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História de um Casamento, de Noah Baumbach
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História de um Casamento é sobre o divórcio. E sobre aonde chega o casamento quando duas pessoas não se percebem mais como indivíduos. E sobre a dor do rompimento. Sobre a magia do redescobrir-se. Refazer-se. Reencontrar-se.

O longa é tão realista, tem diálogos tão potentes – que ferem tão profundamente – que parece obra de espionagem. Como se alguém tivesse observado sorrateiramente o que se passava dentro de casa. Uma dor universal, o divórcio. Numa origem também que só muda de endereço, repete-se na potência, repete-se no conteúdo. É sobre muitas outras profundezas da alma, inclusive sobre cada um sente as experiências de uma maneira particular. Embora vivam o mesmo momento, marido e mulher sofrem diferentemente. Isso muda bastante coisa na compreensão dessa dor.

Muda porque deixa bem claro que cada um é um – por isso é tão importante se reencontrar enquanto pessoa, separar-se da instituição casamento. Nicole (Scarlett Johansson) e Charlie (Adam Driver) abrem o filme dizendo como cada um deles enxerga o outro – como somos vistos normalmente não coincide com a maneira como nos percebemos. O diretor americano Noah Baumbach, com sua leitura magistral das relações humanas, já de cara explicita que o casamento é estruturado com fortes bases nas expectativas que temos do outro. Expectativa é ilusão, ninguém faz ninguém feliz. A percepção que Nicole e Charlie têm do relacionamento é distinta, o calo aperta pra cada um de um jeito e redescobrir a individualidade nos entremeios de uma relação que já não funciona é como mergulhar num poço escuro nessa dor que é única.

História de um Casamento elabora o passado com olhos no presente

História de um Casamento

Nesse mergulho no vazio profundo, forças externas atuam dentro do panorama financeiro, da guarda dos filhos, da logística, da divisão de bens. Advogados entram no jogo e quem rouba a cena é Nora (Laura Dern), com falas pontiagudas na construção do “descasamento” e na desconstrução do respeito. O que Baumbach faz é propor personagens capazes de fazer escolhas, mesmo no momento de extrema vulnerabilidade – e isso é fundamental. Gosto de pensar que ser capaz de escolher como se relacionar nesse novo formato é tomar consciência de quem somos, encontrar a nossa caixa de ferramentas internas montada no decorrer da vida, escolher como usá-las e estruturar novos projetos. É elaborar o passado, com olhos no presente – já que o futuro é só expectativa.

Mas mesmo que seja possível fazer essa análise com clareza, a dor permanece. Arrisco dizer que História de um Casamento é especialmente impactante para quem já passou por essa experiência. Eu passei e também arrisco afirmar que só sabe dessa dor única que viveu. Nicole e Charlie que o digam. Podemos pensar no desfecho do filme como uma réstia de esperança, o reencontro consigo mesmo, a reconstrução respeitosa das relações, a manutenção da família no seu conceito mais amplo do querer bem. Também acho – mas a marca da separação é perene. Mudou a narrativa da minha história sobre o casamento. Entre os melhores filmes do ano.

Onde assistir: Netflix

Suzana Vidigal é tradutora, jornalista e cinéfila. Gosta de pensar que cada filme combina com um estado de espírito, mas gosta ainda mais de compartilhar com as pessoas a experiência que cada filme desperta na mente e na alma. Em 2009 criou o blog Cine Garimpo (www.cinegarimpo.com.br e @cinegarimpo) e traz, quinzenalmente, dicas de filmes pra saborear e refletir. 

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