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É possível sentir paz no caos
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É bom sentir que, no meio do caos, consigo dar alguns passos em direção a mim mesma e permito meu corpo sentir paz

Mal abro os olhos de manhã e tenho aquela sensação de que estou atrasada. Percebo que não vou a lugar algum, já que é o dia quatrocentos e cinquenta e nove (será?) de isolamento social. Acordo um pouco mais e sinto as pernas pesadas, doloridas, as costas latejando. Todos os sinais de que poderia ser um dia difícil, corporificados.

Há algum tempo, eu apenas tomaria um relaxante muscular e retornaria às funções habituais, sem pensar muito nisso. Eu fui uma criança que se dissociou muito das próprias necessidades, entendendo que só atenderia as expectativas se me adequasse às necessidades dos meus cuidadores. Fui uma adolescente diagnosticada com fibromialgia (dor física não explicada por exames clínicos ou laboratoriais), e virei uma adulta “cuidadora”, mas somente das outras pessoas, não de mim. Via meu corpo exatamente como fui ensinada a ver: como algo a ser aprimorado para o consumo de terceiros, no meu caso – sendo heterossexual – dos homens. Nunca vi meu corpo como um templo sagrado, muito menos como um local onde todas as minhas tensões, traumas e feridas não elaboradas moravam. Afinal, era só um corpo.

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Esse histórico passa pela minha cabeça como num segundo, e me faz rir de canto de boca. Ainda sou a adulta – agora mãe – cuidadora, com a diferença que agora eu mesma estou no meu radar, e isso é algo inédito. A percepção do meu corpo fica clara e a mensagem mais ainda: eu preciso respirar e observar a minha mente voando, pra poder trazê-la para o presente.

Permita-se sentir paz

Percebo que acordei assim porque deixei o futuro me amedrontar muito, ontem. Pensei milimetricamente e tragicamente em todas as situações que o vírus poderia trazer pra mim ou pra alguém da minha família. Passei algum tempo remoendo a dor de outras famílias, mas a atenção continuava voltando pra minha: internação, medo, sofrimento, morte, tudo num futuro fictício em que eu não tenho o menor controle, mas que acontecia de forma tão real na minha mente quanto a própria realidade.

Respiro. Me acolho, pensando que tudo bem ter deixado as notícias me assustarem, eu sou apenas humana. Sinto meu corpo relaxar um pouco. Penso no que esse corpo estaria precisando, e logo em seguida minha menina acorda e pula em cima de mim com um abraço quente e cheirando a travesseiro. Era isso.

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Mas, confesso: como é bom sentir que, no meio do caos, consigo dar alguns passos em direção a mim mesma e permito meu corpo sentir paz. Não há medo do futuro quando chegamos no agora. Desculpa aí, relaxante muscular.

Thais Basile é mãe da Lorena, palestrante e consultora em inteligência emocional e educação parental, eterna estudante. Apaixonada por relações humanas e por tudo que a infância tem a ensinar. Compartilha um saber para uma educação mais respeitosa no @educacaoparaapaz. Escreve nesta coluna mensalmente.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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