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Troque mães guerreiras por exaustas e em crise de identidade
Choreograph | iStock
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A tese de que mães são guerreiras natas e matam um leão por dia, por sua família, nos deixa atadas na invisibilidade de nossa própria identidade. 

Fiz uma rápida busca no Google primeiro pelo termo “Mãe Guerreira”. Mais de 5 milhões de conteúdos, muitos deles sendo memes poéticos, textos motivacionais. Contudo, para “mãe exausta” pouco mais de 500 mil, alguns poucos sobre psicologia e muitos post também motivacionais no clima de “você vai sentir saudade dessa época”.

Ombro amigo, controle de estoque da casa, governanta, cozinheira, enfermeira, empreendedora, treinadora, professora. Quem nunca assistiu a um comercial de tevê  ou uma cena de novela que reforçasse a imagem da mulher com filhos que está sempre atenta a tudo e a todos.

Estamos acostumados à imagem da mulher que não para um minuto para respirar e que na lista de tarefas dela tem muito afazeres que  envolvem o bem estar de muita gente… Menos o dela. A tese de que mães são guerreiras natas e matam um leão por dia, por sua família, nos deixa atadas na invisibilidade de nossa própria identidade. 

É interessante observar mesmo em academias, clínicas de saúde mental, ou locais de bem estar, as mulheres que os frequentam. Muitas de meia idade ou até idosas. Afinal, parece haver um gap na frequência de mulheres naquela idade mais comum a mães de crianças pequenas.

Só que esse período que inclui puerpério e primeiros anos das crianças é o momento de maior invisibilidade tanto da mãe quanto da criança. Da mãe por não encontrar espaço de acolhimento em todos os âmbitos, sentindo-se desajustada socialmente. Bem como da criança pela falta de acessibilidade dos locais e empatia da sociedade que tudo julga e palpita… do modelo carrinho de bebê à birra na fila do pão. 

Certamente é cômodo para todos, bem mais para os maridos, quando há, esse rótulo de mulher que dá conta de tudo. Por mais que estejamos avançando na transição de “ajuda” para “divisão de tarefas” para os pais homens, ainda convivemos fortemente com nossas sombras assim que parimos nossos filhos. Dali para frente, a extrema demanda aumenta nossa carga mental. Além disso são pilhas e pilhas de afazeres, grande maioria atrelada a todos à nossa volta (incluindo a empresa à qual trabalhamos).

Onde haveria espaço para nos redescobrirmos? Para entendermos a mulher na qual nos transformamos? Às vezes essa ausência de nos colocarmos em primeiro plano pode ser até cômoda para nós mesmas. Outro fato comum dessa entrega é que podemos cair num ciclo vicioso em que nosso reconhecimento gira em torno apenas do olhar do outro pelo que fazemos e não simplesmente pelo que somos.

Mas penso que só discutindo o tema da exaustão das mães é que virá à tona nossas crises existenciais. Paralelo a isso, a problematização da “mãe guerreira” é fundamental. Dois passos para trás antes de avançar. Não vamos resolver problemas do universo feminino vividos a centenas de milhares de anos pelas nossas ancestrais em pouco tempo, mas é preciso começar. 

Já estamos abrindo essas matrioskas e encontrando mais e mais questões. Contudo, para conquistarmos nossos espaços com força, nada melhor que admitirmos nossa exaustão, parar, pedir ajuda, e repensar.

Luísa Alves é relações públicas, produtora de eventos culturais infantis e criadora da plataforma Guia Fora da Casinha, na qual compartilha conteúdo sobre infância e mater-paternidade na cidade, além de agenda cultural pra quem tem crianças em São Paulo. Nesta coluna, quinzenalmente, traz reflexões sobre cidadania, cultura e lazer na infância, fortalecimento de mães e sobre o estilo de vida com crianças. Seu instagram é @guiaforadacasinha

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