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Por que temos tanto medo da rejeição?
Dollar Gill | Unsplash
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Compreenda melhor o sentimento de rejeição para não ser dominado por ele e para poder viver as experiências da vida com mais potência e segurança.

Falar sobre a nossa potência é falar sobre a pulsão de vida que existe em nós. Pulsão de vida é um termo psicanalítico que fala sobre a nossa energia, a libido que nos move. É a ativadora dos desejos, do nosso interesse pelo mundo, pelas pessoas e pelo novo. É o nosso lado curioso, que estimula a coragem e a criatividade.

Para manter essa chama viva, é importante ficar atento a um sentimento que, muitas vezes, tira a força dessa chama. É o medo. O medo da rejeição, do julgamento, da crítica. O medo de não ser escolhido, da não aprovação.

Esse tipo de medo pode ter várias causas. Uma delas diz respeito ao hábito de viver em função do outro, do olhar do outro sobre você. Ficar excessivamente na posição de querer ser tudo para a chefe do trabalho, os pais, esposa, namorado, amigos, treinador, professora, orientador, paquera (ou outro personagem, dependendo da circunstância na qual se está inserido).

Quando isso acontece, vem a insegurança. Ficamos “despotencializados”. Por quê? Porque você acha que precisa fazer tudo certinho para as pessoas não lhe rejeitarem, já que criou a fantasia – e, até mesmo, a obsessão – pelo ser “o escolhido”, “a preferida”. Ou porque você fica se alimentando da aprovação desse outro e, se isso não ocorre, vem um sofrimento danado.

Menos ego, menos sofrimento

Essa dor de fundo narcísico é amarga. A famosa dor da rejeição. O ego fica tão machucado que é como se ele dissesse: “como assim, ela preferiu o outro e não a mim?”.

Pergunto a você: por que precisa doer tanto se a outra pessoa desprezou você? Por que ficar tão dilacerado com isso?

Esse dilaceramento – que é diferente da dor de ficar triste porque não foi correspondido –, tem uma conexão com a imaturidade. A criança quer continuar sendo tudo para os seus cuidadores. O ser perfeito, completo. Faz parte dessa fase da vida ser assim. Agora, já grandinho, é preciso abandonar, em grande medida, essa posição.

E isso pode ser feito começando a entender que ganhar e perder faz parte da vida. Ser escolhido e não ser também. Ser elogiado por ter feito algo, também. Não ser elogiado porque o outro fez melhor, também. Se interessar por alguém e essa pessoa se interessar por você, faz parte, assim como faz parte ela se interessar por outra. Ter amigos que lhe escolhem como amigo também, assim como ter pessoas que não querem nossa amizade.

Aceitando nossos limites

Querer ganhar, ser correspondido nas escolhas amorosas, tirar dez ou conquistar um objetivo são coisas que mostram nosso empenho com os nossos desejos. E isso é algo que nos cabe fazer, na verdade, é o que dá para fazer. E isso nos move.

Porém, se ficamos obsessivos com a fantasia do ser perfeito e completo para os outros nos escolherem, estamos tentando forçar algo que vai contra a vida. Ninguém é perfeito ou dotado de superpoderes que o torna superior às outras pessoas. Em muitos momentos não seremos escolhidos.

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Todos temos nossos limites. Sabemos fazer algumas coisas e não sabemos outras. Temos uma beleza e o outro tem outra. Somos interessantes por alguns motivos e não somos por outros. Entendemos de alguns assuntos, mas não entendemos de outros. Temos determinados talentos e não temos outros.

Isso é libertador porque nos coloca e nos lembra da nossa condição de humanos.

O reencontro consigo mesmo

Esses aprendizados contribuem para uma importante mudança subjetiva: a de abandonar as posições imaturas de onipotência narcísica, de ficar girando na órbita do outro para ele lhe desejar, aprovar ou para você mostrar a ele que você é um ser incrível.

Essa mudança também é o momento em que aprendemos a nos voltar para a nossa própria órbita. Grudamos nos nossos desejos e seguimos com eles, acolhendo os louros e as frustrações, perdas e ganhos. Surge, com isso, um sentimento de autonomia, porque não é mais necessário que um alguém aprove-o para se sentir seguro de si mesmo. Ou mesmo inseguro porque não o aprovou.

A dor da rejeição não é mais tão amarga. E o viver pode ser ainda mais fascinante, independentemente de sermos os escolhidos ou não.

Confira todos os textos da coluna de Keila Bis em Vida Simples.


KEILA BIS é uma psicanalista e jornalista ([email protected]) que adora compartilhar segredos do autoconhecimento para um viver sem neuras. Dizer adeus ao complexo da rejeição é um deles.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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