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Moda no metaverso: seu avatar do estilo que quiser
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Nos últimos tempos, as empresas de moda começaram a criar coleções não apenas para nós, mas também para os nossos avatares que começam a povoar o metaverso. Maria Emilia conta como foi frequentar o primeiro Metaverse Fashion Week. 

Num novo universo de possibilidades, aquelas roupas que você não se permitia comprar (seja pelo preço, seja pelo estilo), tornam-se acessíveis aos seus avatares para frequentarem reuniões, idas a festas ou passeios em parques, por exemplo.

Essa ideia, que até pouco tempo atrás parecia ser algo do mundo do “faz de conta”, está começando a dar seus primeiros passos dentro do metaverso com a indústria da moda. Estive em março na primeira Metaverse Fashion Week.

É difícil imaginar que um designer possa criar uma moda especificamente para seus consumidores virtuais. Nesse novo modelo de negócio, cortar tecido em moldes se torna uma tarefa inútil. No lugar de tesouras, designers criam looks com base no desenho digital, renderizados e acabados com efeitos especiais.

A metáfora do avatar

Sempre dei como certo que avatar era um nome criado um pouco ao acaso, dentro do meu pequeno vocabulário ocidental.

E, para minha grande surpresa, essa representação de nós mesmos em forma gráfica e virtual, de aspectos variados, coloridos como um desenho animado que chamamos de avatar, deriva como uma metáfora da tradição hinduísta. Em língua sânscrita, avatar significa uma reencarnação divina, “aquele que desce” e encarna num corpo físico um ser imortal.

No metaverso, um mundo todo digital em uma dimensão paralela à realidade, nosso avatar ganhou um lar. É como uma página em branco dentro da Internet, onde se criam virtualmente ambientes e situações para que as pessoas possam interagir virtualmente umas com as outras.

Do estilo que você quiser

E, um dos primeiros a chegar nesse novo mundo, foi a moda. Se apropriou desse espaço e tende a se tornar pouco a pouco através mais do que uma simples convidada. Mas não é só sobre moda. Falar de metaverso é poder falar com uma geração que aprendeu a se divertir e a interagir através da rede.

Em 1992, Neal Stephenson imaginou uma versão imersiva e distópica da Internet. Nela, óculos especiais seriam a porta de entrada para a ilusão de estarmos dentro da rede, encarnados em avatares 3D. Foi ele, o autor do livro Snow Crash, que cunhou a expressão “metaverso”.

Será que Neal imaginaria que o metaverso pudesse virar cenário de desfile de moda?

Metaverse Fashion Week

No dia do desfile, apresentaram-se marcas como Dolce & Gabbana, Etro, Philipp Plein. Eu não estava à trabalho, estava lá como convidada. Por isso, mais do que se socializar, pude testar a maneira a qual meu avatar poderia andar, pular e correr com alguma desenvoltura.

Desfile da Dolce & Gabbana (Foto: Divulgação)

Entre as outras centenas de convidados, meu avatar vestiu-se de um modo desajeitado que só quem pisa pela primeira vez na arena de Decentraland pode entender. Apenas para explicar, Decentraland é uma plataforma de realidade virtual descentralizada. Nela, você pode comprar e vender itens digitais e imóveis, enquanto explora, conversa, interage e joga no mundo digital.

Era possível, com uma simples combinação de duas teclar, decidir se voltávamos ou não à vida fora do metaverso – já que algumas marcas mostravam, em um telão dentro do desfile virtual, o desfile físico, que acontecia também no mundo real.

Após passear entre lojas, a estranheza inicial logo cedeu lugar à parte mais lúdica minha e dos demais participantes. Percebi que ninguém estava ali para nos julgar. Não queríamos ser um simples avatar, queríamos ousar, sermos vistos. Sinto que o melhor dessa experiência ainda está para acontecer.

Versões de nós mesmos

Tem dias que todos nós sonhamos em sermos alguém um pouco diferente. Um pouco mais alto, mais baixo, mais magro, mais popular, mais rico, mais comunicativo, menos triste, mais alegre, desapegado ou compreendido. É uma chance de sermos de tudo mas, principalmente, continuarmos sendo uma expressão de nós mesmos.

Sei que terão dias em que nem com nossos avatares vestindo as melhores roupas conseguiremos nos sentir um pouco mais especiais. Mas, estaremos ali, a olhar e a lembrar que, por mais encantador que possa ser a nossa vida nesse mundo paralelo, nada superará a beleza do mundo real que ressalta a importância da nossa peculiaridade.

Encerro com as palavras de José Saramago, na obra “O Conto da Ilha Desconhecida”, trocando apenas o local escolhido pelo escritor. Ao lugar da palavra “ilha”, coloco a “realidade”:

É necessário sair da realidade para ver a realidade, não nos vemos se não saímos de nós mesmos.

Leia todos os textos de Maria Emilia em sua coluna na Vida Simples.


MARIA EMILIA é ítalo-brasileira. Mora em Milão e é apaixonada pela filha Agata. Escreve a newsletter “A Moda Por Aqui” e compartilha novidades no LinkedIn (@emidacunha). Apesar de ser bacharel em Moda e de trabalhar na área, ainda segue indecisa sobre suas escolhas diárias ao abrir o guarda-roupa.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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