COMPARTILHE
“Não consigo aceitar a orientação sexual da minha filha”
Kevin Escate | Unsplash
Siga-nos no Seguir no Google News

Nosso amigo Caro Estranho respondeu, neste mês, a carta da leitora Adriana. Ela está sentindo muita dificuldade para lidar com o fato de sua filha ser homossexual. O colunista, que passou na pele o medo de ser rejeitado por sua mãe pelo mesmo motivo, compartilha conosco sua trajetória e revela o alívio que sentiu após ser aceito exatamente como ele é.

Caro Estranho,

Preciso confessar que não consigo, por mais que eu tente, aceitar a orientação sexual da minha filha. É algo que me corrói por dentro e machuca o coração dela. Peço desculpa, abraço, choro com ela, mas volto ao assunto na primeira oportunidade. Não gosto do que ela quer para a vida dela. Odeio ser esta péssima mãe. Só queria ser mais tolerante. O que posso fazer para tentar mudar isso?

Obrigada por me ouvir,

Adriana

Sobre o amor e a aceitação

Cara Adriana,

“Eu sempre vou amar você.” Foi o que disse a minha mãe, quando me assumi para ela. “Mesmo assim, fico contente que você tenha me procurado.” Você não tem ideia do peso que aquilo tirou de cima de mim, minha cara. Sabe por quê? Porque ela era a pessoa que eu mais tinha medo de magoar pelo fato de ser gay. Ao ler a carta que você me mandou, logo pensei que essa filha, que você tanto ama, não tem tido a mesma sorte que eu tive. E no quanto ela deve sofrer com isso. Afinal, ser lésbica ou bissexual não é uma escolha, e sim, como você mesma colocou, uma orientação.

“Não gosto do que ela quer para a vida dela”, você me escreveu. Concorda que isso vai contra o que acabei de dizer? Ela não quer ser homossexual, Adriana. É algo que faz parte dela. E é aí que você, talvez, se confunda. Porém, enquanto não conseguir entender isso, você não estará pronta para ser mais tolerante e aceitá-la, como gostaria. Ela já terá de lidar com todo o preconceito que, por mais incrível e absurdo que pareça, ainda existe por aí. E entendo que você queira, inclusive, protegê-la disso, mas não há como. Portanto, o maior presente que você pode lhe dar hoje é esse amor.

Assim como a minha não foi, você não é uma péssima mãe, minha cara. Só o fato de você ter me procurado, para mim, é uma prova disso. Você quer ser mais tolerante e a boa notícia é que você pode. Eu acredito nisso. Agora, quanto à pergunta que me fez, penso que a resposta seja simples. Para mudar, você precisa se informar. Esteja aberta para o estranho e desconhecido, procure conhecer mais o mundo em que essa filha vive, e, acima de tudo, converse honestamente com ela. Demonstre interesse pela vida dela, ouça tudo com atenção, enfim, esteja presente para ela.

O amor é, antes de tudo, a aceitação do outro. Seja ele quem for. E isso não se aplica apenas a uma relação entre mãe e filha. No entanto, é disso que se trata esta carta. Então, espero, com todo o meu coração, que você consiga aceitá-la como ela é, Adriana. Pense que ela, mais uma vez, não escolheu ser homossexual. Assim como aconteceu comigo, quando ela se sentir amada pela própria mãe, ela se livrará de um peso enorme. E isso fará toda a diferença na vida dela. Acredite em mim, pois eu sei. Não deixe que o preconceito comece dentro de casa, pois o mundo lá fora já está cheio dele.

Um grande abraço,

Estranho

Como participar?

Esta coluna é construída coletivamente. Isso significa que sua participação é importante.

Está passando por um momento difícil ou por algum dilema existencial e gostaria de conversar com o Caro Estranho aqui em Vida Simples? Envie sua pergunta para o e-mail [email protected].

Lembre-se de escrever no campo “assunto” que você é leitor da coluna em Vida Simples, assim as respostas poderão ser lidas por aqui.

Leia todos os textos da coluna do Caro Estranho em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

Vida Simples transforma vidas há 20 anos. Queremos te acompanhar na sua jornada de autoconhecimento e evolução.

Assine agora e junte-se à nossa comunidade.

0 comentários
Os comentários não representam a opinião da revista. A responsabilidade é do autor da mensagem.

Deixe seu comentário