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O que é sustentabilidade emocional?
Haley Phelps | Unsplash
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Você já ouviu falar em sustentabilidade emocional? Nesta coluna, Ana Paula Borges nos aponta que o estresse é uma reação inevitável do corpo, já que essa é uma programação biológica de proteção. Entretanto, é possível gerenciar o impacto que o estresse tem em nós. Para tanto, a colunista nos explica a importância de sermos “emocionalmente sustentáveis”. Entenda o que isso quer dizer no texto a seguir.

Não podemos fugir do estresse. Ele é uma reação fisiológica, que nos protege. Ao menor sinal de perigo ou de alguma ameaça próxima, os nossos cinco sentidos levam essa informação até a amígdala cortical, uma pequena estrutura de forma amendoada, localizada na profundidade dos lóbulos temporais, que coloca todo o nosso corpo em prontidão para lutar ou fugir. Essa estrutura, fortemente relacionada às emoções básicas, como raiva e medo, é a grande responsável pelo nosso instinto de sobrevivência.

Entretanto, essa sentinela das emoções também pode ser disparada, mesmo que o perigo esteja só em nossa cabeça. Basta o cérebro achar que estamos sendo ameaçados ou com medo como, por exemplo, quando sentimos receio de ficar sozinhos, de não ser reconhecidos profissionalmente ou de não termos dinheiro para nos sustentar. Essas interpretações causam micro episódios de estresse diários, que sobrecarregam nosso corpo como se estivéssemos de fato em uma situação limite, como à beira de um penhasco ou sozinhos, no meio do oceano.

Toda essa frequente descarga hormonal estressa o corpo e a longo prazo, fragiliza sua saúde e o coloca em estado contínuo de hipervigilância. A ansiedade e a preocupação contínua impedem que seu corpo se recupere, tornando-se intoxicado. Além disso, suas emoções tornam-se superdimensionadas, fazendo com que você reaja a tudo e à todos como se estivesse sempre em um campo de batalha.

Você, às vezes, sente-se assim? Refém das situações e dos acontecimentos que não pode controlar, encharcado de emoções conturbadas, que minam seu equilíbrio e bem-estar?

E se eu te dissesse que é possível desenvolver estratégias de gestão mental e emocional para aprender a lidar com a imprevisibilidade e os desafios que a vida te impõe, com mais sabedoria e resiliência?

É justamente disso que se trata a ideia de “sustentabilidade emocional”.

Abrindo mão da necessidade de controlar tudo

Os acontecimentos do lado de fora são mutáveis, imprevisíveis e, muitas vezes, inesperados. Nem sempre as coisas acontecem de acordo com as nossas expectativas. Muitas vezes, sentimos que ficamos irritados e frustrados com a forma com que a vida se desenrola.

Não há garantias sobre como será o amanhã. Mesmo que a gente deseje ter certezas, isso não é possível. A ideia de que controlamos as situações não é verdadeira.

A única parte da experiência da vida que temos controle parcial diz respeito à nós mesmos, ou seja, à forma como pensamos, sentimos e agimos.

Mas, por que, então, insistimos em querer controlar as pessoas e as situações? De onde vem essa ideia fantasiosa que nos deforma e transforma em seres apegados e tão controladores?

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Estrutura interna versus alicerces externos

A maioria das pessoas constrói sua base e sua estrutura interna com alicerces externos. Depositam grande parte de suas fichas no trabalho, nos relacionamentos, na vida social, na sua aparência física ou no governo e na economia.

Com essa decisão, transferem seu poder para o lado de fora e passam a vigiar tudo e todos para garantir que atendam ao roteiro que desenvolveram. E, assim, tornam-se cada vez mais suscetíveis às flutuações e às circunstâncias externas, que não podem controlar.

É possível desenvolver uma outra forma de estar no mundo. Uma forma que garanta à você mais força, solidez e centramento interior. Em outras palavras: sustentabilidade emocional.

Isso não significa que você ficará imune aos desafios e às preocupações, mas, sim, que aprenderá a lidar com eles de uma forma mais positiva e sábia. Isso acontece quando você se responsabiliza e se compromete com o que pode transformar, deixando fluir e ir o que está além das suas possibilidades.

Topa fazer um exercício rápido?

Respiração: o caminho do centramento e da alegria

Comece a observar a sua respiração de forma consciente. Ao continuar lendo esse texto, vá diminuindo o seu ritmo respiratório, percebendo o ar entrando e saindo pelas narinas.

Inspire longa e profundamente e solte o ar completamente.

Se esvazie, deixe ir.

Volte a inspirar e permaneça observando a sua respiração por alguns minutos.

Quanto mais atento, focado e inteiro você estiver, mais aprofunda a sua conexão interior.

Se quiser, pare um pouquinho de ler e feche os olhos. Fique assim por alguns minutos.

………..

Tornando-se emocionalmente sustentável

Nossa respiração é como um fio que nos conduz, partindo de um ambiente frequentemente agitado, cheio de ruídos e fragmentado, para um local mais sereno, quieto e pacífico.

Ao respirarmos de forma voluntária, criamos uma ponte imaginária que nos transporta do externo (que nos faz reagir frequentemente) para nosso universo interior (um lugar de maior clareza e coesão).

À medida que você vai atravessando essa ponte, sente-se ainda mais relaxado, leve e ancorado por sua própria presença.

Sim, sua própria presença. Ao respirar conscientemente e avançar nessa ponte imaginária, você começa a perceber que pode observar seu estado mental, emocional, seu corpo físico e sensações, sem se identificar.

Apesar dessas dimensões fazerem parte de você, elas não são necessariamente você. Quando você percebe isso, posiciona-se no estado de observador das situações, de seu comportamento e de sua vida. Você entende que faz parte de um grande sistema, interconectado com muita pessoas e eventos, mas olha isso tudo a partir de seu eixo inteiro, ancorado em seu próprio eu.

É desse lugar que você deveria estar no mundo e lidar com as situações. É desse lugar que deveria fazer escolhas, conversar e se relacionar. Desse oásis mais pacífico e sereno.

Dessa forma, mesmo estando imerso na agitação do mundo, você consegue se sentir mais preparado para lidar com tudo a sua volta.

Consciente de sua inteireza e força, é capaz de olhar para a vida e compreender que possui um leme em suas mãos e que é você quem maneja as suas emoções e a forma como reage ou se relaciona com o mundo. Ao estar assim, você resgata seu equilíbrio. E isso é poder pessoal. Isso é sustentabilidade emocional.

Leia todos os textos da coluna de Ana Paula Borges em Vida Simples


ANA PAULA BORGES (@anapaula_borges1) é fundadora da FlowMind, uma instituição que ensina e promove a meditação como ferramenta de autoconsciência. Seu barquinho muitas vezes ainda se assusta quando percebe que o mar está encrescapado e há uma tempestade à vista, mas ela já sabe que o leme está em suas mãos e ela tem sempre escolha de como vai fazer a travessia.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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