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“Hoje não, a vida tem que seguir”: Um filme sobre Parkinson
Reprodução
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“Quando eu fui diagnosticado, eu me perguntava muito: por que eu?”, conta Guto Pedreira que descobriu, há 8 anos, que tinha Parkinson. Ele tinha 46 anos, estava no auge da carreira profissional e transbordava competência executiva e emocional. No entanto, a partir daquele momento, a doença saltou aos olhos e ele se viu diante do desafio de lidar com essa nova condição para, então, seguir em frente.

A jornada da vida se transformou em algo bem diferente, cheia de medos e inseguranças, mas de descobertas também.

A disponibilidade de compartilhar a sua história e reunir pessoas que também sofrem com os sintomas da doença de Parkinson tinha como objetivo dar voz e ajudar a desconstruir as barreiras criadas por uma sociedade obcecada com a imagem. O resultado é o documentário Hoje não, a vida tem que seguir, que traz no título a vontade de não desistir.

Mudança de olhar

Costumo bater insistentemente na tecla da eficiência do cinema como ferramenta de compreensão de mundo, de entendimento de realidades diferentes e, consequentemente, de empatia. Insisto porque acredito. E é eficaz mesmo — espalha, extravasa, perpetua histórias de vida que nos ajudam a conhecer melhor o outro e nós mesmos.

Hoje não, a vida tem que seguir, de Angela Zoé, também diretora de Henfil (2017), reúne a trajetória de cinco vidas impactadas e transformadas pelo declínio das células cerebrais produtoras de dopamina, substância responsável pelo controle dos movimentos. A diminuição da dopamina faz com que as pessoas tenham dificuldade de iniciar ou controlar os movimentos, o que gera tremores, rigidez e instabilidade corporal.

Reúne as vidas como elas são hoje, trazendo os sintomas, mas transportando para a tela a noção clara de que é preciso desconstruir, nessa doença neurodegenerativa e em tantas outras patologias, a ideia da falta, que tanto salta aos olhos.

Alguém como uma condição diferente, um diagnóstico que resulte em dificuldades impactantes é alguém que escolhe viver, como qualquer outra pessoa que tem problemas, mas que não são visíveis ou não podem ser nomeados.

“As pessoas me dão parabéns pela força de vontade”, conta Guto. “Mas não é força de vontade; é viver ou não viver.”

Ser grato pela vida

Colocar um documentário de pé não é algo simples; mostrar a vulnerabilidade, também não. Registros assim são preciosos para a percepção da força motriz que tem tanto a resiliência, a capacidade de motivação a partir de uma dificuldade, quanto a resignação, que é a aceitação de que não temos o controle de nada. Diante dos fatos, é preciso escolher o que fazer com o que a vida fez com a gente.

Já dizia Brené Brown sobre o poder da vulnerabilidade como essa ferramenta que nos tira da paralisia porque nos mostra quem somos lá no íntimo. E autoconhecimento, a gente sabe, é tudo nessa vida.

Os cinco protagonistas deste documentário abrem-se para as emoções e desafios, reforçando o que Guto coloca em palavras: “Ser vulnerável é ser inteiro. É conseguir conciliar suas emoções, ser quem você é”, conclui.

Hoje não! A vida tem que seguir é sobre o Parkinson e seus desafios. Mas arrisco dizer, sem medo de errar, que diz respeito a todos nós. Foi assim que eu senti.

Na posição de pacientes ou não, somos responsáveis pela construção de uma sociedade menos taxativa e preconceituosa, mais afetiva e humana.

O documentário pode ser visto gratuitamente pelo site www.movimentoaleatorio.com.br, onde é possível obter mais informações sobre a produção, ou diretamente pelo YouTube, no canal Movimento Aleatório (vídeo abaixo).

Leia todos os textos da coluna de Suzana Vidigal em Vida Simples.

*Os textos de colunistas e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

A vida pode ser simples, comece hoje mesmo a viver a sua.

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