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Homo Sapiens: este projeto está dando certo?
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            A evolução vem nos construindo há muito tempo. Uma certa intenção natural sempre pareceu ser a de criar um projeto de sucesso. Sucesso moral, de inteligência, de capacidade e de realização. Leia a coluna, olhe ao seu redor e tente responder à pergunta aí do título. 

Homo Sapiens. É este o nome da espécie em que nos incluímos e que, em latim, significa homem sábio. Esta espécie não apareceu no estalo dos dedos de um deus. Ela é o resultado de uma evolução lenta, que após 350000 anos, produziu o arquétipo físico do humano que conhecemos hoje. Ao longo de todo este tempo, este homem dito sábio, é o único sobrevivente do gênero homo entre os primatas bípedes – sim, o gênero homo se inclui na ordem dos primatas. E somos bípedes porque caminhamos sobre duas pernas, como avestruzes e galinhas. Estes últimos são bípedes, mas não são homo e muito menos sapiens.

Há cerca de 50000 anos, começamos a ter um comportamento mais próximo do atual, formando agregados de exemplares humanos, unidos por traços de comunicação, de hábitos e – dá até pra dizer – de cultura. Um projeto complexo, mas também muito promissor desta natureza evolutiva. Um projeto que sempre pareceu fadado ao sucesso.

Já há algum tempo nesta era contemporânea, depois de avançarmos muito no estudo da evolução da espécie humana em direção a esta versão sapiens, surgiu um interesse em estudar além do que aconteceu até agora. Coisa do tipo “… é hora de nos dedicarmos a tentar entender o que vai acontecer daqui pra frente”. E estes estudos prospectivos da espécie humana, mesmo quando apoiados por aspectos evolutivos, tem tido uma preocupação crescente com aspectos comportamentais. Yuval Harari vem criando uma ponte útil entre estes dois mundos: o arquétipo humano e o seu comportamento atual e futuro.

Neste cenário, lembro a vocês que todo mês, em uma data pré-fixada, tenho que me dedicar a escrever esta coluna, coisa que faço com alegria e indisfarçável prazer intelectual. Mas não pensem que a coluna se encerra no último ponto final do texto. E nem começa no primeiro parágrafo. De fato, a coluna começa a ser elaborada muito antes e evolui a cada dia, na medida em que vou observando o mundo para ver o que de melhor devo levar aos nossos queridos leitores. Tenho observado o homo sapiens como quem acompanha a evolução de um projeto complexo. Como era de se supor, minha observação é muito menos dedicada a novos arquétipos de homens sábios e muito mais preocupada com o seu comportamento. O resultado desta observação é que me levou a escolher o título desta coluna: será que este projeto vai dar certo ?

Depois de se organizar socialmente, o homo sapiens percebeu que para se sentir melhor e mais protegido – ele e os demais membros do seu clã – era preciso encontrar formas de garantir a sua sobrevivência. Coisa que poderia ser feita se este clã pudesse se abrigar em uma caverna, armazenar alimentos e acender uma fogueira durante o inverno. A caverna era dele. Sua propriedade. Os alimentos eram dele. Sua produção. E que poderiam ser trocados com os habitantes de outra caverna. Aparece aí a noção de propriedade privada, meios de produção e comércio de valores. Estamos diante do capitalismo e da economia de mercado. O homem sábio criou, com a sua inteligência, mecanismo para se proteger e proteger seus semelhantes. Que coisa boa !  Mas a distribuição dos benefícios deste modelo ficou muito desigual e não chega a um grande número de outros homens sábios, que acabam sem ter onde morar e nem ter o que comer. Que coisa ruim !

Para entender como os humanos chegaram aonde estão, um traço do comportamento foi essencial, a comunicação ! Se houve uma divergência no processo que acabou criando línguas diferentes, em todas elas se identificou a necessidade de se comunicar, na sua língua ou na dos outros, e apareceu este grande instrumento de comunicação chamado internet. Coisa boa ! Mas é aí que os homens supostamente sábios preferem divulgar mentiras – as tais “fake news” – depois de perceber que mentiras podem atrair mais a atenção do que a verdade. Também é aí que atrair a atenção com mentiras fica mais fácil do que atrair a mesma atenção com produção e realizações. Coisa ruim.

Enquanto o corpo – o arquétipo – do homem sábio sofre a agressão de um novo vírus, o agregado social que surgiu há apenas 50000 anos é inteligente o suficiente para se organizar e identificar métodos de proteção contra a agressão. E apesar de suscitar opiniões nem sempre convergentes, surge uma vacina em tempo record. Que precisa ser aplicada primeiro em profissionais de saúde e pessoas idosas, pela sua maior chance de adoecerem com este bicho novo. Algo alentador ! Mas, de repente, a cada dia vemos novas notícias de pessoas que se valem de algum atributo social para receber a vacina antes dos que, de fato, devem e precisam ser vacinados. Que horror !

A intenção do processo evolutivo sempre pareceu ser a de criar um projeto de sucesso. Sucesso moral, de inteligência, de capacidade e de realização. Mas diante de tanta iniquidade, desonestidade, imoralidade e, vale até dizer, tanta burrice, é hora de pensar se este projeto está mesmo dando certo…


Fábio Gandour é formado em Medicina, dedicou-se à pesquisa científica e aprendeu a conduzir projetos complexos. Com este aprendizado, consegue notar sinais de sucesso, desvios de rota e sintomas de fracasso nos projetos que acompanha.

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