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Limites para os filhos ou para os pais?
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As crianças precisam de um olhar mais compassivo. Compreensão não é permissividade e os limites não precisam ser agressivos ou punitivos.

Sempre achei curiosa a busca incessante de limites para as crianças. E explico o motivo. Não é porque sou permissiva com a minha filha. Na verdade tendo a ir para o extremo oposto desse espectro. Minha tendência durante conflitos ou problemas é sempre ir para o controle. Depois de alguns anos trabalhando com pais e mães, consegui compreender a mecânica desse processo. Ela em geral é a seguinte: temos poucos recursos para colocar limites em outros adultos. Temos dificuldades em seguir limites sociais, familiares ou próprios. Temos pouco controle sobre situações da vida que acontecem de maneira repentina. Então, vemos nas crianças a oportunidade perfeita para

Curiosidade não é permissividade

Eu posso afirmar com um bom grau de assertividade que grande parte das crianças não precisa de limites mais duros. Precisa mais é de entendimento sobre suas dificuldades, que aparecem muitas vezes sob a forma de um comportamento. Se o adulto que cuida não consegue ter um olhar curioso sobre o comportamento e logo culpa a criança por ele (ou se culpa), o que vai acontecer em geral são brigas e conflitos diversos, porque culpabilização passa longe de entendimento.

Veja que não estou dizendo que todos os comportamentos devem ser permitidos, longe disso. Limites empáticos são necessários para construir uma membrana protetora ao redor dos atos da criança, para que ela não se prejudique, não prejudique os outros e nem o meio onde vive.

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Jonathan Borba (Unsplash)

Não aos rótulos

Um limite pode acontecer ao mesmo tempo que mantemos o olhar curioso. Não deixar uma criança bater, xingar ou quebrar algo quando está com raiva, por exemplo, é super necessário. Desde que nosso olhar para a criança não se reduza a um rótulo. Afirmar “Ele é terrível”, “ela é explosiva demais” não é ter curiosidade sobre os motivos pelos quais a criança está agindo assim. Um detalhe bem importante: ela está agindo assim, ela não é assim. Ninguém é uma coisa só. Mas as crianças saem muito prejudicadas quando as prendemos dentro dessa caixinha que criamos para ela frente à nossa dificuldade em ajudá-la a entender o que está acontecendo.

Inclusive, o motivo para uma criança estar agindo de maneira diferente do que esperávamos pode ser somente esse: excesso de expectativas. Conhecemos pouco sobre as fases da infância, e isso nos leva a exigir muito de pessoas muito pequenas. Afinal, eu não conheço nenhum adulto que NUNCA prejudique a si, aos outros e nem o ambiente onde vive, mesmo que sem a intenção de fazer isso. Mas crianças não são permitidas errar, mesmo com muita diferença no desenvolvimento e nos anos de experiência quando a comparamos a um adulto.

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Daiga Ellaby (Unsplash)

Olhar compassivo

Quando um adulto faz algo errado, entendemos que ele não sabia fazer melhor. Estava sob forte estresse ou tinha algum motivo para isso, Mesmo que o motivo seja um que não concordamos. Com as crianças, logo dizemos que é excesso: excesso de mimo, de coisas materiais, de colo (sim, ainda se fala em excesso de colo como causa de maus comportamentos).

Negamos afeto e compreensão com medo de estar afrouxando os limites. E isso, para mim, é o maior problema da parentalidade tradicional. Compreensão não é permissividade. Limites não precisam ser agressivos ou punitivos. Crianças precisam de um olhar mais compassivo. E esse olhar compassivo precisa começar conosco: como falamos conosco quando fazemos algo que consideramos menos que perfeito? Diminuímos nossa dificuldade? Calamos nossa humanidade? Continuamos exigindo mais e mais de nós, sem considerar nosso desejo, limitações e nosso contexto? São reflexões importantes e que podem nos chegar com algum estranhamento. O que acho bom, porque o estranhamento é o irmão mais velho da curiosidade.


Thais Basile é mãe da Lorena, palestrante e consultora em inteligência emocional e educação parental. Eterna estudante e apaixonada por relações humanas e por tudo que a infância tem a ensinar. Compartilha seu conhecimento para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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