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Qual é a dieta certa para o meu dosha?
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A alimentação é um dos temas mais abordados na medicina ayurvédica. Será que existe uma tabela com uma dieta específica para cada tipo de dosha? 

No artigo anterior exploramos o que são os doshas, analisando como o nosso corpo se equilibra e se desequilibra. Também observamos que as mudanças no corpo são normais, já que estamos falando de um sistema complexo, aberto e adaptativo. 

Resumindo o que falamos no último texto, podemos dizer que não existem fórmulas que sirvam para todo mundo no Ayurveda, porque cada indivíduo tem as suas particularidades e o corpo muda conforme o tempo e o espaço.

Não se esqueça: dosha significa “aquilo que gera desequilíbrio”. Você não tem como “ser” um dosha. Você possui todos os cinco doshas dentro de si, com mais intensidade ou menos. De acordo com a sua constituição física, mas também com o seu momento de vida, a estação do ano, hora do dia. Entre muitos outros fatores, os doshas podem oscilar. 

Ahara

No Ayurveda, toda vez que falamos de alimentação, estamos falando de ahara. Ahara nada mais é do que a palavra em sânscrito para alimentação e existem cinco princípios fundamentais sobre esse tema:
1) rasa (os sabores), 

2) guna (qualidades), 

3) virya (potência de uma substância),

4) vipaka (efeito pós-digestivo da substância) e

dieta doshas

Crédito: Chelsea Shapouri | Unsplash

5) prabhava (o efeito específico da substância no corpo humano).

Desses elementos, o primeiro e mais crucial para a alimentação é rasa, o sabor. Tecnicamente, o sabor é o efeito no corpo do contato do alimento com a língua. Esse contato produz sensações diversas, prazerosas ou não, que modificam a nossa fisiologia.

E isso pode ser muito empoderador, porque significa que você mesma pode analisar o efeito de um alimento no seu corpo. E sem precisar ler estudos científicos ou consultar um especialista. A sua sensação deixa dicas importantes sobre o efeito do alimento na sua saúde. 

O Ayurveda considera que os alimentos são divididos em seis sabores, que são: svadu ou madhura (doce), amla (azedo), lavana (salgado), tikta (amargo), katu (picante) e kashaya (adstringente). Experimente um alimento e pense sobre qual sabor é predominante. Uma banana, por exemplo, é principalmente doce. Uma cenoura pode ser considerada, simultaneamente, doce e adstringente. E o gengibre? É picante? Fazendo uma análise atenta dos sabores de cada alimento você saberá o efeito dele sobre os doshas. A regra é clara: os alimentos são predominantes em sabores e os sabores afetam o corpo. 

Como cada sabor afeta os doshas 

Muitas vezes quando me perguntam qual é a dieta certa para o dosha, a tradução da pergunta é “como faço para apaziguar determinado dosha que está agravado?”. Mas a questão é que o dosha não fica só agravado ou apaziguado. Ele pode variar em cinco níveis: equilibrado, um pouco aumentado, muito aumentado, um pouco reduzido ou muito reduzido. 

É apenas com muita observação e ajuda profissional que é possível entender o que está desequilibrado no seu corpo e em qual grau. Muitas vezes podemos tentar diminuir um dosha que já está um pouco reduzido e acabamos nos desequilibrando ainda mais. 

Dosha e sabores

De acordo com o Ashtanga Hrdayam, um clássico ayurvédico de 1.500 anos de idade, os doshas se relacionam com os sabores da seguinte maneira: 

  • Vata pode ser apaziguado por svadu (doce), amla (azedo) e lavana (salgado);
  • Vata pode ser agravado por tikta (amargo), katu (picante) e kashaya (adstringente);
  • Kapha pode ser apaziguado por tikta (amargo), katu (picante) e kashaya (adstringente);
  • Kapha pode ser agravado por svadu (doce), amla (azedo) e lavana (salgado);
  • Pitta pode ser apaziguado por tikta (amargo), kashaya (adstringente) e svadu (doce). 
  • Pitta pode ser agravado por amla (azedo), lavana (salgado) e katu (picante);
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Crédito: Calum Lewis | Unsplash

Eu sei que tantos nomes em sânscrito podem causar confusão, mas o raciocínio por trás disso tudo é simples. Para entender a relação dos sabores com cada dosha basta ter em mente que, de acordo com os Samhitas, tudo o que não apazigua, agrava. Na prática, isso significa que, para cada dosha, três sabores apaziguam seus efeitos e os outros três os agravam.  

Em resumo, isso tudo significa que, da mesma forma que a alimentação pode apaziguar um dosha, ela também pode agravá-lo. E estar ciente desses efeitos de equilíbrio e desequilíbrio que a alimentação tem no nosso corpo é a base para navegar o mundo da nutrição humana sob a perspectiva do Ayurveda, mesmo sem saber sânscrito. 

É por isso que, mais uma vez, a palavra de ordem é auto-observação. Mais do que seguir uma dieta à risca, precisamos ter a sensibilidade de sentir como nosso corpo está reagindo e optar pelos sabores que melhor apaziguam ou agravam as necessidades de nossos doshas.

Você não é o que você come

Aliás, é importante dizer: nada disso funciona se você não estiver com fome. Sabe por quê? Escutamos a vida inteira que somos o que comemos, mas a verdade é que somos o que digerimos daquilo que comemos. 

A nossa digestão no Ayurveda é chamada de agni, cuja tradução do sânscrito é literalmente “fogo”. Também podemos entender agni como “fogo digestivo” e “capacidade digestiva”. E essa digestão tem a ver com tudo na sua vida, não apenas alimentos: pensamentos, relacionamentos, informações, emoções, o ar que você respira… 

Tudo que vem do externo para o interno e precisa ser processado, tem o envolvimento de agni. E, se o agni não está bom, não adianta comer “a comida que apazigua o dosha“. Porque é o agni que determina se você vai absorvê-la ou não.

Equilíbrio dinâmico

 Como já dissemos várias vezes aqui na Vida Simples e no Vida Veda, a auto-observação é essencial em todos os aspectos da sua vida. E, quando pensamos em alimentação, se observar deve ser sempre o primeiro passo. 

O equilíbrio dinâmico do corpo não pode ser mantido por uma lista fixa de alimentos. Você muda ao longo da sua vida, das estações, dos anos, e do dia. A liberdade de se alimentar no Ayurveda começa com o entendimento do que é ahara e seus seis sabores. 

Reflita por um momento: quantas vezes essa semana você parou para sentir os sabores da sua refeição? Com que frequência você planeja um prato pensando na presença dos seis sabores e em como vão afetar a saúde do seu corpo? 

Não generalize, se observe. Generalizar é não honrar a sua individualidade e complexidade. Observe o dia, o seu agni, a disposição do corpo, o apetite e o que compõe cada uma das suas refeições. É tudo complexo e, ao mesmo tempo, maravilhoso, como você. 

Esse artigo foi baseado em uma aula que eu dei no curso gratuito A Essência do Ayurveda. Se você quer conhecer um pouco mais sobre esse assunto, você pode assistir a aula no YouTube.

Obrigado pela leitura e lembre-se sempre: SAÚDE É LIBERDADE!


Matheus Macêdo é o primeiro brasileiro a se formar em medicina na Índia com especialidade em Ayurveda no curso BAMS (Bachelor in Ayurveda, Medicine and Surgery). Viveu na Índia quase 7 anos e de lá criou a Vida Veda, uma empresa social dedicada a divulgar o conhecimento ayurvédico em língua portuguesa. Carioca, vive em Guimarães, Portugal, e percorre o mundo dando palestras sobre Ayurveda e Medicina Integrativa.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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