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Precisamos aprender a “soltar o copo”
Tyler Nix | Unsplash
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Muitos dos sofrimentos que carregamos ao longo da vida decorrem do fato de insistirmos em continuar num palco, cujas cortinas já foram fechadas. No texto desta coluna, Patrick Santos conta o que um copo tem a ver com o momento decisivo para abrirmos mão daquilo que já não nos preenche mais.

Semana passada, recebi de um amigo um vídeo curto pelo WhatsApp que me ajudou a enxergar alguns aspectos da vida e de como muitas vezes nos apegamos a situações que nos arrastam por caminhos perigosos.

Incrível como uma mensagem de pouco mais de um minuto se assentou em mim com tamanha anuência que meu silêncio apenas intuiu: “É isso!”. Adoro quando a vida se comunica comigo no flow.

O peso das coisas

O vídeo começa com um professor numa sala de aula, segurando um copo d’água relativamente cheio. Com um sorriso no rosto ele pergunta aos seus alunos: “Quanto pesa esse copo de água?”

As respostas variaram entre 100g e 350g.

Ele, então, responde: “O peso absoluto não importa. Depende de quanto tempo você o segura. Se eu segurar por um minuto, não tem problema. Mas se eu o segurar durante uma hora, ficarei com dor no braço. Se eu segurar por um dia meu braço ficará amortecido e paralisado. Em todos os casos, o peso do copo não mudou. Mas, quanto mais tempo eu o segurar, mais pesado ele ficará”.

Sob o olhar atento dos alunos, o professor prossegue: “O estresse e as preocupações da vida são como este copo. Eu penso sobre eles por um tempo e nada acontece. Eu penso sobre eles um pouco mais de tempo e eles começam a machucar. E se eu penso sobre eles durante dias, eu me sinto paralisado, incapaz de fazer qualquer coisa”.

“Às vezes, um problema é pequeno e leve, mas, de tanto que o seguramos, ele se torna mais pesado do que é“, disse.

O sábio professor finaliza o vídeo explicando: “Problemas existem, mas chega um momento que precisamos deixar de pensar neles. Então meus queridos, lembrem-se sempre de largar o copo”.

Uau, é isso! Precisamos aprender a largar o copo.

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A vida pede mudanças

Quem me lê aqui em Vida Simples com certa frequência já notou que eu gosto de falar sobre sincronicidades, fazer ligações entre coisas aparentemente desconexas, mas que são carregadas de algum significado.

No dia em que recebi o vídeo, estava na antessala de um Fórum de Justiça, em São Paulo, onde fui testemunha de um processo de divórcio que se arrasta já alguns anos. Uma das partes envolvidas na separação reluta em aceitar um acordo e faz do processo a grande batalha de sua vida.

Ao assistir ao vídeo, momentos antes de entrar na sala onde a audiência transcorria, não tive como não pensar sobre a situação bem diante dos meus olhos e de como muitas vezes insistimos em continuar num palco cujas cortinas já foram fechadas.

Claro, um processo de separação nunca é fácil. Muitas coisas estão envolvidas como filhos, partilha de bens, sentimentos feridos e sonhos frustrados. A lista é enorme. Leva um tempo até as coisas se assentarem minimamente. E é sempre necessário um período para viver o luto.

O problema passa a ser quando não damos fim a algo irremediável, transformando a vida num grande sofrimento sem data de validade.

Há momentos em que precisamos soltar o copo.

Ao entrar na sala diante do juiz, advogados e partes envolvidas, senti o quanto a energia daquela situação afeta a todos. Não existem vitoriosos. Rostos tensos, falas carregadas e uma distância absurda de uma verdade mais profunda. O pior é que, lá no íntimo, sabemos disso, mas o que normalmente fazemos? Seguramos o copo e, como disse o professor do vídeo, o tempo vai passando e ele vai ficando pesado demais a ponto de nos jogar numa vida sem encanto.

Vou além, ainda que possa estar simplificando um pouco as coisas.

Você já parou para pensar o quanto se gasta de tempo, dinheiro e energia para levar adiante coisas que a própria vida está nos pedindo para mudar?

Trabalho

Nesses tempos pandêmicos em que, mais do nunca, estamos sendo obrigados a procurar novos caminhos, está difícil encontrar alguém que não esteja passando por mudanças em algum aspecto de sua vida. Lidar com o novo não tem sido fácil. O aumento de casos de depressão, ansiedade e síndrome de burnout está aí para nos mostrar como as coisas têm caminhado. Estamos vivendo uma era disruptiva.

Claro que, em muitas dessas doenças emocionais, há aspectos mais profundos que precisam ser trabalhados, mas não posso deixar de observar também — numa linha imaginária paralela — que muitos distúrbios podem ser minimizados se aprendermos a soltar o copo e entender que a maior das crises é a ausência de si.

Quanto estamos imersos num problema, precisamos nos afastar para conseguir vê-lo em todos os aspectos.

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O corpo fala e o semblante não esconde

No livro “45 Do primeiro tempo – O que o sabático me ensinou sobre propósito de vida e carreira”, eu conto em um dos capítulos o quanto que o meu semblante revelava a carga de estresse que meu corpo carregava e que meu estômago não estava dando conta de digerir uma rotina extenuante e vazia de significado depois que o meu trabalho deixou de ter sentido pra mim.

Trazendo para a analogia da explicação do peso do copo que motivou este texto da coluna de hoje, vejo por quanto tempo sustentei uma situação achando que o problema estava fora. Na posição de vítima, gerei os vilões aos quais atribuí o poder de me colocar naquela situação. Encontrei o pretexto para viver em crise.

O trabalho estava lá, era o mesmo de outras tempos. Eu é que tinha mudado. Acontece que, sem enxergar isso, dei a ele um peso muito maior e quase sucumbi.

Ainda bem que chegou o dia em que consegui soltar o copo.

E você, tem conseguido soltar o copo?

Leia todos os textos de Patrick Santos em Vida Simples.


PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, tem dado menos peso às coisas.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

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