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Oi, imperfeição, pode chegar!
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“Viver é experimentar riscos, incertezas, e se expor emocionalmente”. Retiro essa frase das nas páginas do livro A coragem de ser Imperfeito – como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é; da autora e pesquisadora americana Brené Brown. E sobre ela, a IMPERFEIÇÃO, converso hoje com você. Se tiver um tempinho, puxa a cadeira e passa um café, porque hoje o papo é reto e direto – traduzindo em uma expressão comum das redes sociais: #semfiltro.

A gente tem tentado viver com níveis de perfeição jamais compreendidos. Na última coluna, pincelei esse assunto ao abordar a nossa necessidade de parecermos felizes e plenos nas redes sociais, e, logicamente na vida real, com fotos lindas, dias ensolarados e sorrisos largos que, muitas vezes, escondem dores e pedem colo e abraços.

Sabe aquele dia em que você tá triste, em que tudo deu errado ou tem algo incomodando fortemente sua atenção; você encontra um amigo na rua e diante da pergunta mais comum dos encontros “e aí, brother, e aí migs, tá tudo bem”, você, sem titubear, sorri e responde “sim, tudo ótimo, 100%!!!”. Se a pessoa que lhe encontrou for além de um conhecido, se for alguém com quem você possui algum nível de afinidade, talvez ele entenda que seus olhos traduzem algum incômodo ou dificuldade, e, quem sabe o papo tomará novo rumo. Tomara que sim, penso eu, porque abrir o coração e assumir dores e imperfeições é libertador.

A questão é, nos mostrarmos vulneráveis pode parecer um grande sinal de fraqueza; por medo de julgamentos alheios, de causar decepções ou simplesmente de nos mostramos imperfeitos, a gente sempre quer se mostrar firme, forte, perfeito, imbatível na alegria e na adversidade. Mas por que será que insistimos em fugir do que realmente sentimos, por que fingimos plenitude e tememos sentir vergonha de ser quem realmente somos???

Tenho um “amigo-mestre” que há alguns anos, ao perceber minha imensa dificuldade em assumir dores, assoprou palavras em meu coração: jamais serás quem tu não és. Pode parecer clichê, mas a verdade é que essas 6 palavras passaram a ser meu mantra nos mais variados momentos da vida, sejam positivos ou não. Só quem já esteve no fundo do poço e conseguiu emergir pode entender a sensação de alívio que essa descoberta proporciona – . Sabe por que??? Porque nós, humanos, sentimos; às vezes sentimos MUITO. E sentir é estar vulnerável, e estar vulnerável é assumir-se imperfeito, é poder gritar ao mundo e dizer sem entrelinhas: eu sinto dores, eu estou ferido, eu me sinto frágil e está tudo bem!

Não poucas vezes deixei de fazer algo por medo de me expor, por receio do julgamento alheio, até entender que a frase “o que os outros vão pensar” é a maior armadilha que podemos nos autoimpor. Quem tem de pensar, achar e julgar sobre a nossa vida somos nós mesmos, ninguém mais, e como a musa pop Paula Toller há muitos anos canta: “os outros são os outros”.

Talvez esse 2020 tenha sido o ano em que mais observei meus próprios movimentos e sentimentos, talvez pela imersão da pandemia ou outros assuntos que aqui não vêm ao caso, o fato é que, ao olhar pra dentro de mim, ao tentar entender meu próprio coração, compreendi que sentir não é errado, que sentir não é exclusividade dos fracos: sentir é o que move meus dias! Já senti culpa por sentir demais, já senti dores por sentir da maneira diferente como gostaria, já senti tanto por sentir muito, até entender que sentimentos e emoções dispensam classificação. Não existe certo ou errado para o que se sente, a gente sente e isso basta!

Em março perdi meu pai. Ele vivia no campo, e foi lá que, apenas quatro dias depois, cheguei de mala, cuia e coração rachado. O trabalho no campo não pára. Na mesma semana a pandemia chegou; nos mesmos dias a vida me subtraiu o pai e os relacionamentos físicos diários; inclusive os abraços, na época em que eu mais precisava. Sem tempo sequer de arrumar as malas, meu mundo viajou temporariamente pra roça. Quase afogada num açude de lágrimas, me vi apavorada: era uma mulher urbana e meu trabalho acontecia na estrada; como entregaria às pessoas meu olhar sobre as coisas simples e gostosas da vida? Como é que eu contaria coisas boas se estava imersa na maior dor e dificuldade da minha vida?

Não poucas vezes nesses derradeiros meses compartilhei em minhas redes sociais algumas dores e dificuldades, porque decidi comunicar meu olhar com o que realmente sentia, falava de tristeza quando sentia tristeza, falava de alegria quando me sentia alegre. Optei por ser sincera comigo mesma e com quem por lá me acompanha, e com um pouco de medo dos julgamentos, mas uma vontade imensa de ser verdadeira, recebi compreensão e solidariedade. Compreender que sentir dores, dúvidas e medos fazia parte do meu atual momento, consegui me expressar de maneira congruente ao que sentia, me vi inteira, me vi sincera, me senti corajosa. Não foi, nem tem sido um caminho curto (tampouco fácil), e confesso a você que mostrar-me imperfeita foi uma das escolhas mais difíceis e deliciosas que já tomei na vida.

Viver com ousadia e aceitar que sou imperfeita, que tenho dores, que muitas vezes não tenho respostas; entender a importância em estar presente, em contemplar o agora, em prestar atenção àquilo que me faz sentido e fazer escolhas ao seguir em frente na minha própria estrada, mesmo que com ações duras e por vezes ressentidas, foi dos maiores aprendizados desse ano que quase se despede.

Ah… se você me leu até aqui, fica um pedido: quando seu coração apertar e você sentir necessidade de se explicar por sentir dor, ou pensar em se desculpar por se sentir feliz, não esqueça: a estrada do outro é somente do outro, a ela não nos cabe julgar ou palpitar. Cuide, zele e viva a sua própria estrada, imperfeita como ela for.

Beijos meus.


Lu Gastal trocou o mundo das formalidades pelo das manualidades. Advogada por formação, artesã por convicção. É autora do livro “Relicário de afetos” e participa de palestras por todos os cantos. Desde que escolheu tecer seus sonhos e compartilhar suas ideias criativas, não parou mais de colorir o mundo ao seu redor. Seu instagram é @lugastal.

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