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O equilíbrio das leis do mar (e da vida)
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As leis no mar são duras e ríspidas, entretanto, elas não mudam e quem pretende cruzar um oceano sabe que tem que se preparar para elas.

O mar é um território que normalmente é literalmente áspero. A vida entre os elementos ar e água muitas vezes é muito dura, mas você sabe o que ajuda um velejador a viver relativamente seguro neste ambiente?

Pela minha experiência duas coisas são fundamentais. Primeiro porque apesar das leis no mar serem duras e ríspidas, elas carregam com elas uma simplicidade, e uma clareza que as tornam justas. Entretanto, as leis no mar não mudam e quem pretende cruzar um oceano sabe que tem que se preparar.

Essa precisão já foi citada em verso por Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso”.

Preparo e deveres

O segundo aspecto que pode garantir uma navegação segura é que quem vai ao mar sabe que a vida embarcada exige cumprir seus deveres. No mar ninguém tem direitos, apenas deveres. Contudo,  e por mais estranho que pareça, essa é uma forma muito harmônica de se viver.

No mar não cabem desejos, apenas necessidades. E esse sempre foi o meu foco em minhas viagens. Por exemplo, presta atenção em meu companheiro, ficando atento às suas necessidades. Essa foi uma das atitudes que colaboraram para o sucesso das viagens. Claro que a atitude recíproca sempre existiu.

Estar em segurança

Ainda se tratando de viagens marítimas, uma coisa é certa. Todo velejador que parte sabe aonde quer chegar, e tem bem claro como deve proceder para ter uma navegação segura.Agora faço um contraponto com a nossa vida imprecisa. Você sabe aonde quer chegar? Já fez um exercício mental para imaginar o que precisa para esta travessia?

leis do mar

Crédito: Markos Mant | Unsplash

Vejo com muita estranheza como levamos uma vida incoerente e distante das leis da natureza. Apesar disso e mesmo sabendo disso vivemos procurando culpados para justificar o nosso fracasso pessoal. Em nossa sociedade você nunca viu alguma passeata para reafirmar seus deveres. O resultado deste desequilíbrio é percebido claramente em nossos dias.

Qual é o seu destino?

Mas vou um pouco além e faço outra reflexão. Quem é a alma do barco? Certamente a tripulação. Existe algum barco que não sabe para onde ir, ou o que fazer? A resposta é não. Agora olhe para a sua vida em sociedade e imagine um grande barco. Não é difícil de entender o que está acontecendo.

Falta comando, planejamento, preparação e o senso de coletividade, para resumir bastante. Aqui em terra não temos as leis que nos fazem sentir seguros. Dessa forma, não sabemos aonde queremos chegar, e muito menos como. Para um velejador é muito difícil entender esta imprecisão. Entretanto, o que é possível fazer é o que tem sido feito. Escrever, compartilhar e expandir.

As condições do mar aberto

Chego em um ponto fundamental nessa reflexão. Imagine que ao partir para uma travessia você procure em mar aberto as mesmas condições que tinha em uma marina totalmente protegida. Isso é um contrassenso, pois ao partir o marinheiro sabe que a vida acontecerá nas calmarias, nas tempestades, nas noites mal dormidas, e nos dias calmos.

Essa busca obsessiva pela proteção cria uma casca chamada medo, que é formada por muitas camadas. Porém, são justamente elas que nos impedem de crescermos, e nos desenvolvermos. São estas camadas de “proteção” que nos impedem de receber as bênçãos da Vida.

Como entender sobre a resiliência se não vivermos a experiência da tempestade? Como aprender sobre o equilíbrio mental se não passarmos por uma calmaria? Por fim, como valorizar uma cama seca se não passarmos muitas noites mal-dormidas? Como dar valor a um simples dia de Sol se nunca nos privamos dele?

A essência do barco é navegar. Assim, a vida utópica de um navegador é estar sempre no meio do mar. Negar a essência do mar é negar a Vida.


BETO PANDIANI  é velejador, palestrante e escritor. Velejou da Antártica à Groenlândia, cruzou dois oceanos (Pacífico e Atlântico), sempre em pequenos veleiros sem cabine. Tem sete livros publicados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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