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É preciso acolher as dores dos nossos filhos
Leo Rivas
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Neste artigo:

Punir uma criança por estar passando por um problema é certo? Apesar de parecer óbvia a resposta, muitas vezes os adultos desprezam os sentimentos dos pequenos. Thais Basile explica sobre a importância de acolher as dores dos filhos para fortalecê-los no futuro 


Me lembro da primeira vez que Lorena voltou falando que foi excluída de uma brincadeira, a dor que eu senti no coração, o pensamento voando longe, imaginando que ela nunca teria alguém para se apoiar em momentos difíceis. Passar por isso com nossos filhos não é apenas difícil, é também relembrar partes da nossa própria história que nos machucaram, quando provavelmente não tivemos ninguém para nos ouvir sem querer consertar a situação pra nós, ou nos punir por ela.

Punir uma criança por estar passando por um problema tem a ver com sentir que ela está “causando isso pra si”, e que “se fosse mais perfeita, não sofreria”. Ah, nossos afetos… Pulam na frente da nossa racionalidade como se viessem nos salvar de uma bala no coração, mas muitas vezes agem como a bala eles mesmos.

Hoje, em retrospecto, imagino que a minha filha precisava que eu pudesse ter testemunhado a dor dela sem a minha passar na frente. E entendo que quando se trata de parentalidade, essa é das coisas mais difíceis de se fazer, porque entendemos que o amor salva, resgata, conserta, e na verdade tudo isso seria muito bonito se adiantasse de alguma coisa, mas em geral traz mais desconexão do que ajuda.

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Quando aconselhamos, duvidamos, culpamos, questionamos e tiramos do foco a escuta, a criança se sente sozinha com sua grande dor. E como foi assim que crescemos, nesse mundo que não considera emoções importantes, é assim que aprendemos a acolher: não acolhendo. E veja, tudo isso com uma ótima intenção.

Talvez hoje eu apenas dissesse: “Filha, que difícil o que passou hoje. Eu quero que saiba que sempre estarei aqui para te ouvir, te amar e torcer por você. Amanhã vai ser outro dia, por hoje eu te ajudo com sua tristeza”.

Hoje sei que uma criança que internaliza que está segura, que tem apoio e que pode desabar, tem mais chances de aprender a levantar, sacodir a poeira e dar a volta por cima. Assim como com os adultos.

Eu olho para essa situação lá atrás não com arrependimento, mas celebrando minha evolução, celebrando as grandes oportunidades que minha filha me traz de evolução. Aprendi a não me culpar mais por ser humana, por estar no caminho de aprender com minha história, com filha (e muita análise) a olhar para as dores dela, enquanto me permito olhar para as minhas. É um processo que dura pra sempre, e por isso mesmo podemos tentar aproveitar o caminho.


THAIS BASILE é psicanalista, escritora, especialista em psicopedagogia institucional, palestrante, feminista pelos direitos das mulheres e crianças e mãe da Lorena. Compartilha um saber para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz.

Leia todos os textos da coluna de Thais Basile em Vida Simples.

*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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