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Os desafios do binômio tempo e idade
Johnny Cohen | Unsplash
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Tempo e idade formam um binômio. Em álgebra, um binômio consiste em dois termos ligados por um sinal de adição ou de subtração. Não há nada mais ligado entre si do que tempo e idade. É realmente um binômio. O título da capa da edição 243 de Vida Simples é “Tudo tem seu tempo”. Por isso, nesta coluna vamos tentar equacionar este binômio de forma a entender bem o que se soma e o que se subtrai com a passagem do tempo e o aumento da idade.

 

Não há dúvidas de que a longevidade da espécie humana está aumentando. Em países mais desenvolvidos, onde as condições de alimentação, higiene e acesso aos serviços de saúde sempre foram melhores, a longevidade já cria uma população de idosos bem maior e o surgimento crescente de novos centenários e centenárias nem surpreende mais as pessoas. Consequentemente, esse aumento exige investimentos e algumas adaptações do ecossistema onde habita essa população com mais idade.

Aqui entre nós, novos centenários ainda são notícia, embora cada família já deve ter o seu ou, pelo menos, a maior presença de pessoas em idade avançada. Como já aconteceu por aí, o nosso ecossistema também vai se adaptando e dando a impressão que isso basta.

Em uma abordagem de caráter coletivo, ver o poder público se mobilizando para legalmente dar aos idosos lugares privilegiados em filas e vagas reservadas em estacionamentos é, sem dúvida, um bom sinal de acolhimento. Ainda, pelo ângulo do coletivo, ver organizações não-governamentais dedicadas ao amparo e engajamento desta população mais velha é também um alento.

Mas, neste binômio de passagem do tempo que produz idade, ainda falta um elemento. É uma análise direta dos aspectos que dizem respeito às atividades, capacidades, limitações e até chances do engajamento reverso.

O ecossistema acolhe o idoso mas será que idoso se engaja neste ecossistema aparentemente acolhedor? É disto que a gente vai tentar falar aqui.

MAIS DE FÁBIO GANDOUR: Como viver 300 anos

O ser e o estar no tempo

O ser no tempo não consegue alterar a sua passagem. O tempo passa e o ser acumula tempo passado. Portanto, envelhece. Ser no tempo é assim, vai-se envelhecendo. E como é estar neste ambiente? Ser é parte de você mesmo e, portanto, inalterável. Mas, fazer este ser estar é um grande desafio.

Você envelheceu e agora está em um ambiente que já não é mais seu. Não foi você que construiu. Você apenas está nele. E aqui está o primeiro aspecto a ser considerado na composição do binômio tempo & idade: a cada tic do relógio, o instrumento que mede a passagem do tempo, o ambiente que te cerca é cada vez menos seu. Em geral, você só está nele.

Preciso pontuar o quão complexo e extenso é esse tema, e aqui coloco apenas algumas observações. O relato que vem a seguir remonta uma memória antiga, mas muito esclarecedora, principalmente para os tempos atuais. Lá vai…

Andava eu e uma colega de trabalho, de carro em uma rua de uma cidade deste Brasil. Na frente de uma escola, que na época se chamava “de segundo grau”, o sinal fechou para que os estudantes atravessassem a rua. Quando o sinal abriu e começamos a andar novamente, comentei:

— Viu só que pessoal bonito tem esse lugar?

No que ela me respondeu:

— Fábio, a juventude é muito bonita. Pena que se esvai no tempo…

Enquanto meu comentário tinha uma inclinação meio inconsciente, a reposta da minha colega revelava um lado da existência que, se naquela época já era perceptível, hoje é muito mais valorizado neste ambiente de constante e crescente valorização da imagem do eu e de sua aparência.

Portanto, a conclusão — que bem pode ser transformada em recomendação —, é para os chamados idosos não se exporem a comparações estéticas com jovens. Isto só subtrai. E só dá certo nas mãos de agências de publicidade, quando criam propagandas para a televisão no Dia das Mães.

OUÇA: O que você vai ser quando envelhecer?

O binômio cria um brinde

Tempo e idade produzem um resultado inevitável, um brinde chamado experiência. Que muita gente tem, mas não sabe. E, por não saber, não usa. Não aproveita.

Mesmo que você não queira ter experiência, ela existe em você e é  diretamente proporcional ao seu tempo de estar no tempo. Experiência é o resultado do que você viveu. Vivendo, você aprende. Não importa muito sobre o que você aprendeu, mas, de fato, viver ensina. E, se você aprende o que te foi ensinado de maneira formal, o que aprendeu recebe o nome de conhecimento.

Quando o que você aprendeu te foi ensinado de maneira informal, na escola da vida, chama-se experiência. Quanto mais tempo de aprendizado formal, mais conhecimento. Quanto mais tempo de vida, mais experiência. Isso soma muito.

Fique ligado porque, de repente, o brinde do seu binômio está elevado ao quadrado! Você tem um bom conhecimento e uma boa experiência. Agora é hora de fazer uma autoanálise para identificar onde você é forte!

E para que serve tudo isso?

Serve para você não entrar em barcas furadas.

Serve para você não comprar brigas perdidas.

Serve para você não se expor a situações que vão te magoar ou abalar a sua autoestima.

Serve para você manter uma certa competividade pessoal.

Depois de me dedicar a analisar esse assunto a partir de mim mesmo, é claro que dá vontade de escrever uma longa lista de “do’s & dont’s” – faça e não faça – mas esta lista teria um caráter prescritivo e como costuma acontecer, serviria para uns, mas não para todos. Aqui, é você que deve criar a sua própria lista.

Estar no tempo pode consumir muita coisa, mas não altera a vontade de ser reconhecido. De ser valorizado. Nem muda a necessidade de se sentir produtivo e, às vezes, até de ganhar dinheiro se engajando profissionalmente em algum trabalho.

Para superar os limites do tempo

Para atingir o momento de superação dos limites impostos pelo tempo de ser e estar no tempo, algumas manobras são essenciais e, novamente, não vai dar para listar todas neste artigo.

Mas, selecionei duas sugestões, as mais fáceis de serem entendidas e praticadas.

A primeira é tentar evitar a competição com os elementos que caracterizam a juventude. Portanto, não encare competições que comparam força física de halterofilista e nem agilidade de trapezista. Muito menos as que exigem a beleza daquela juventude mencionada pela minha colega há muito anos.

A segunda é valorizar a sua experiência e o seu conhecimento e, se houver competição, trazê-la para esta arena. Nem sempre é possível, mas se for, nesta arena você é imbatível! Simplesmente porque está no tempo há mais tempo!

Leia todos os textos publicados na coluna de Fábio Gandour em Vida Simples.


FÁBIO GANDOUR é formado em medicina e dedicou-se à pesquisa científica. Esta trajetória consumiu tempo. Ao longo deste tempo, acumulou grande experiência em alguns temas que considera importantes, principalmente para os formuladores de decisão em negócios. Mas demorou um pouco para entender como usar esta experiência. Foi esta a sua principal motivação para escrever esta coluna.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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