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O valor das histórias por trás das rugas no rosto
Chino Rocha | Unsplash
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Rugas no rosto e marcas de expressão, todos teremos. Isso é imperativo da passagem do tempo, mas um olhar mais vivo, um semblante mais leve e um sorriso genuíno daqui a algumas décadas dependem de outros fatores. Bora olhar para o espelho?

Semana de aniversário é sempre um período especial. Curto a data, mas também aproveito para refletir um pouco sobre a vida. Se bem que…”Refletir sobre a vida” para um geminiano com ascendente em libra é praticamente redundante.

O fato é que cheguei aos 49 anos no último dia 11 de junho. Pela antroposofia, uma linha de pensamento que estabelece uma “pedagogia do viver”, estou entrando no chamado oitavo setênio (como são chamados os períodos de sete anos), que se estende até os 56 anos. É aquele momento em que se nota um declínio da vitalidade física ao mesmo tempo em que se acentua um desenvolvimento espiritual. Para ser mais direto, é a fase da vida que nos convida a olhar mais para dentro. Confesso que essa tem sido a minha “viagem” atualmente.

Remexendo meus livros nesses últimos dias para uma resenha que estou escrevendo, deparei-me com uma frase grifada no delicioso Viagens com Epicuro, de Daniel Klein, que traz logo em seu primeiro capítulo: “infelizmente, passada uma certa idade, todo homem é culpado do rosto que tem”.

Uau fui capturado pelo trecho. Não tive como não refletir. E é sobre isso que quero falar nesta minha coluna de hoje em Vida Simples.

Bora conversar com o espelho?

Nossa história

Sim, o rosto conta a nossa verdade como ser humano. A cara que ganhamos é o resultado das decisões que tomamos e das experiências resultantes dessas escolhas ao longo da jornada. E cada um tem a sua.

Prestes a completar meio século de existência, tenho sentido isso muito forte em minha vida. Trocar uma ideia com o espelho tem sido uma experiência um tanto quanto desafiadora.

Lembrei-me daquele aplicativo que fez muito sucesso uns tempos atrás nas redes sociais que nos permitia enxergar como estaríamos fisicamente quando velhos.

A ferramenta é bem engraçada e muitas personalidades embarcaram na brincadeira que utiliza a inteligência artificial para projetar a nossa passagem no tempo. Dei boas gargalhadas à época ao me deparar com um Patrick bastante enrugado no futuro.

Mas fiquei pensando em algo que a tecnologia ainda não é capaz de captar: a real vida que levamos dentro de nós, aquilo que não conseguimos esconder de jeito nenhum. Ela mudaria muitos semblantes que correm pelas timelines do Instagram envelopados numa falsa verdade.

O rosto que seremos no futuro, carregará muito do nosso estado de espírito ao longo dos anos. Essa é a verdade que talvez só o tête-à-tête com a vida seja capaz de nos mostrar.

Rugas e marcas de expressão, todos teremos. Isso é imperativo da passagem do tempo, mas um olhar mais vivo, um semblante mais leve e um sorriso mais genuíno daqui algumas décadas dependem de outros fatores.

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Beleza bruta

No livro Viagens com Epicuro, o autor conta que os moradores de uma ilha na Grécia costumam dizer que, no rosto de um homem que sobreviveu a experiências desafiadoras, a velhice escreverá belas marcas. É o rosto que fez por merecer, e sua beleza bruta está na vida vivida com plenitude por ele expressa.

Talvez seja por isso que muitas vezes nos sentimos bem quando estamos ao lado de alguém que já atingiu uma certa idade e que, em seu semblante, nos passa um sentido de verdade em tudo que viveu. Podemos olhar para suas marcas de expressão, seus cabelos mais ralos e brancos e extrair uma beleza genuína que conversa com algo muito profundo dentro da gente. É aquilo que gosto de chamar de anuência do “Ser”, a verdade intrínseca.

Pena que valorizamos muito pouco esse tipo de beleza mais bruta nos tempos atuais. A corrida pela “eterna juventude” ainda move grande parte da nossa existência.

Realidade

Você pode estar pensando: “mas como conseguir um semblante mais sereno, uma vida mais plena com tudo isso que estamos atravessando como humanidade: pandemia, guerras, aumento da pobreza e uma sociedade cada vez mais doente?”

É verdade, são tempos bem bicudos, talvez estejamos vivendo um dos períodos mais complexos de nossa história, mas é preciso seguir.

Semana passada, conversando no meu podcast, o 45 Do primeiro tempo com a Marcia Lerinna, fundadora do “Human Code“, uma ferramenta de autoconhecimento que utiliza a nossa data de nascimento para nos apontar os reais potenciais humanos, ela trouxe uma reflexão budista que reverberou muito forte em mim: “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”.

Sim, não há como fugir da dor, podemos até tentar, mas será em vão. O melhor caminho é acolher e entender que tudo nos direciona. Como ela mesmo fez questão de dizer no final da nossa conversa: “A vida não é sobre o que é bom ou ruim, a vida é sobre o que funciona”.

Às vezes, aquilo que aparentemente parece o pior dos mundos é apenas a vida nos apontando novas direções. Muitas vezes a perda de um parente querido nos ajuda a entender mais sobre o sentido da vida, sobre o amor.

Quem lhe garante, por exemplo, que ser demitido de um trabalho não seja a melhor forma de te colocar em movimento, de lhe ajudar a encontrar seu verdadeiro propósito?

Nada é em vão. A vida é sábia. Mas é sempre bom dar uma olhada no espelho e conversar com seu “Eu” verdadeiro. Ele tem todas as respostas.

Enquanto isso, nesses meus primeiros dias de oitavo setênio, sigo encarando meu espelho. Confesso que não é simples aliviar um pouco esse meu cenho carrancudo, mas continuo tentando, afinal a vida não é sobre chegar, e sim, sobre caminhar.

E aí, o que o seu rosto lhe conta? Comenta aqui!

Leia todos os textos de Patrick Santos em Vida Simples.


PATRICK SANTOS (@patricksantos.oficial) é jornalista, escritor e apresentador do podcast 45 Do primeiro tempo que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. É autor também do documentário “Pausa”. Depois do sabático em 2018, tem se permitido olhar para vida por outras direções.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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