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O fenômeno do amador profissional de faça-você-mesmo
Nathana Rebouças | Unsplash
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Na coluna deste mês, Hilaine Yaccoub explora o fenômeno dos criadores que compartilham seus conhecimentos nas redes sociais profissionalizando suas paixões e seus hobbies. 

Com a era digital, um dos fenômenos mais avassaladores no campo do trabalho é a possibilidade de criação de novos campos de atuação profissional.

Antes, estávamos presos a determinismos das carreiras técnicas, bacharelados e prestação de serviços restrita. Agora, com o poder da inventividade e ludicidade que a Internet nos proporcionou, as carreiras passaram a ser cada vez mais de nicho. Foram reinventadas, revistas e muitas outras passaram a existir.

O amador profissional

Não é raro vermos profissionais sendo indicados em grupos de Facebook, como o “Agenda Carioca”, grupo em que se troca e se informa sobre praticamente qualquer serviço, do marceneiro tradicional ao personal chef. Ou, principalmente, por meio do Instagram, através da arte da fotografia que se transveste de trabalho para as mídias sociais.

Fotógrafos amadores ou profissionais agora se especializam em captar looks de blogueiras nas ruas, assim como pratos de comida que aguçam nosso paladar e nos seduzem os olhos — o profissional food stylist tem esse desafio. Até mesmo artistas que fazem colagens digitais e vendem suas obras numeradas em série “via encomenda pelo direct” (como chamam a mensagem direta do Instagram).

O diálogo entre os mundos on e offline e o movimento das redes potencializam qualquer setor de forma massificada chegando a grandes proporções. Aulas são dadas em lives com consultores profissionais, como a consultora de estilo Joana Montenegro (@joanamontenegro_) que discute e ensina formas variadas se saber lidar com suas roupas, cores e truques para potencializar sua melhor versão e aceitação do seu corpo.

Os tutoriais ganharam versões profissionais: têm edição, identidade visual a ponto de virar a grande chance de quem os produz. Promovem a orientação de como se virar quando se está infeliz no seu trabalho, desempregado ou quando a grana está curta: “FAÇA VOCÊ MESMO E VENDA”. O DIY agora tem um aposto: “Do it yourself ‘and make some money'”.

Hobby como fonte de renda

Preste atenção, o hobby agora pode ser sua fonte de renda, o gosto pelas compotas pode tirá-lo do escritório chato e, de repente, com o approach certo, você pode virar uma web celebridade das redes sociais no campo do ofício.

É muito mais do que ser famoso, é ser notado pelas suas competências, habilidades, carisma e comunicação. O desafio é entender como usar produtos e serviços. Afinal, como ser relevante para as pessoas?

Certo dia eu conheci o perfil em uma rede social de uma dona de casa que compra produtos (para ela mesma) e faz o unboxing dos eletrodomésticos e apetrechos da casa. São vídeos de abertura e análise da descrição contida nas caixas dos produtos. Ela os usa na frente das câmeras e ensina como funcionam, elabora críticas pautada no praticidade, indica pontos positivos e negativos, lê manuais e dá o seu veredicto.

Pasme você, ela tem milhões de visualizações. Não é patrocinada por qualquer marca, compra e mostra a nota (como comprovante) de tudo que apresenta para seus milhares de expectadores. Ela é confiável, me poupou de comprar um aspirador de pó modernoso, mas que, na verdade, não possui o desempenho que eu buscava.

Como essa youtuber da vida doméstica, dezenas de milhares de pessoas comuns estão lá se profissionalizando na sua capacidade de usar produtos, comunicar, transgredir as formas comuns de trabalho e cá estamos nós sendo influenciados pelos microinfluenciadores que ganham destaque por não serem produtos de agências de publicidade.

O boca a boca sai da calçada, da reunião das amigas da igreja, do turma fechada e literalmente ganha o mundo.

O YouTube virou uma grande plataforma que faz a roda da fortuna girar: ensina, orienta, diverte e deixa de presente para cada um de nós o resultado do consumo investigativo.

Observamos que dependendo do uso, a vida online pode ser uma oportunidade profícua, basta saber usar sendo protagonista ou audiência.

Leia todos os textos da coluna de Hilaine Yaccoub em Vida Simples.


HILAINE YACCOUB (@hilaine) é mestre e doutora em Antropologia do Consumo. Como pesquisadora, palestrante e consultora, há 20 anos aplica a Antropologia Estratégica nas empresas traduzindo comportamentos, movimentos culturais e lógicas de consumo das pessoas para a construção de soluções, entendimentos e tomadas de decisão assertivas.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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