daqueles que merecem um momento próprio para ser degustado.   Guardei na bolsa, e no meu tempo de curtir as coisas boas do dia, passei um café e me joguei na poltrona: hora de receber as palavras que ali foram a mim escritas.

A remetente se chama Cris, com quem tive o privilégio de conviver por um tempo escasso e que hoje mora numa cidade distante da minha, daquelas pessoas que deixam marcas nos corações por onde passam. Logo entendi que aquele presente era especial, mas não precisava quanto. A Cris batalha há tempos contra uma doença que não gosto nem de dizer o nome, e sobre essa linha tênue entre vida e morte discorreu linda e especialmente a mim. Transcrevo aqui um trechinho:

meu pai era um homem simples, mas carregava com ele a sabedoria da vida. Ele me deixou ensinamentos nas frases que gostava de usar para nos transmitir algumas lições, e uma das que me marcava é PARA MORRER, BASTA ESTAR VIVO. Uma grande verdade, mas a gente nunca pára pra pensar na partida quando se goza de plena saúde. E pensando que, para todos nós a qualquer momento pode ser a hora, eu não quero deixar de dizer às pessoas que são importantes para mim, que elas são.

Obrigada! Obrigada por tudo que me ensinas, talvez sem nem saber. Aquele olhar com afeto para objetos esquecidos, por me ensinar a admirar as cores e as formas inusitadas de usá-las, por me ensinar a ver com outro olhar as coisas e paisagens pelos caminhos desta vida.  Obrigada por me mostrar que  nos detalhes de tudo que fazemos está implícito o amor!”

Pausa para respirar e inspirar 20 vezes! Com a voz embargada agradeci à Cris pelo momento que me proporcionou. Ela é guerreira e tá se saindo vencedora dessa batalha da maneira mais linda, lutando dia a dia num tratamento desgastante e distribuindo por aí cartas de amor e verdades.

Na estrada da minha vida quase cinquentona já escrevi e recebi muitas, muitas cartas. Mas hoje, querido leitor, sabe por que divido com você essas palavras escritas a mão? Logicamente porque tocaram meu coração, e porque essa carta reforçou algo que é um grande valor na minha vida: a importância de se dizer o que sente, sem esperar o momento certo. Porque o momento certo é hoje, e agora!

p.s: o escritor e poeta da vida Alan Dias Castro traduziu mensagem semelhante em poucas palavras:

Guardar um sentimento bom é sufocar o coração que já não está cabendo em si. Por isso, dizer o simples é não deixar que a rotina nos engula, ou que o óbvio  nos intimide.

A gente aprendeu que ganha mais quem acumula, mas há certas coisas que só têm valor quando a gente divide. Apenas diga o que sente. Simplesmente.”

Beijos meus!


Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.

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