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O ano acabou: pausa para encarar quem não fui nos últimos doze meses
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Quando reconhecemos que podemos mentir para qualquer um, menos para nós mesmos, paramos de dar desculpas por não fazer o que a vida nos pede.

As últimas duas semanas do ano são sempre um pouco difíceis para mim. Nada a ver com correria de trabalho, preparativo de viagem e tarefas que ficaram pelo meio do caminho. É um período difícil porque é o momento em que me vejo frente a frente com o Patrick que não fui.

Não tem saída. É preciso enfrentar, afinal, um outro Patrick que também quer aflorar no ano que se aproxima.

Antes de começar a escrever este artigo, respirei fundo e encarei, no canto do meu escritório, a lousa com os post-its coloridos cujo título trazia: “Metas para 2021”.

O desconforto foi inevitável. Fui tomado por um barulho mental de questionamentos ao ter que admitir, para mim mesmo, que boa parte do que havia idealizado para o ano não se materializou, inclusive meu segundo livro.

Num primeiro momento, tentei me convencer de que realmente seria difícil dar passagem a todas as ideias e planos que estavam comigo lá em 2020. Muitas coisas fogem ao nosso controle, as prioridades mudam, a vida aponta para outros caminhos. Faz parte….

Foi inevitável também olhar para um outro aspecto que nos habita e que, normalmente, pouco visitamos: conversas mais profundas e sinceras.

Quando reconhecemos que podemos mentir para qualquer um, menos para nós mesmos, entendemos que muitos argumentos que pinçamos como justificas por não ter realizado algo. São desculpas para não fazer o que de fato a vida nos pede. E a vida conversa com a gente o tempo todo. O problema é que não a ouvimos com o devido cuidado. Preferimos resistir aos chamados e muitas vezes nos enganamos.

A vida não vivida

No livro “A Guerra da Arte”, o escritor Steven Pressfield nos lembra que a maioria de nós possui duas vidas: a que vivemos e a vida não-vivida, que existe dentro de nós. O que separa uma da outra? A resistência. É uma espécie de procrastinação muito conhecida por todos nós. Geralmente eu encabeço esse podium.

Quer saber qual é a sua vida? Quer saber se você está pintando a sua “Mona Lisa” ou refém da resistência? É só se perguntar se você é um escritor que não escreve (olha eu aqui arrumando desculpa atrás de desculpa para não encarar o teclado e escrever meu novo livro), um pintor que não pinta, um empreendedor que não empreende (olha eu novamente me escondendo para não lançar um projeto que há anos tenho comigo).

Se você for um desses, com certeza sabe o que é a resistência e está refém dela.

Quem está nesta barca comigo de metas não levadas adiante neste 2021?

Tudo está dentro de nós

O problema é que tentamos nos convencer de que a resistência vem de fora. Somos pródigos em buscar narrativas: é o trabalho que não valoriza nosso talento, é a esposa que não é parceira suficiente, o meu pai que não ajuda, o presidente que não melhora a economia, o sistema político que é corrupto e por aí vai… A lista é longa.

Temos dificuldade de admitir que a resistência tem apenas um nome: medo.

Enganar-se

O legal da definição de Pressfield no livro é que ele diz que o medo se apresenta com racionalização. Ele é muito esperto. Essa é a grande ferramenta da resistência, ou seja, usamos uma série de justificativas plausíveis, racionais para não fazermos nosso “trabalho” ou seja, aquilo que viemos fazer no mundo, colocar em prática uma palavrinha que está meio desgastada mas que é carregada de muita importância: o nosso propósito.

VALE A PENA: Atender o chamado do coração é dar ouvidos à voz interior

O interessante nessa “racionalização” é que a resistência se utiliza de um quê de legítima, de algo que passa um sentido verdadeiro. Por exemplo, o departamento na sua empresa está passando por uma reestruturação e exige mais de você e do seu tempo; a economia pode estar dando sinais de recessão, o que te pede mais cautela; a esposa pode estar no final da gravidez e precisa mais de você por perto. São muitos exemplos que vestem uma roupagem de sentido, mas quer saber o significa tudo isso? Não significa nada!

Talvez eu esteja sendo um pouco duro, mas a verdade é que, às vezes, precisamos encarar os nossos “post-its” com a devida honestidade

A luta

Nesta fase em que tenho “duelado” comigo para conseguir gestar um novo livro, me lembrei do que me disse a professora e filósofa Lúcia Helena Galvão, em uma das conversas que tivemos no meu podcast 45 Do Primeiro Tempo que fala muito sobre autoconhecimento.

Segundo ela, um dos segredos para conseguirmos viabilizar nossos projetos e fazer uma boa gestão do tempo é fugir da autossabotagem. Ela lembrou que o escritor russo Leon Tolstói (1828-1910) tinha 13 filhos e, mesmo assim, entre uma tarefa e outra, conseguiu escrever “Guerra e Paz”, um catatau de 1.200 páginas.

Viajei um pouco no tempo e, depois, voltei para o silêncio do meu escritório, mirando os post-its na parede e pensei: “como assim, não consegui escrever nem três capítulos do meu novo livro?”.

Está na hora de colorir a parede com tintas mais verdadeiras. O ano de 2022 está chegando e nem preciso dizer qual será minha meta!

E a sua prioridade, qual será?

LEIA TODOS OS TEXTOS DE PATRICK SANTOS.


PATRICK SANTOS é jornalista, escritor e apresentador do podcast “45 Do Primeiro Tempo” que semanalmente traz histórias de pessoas que se reinventaram. Depois do sabático em 2018, vive fazendo planos, mas alguns deles não saem dos post-its.

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