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Dicas para quem promete ler mais e não consegue
Fran | Unsplash
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Que tipo de leitor você é? Daqueles que fazem mil promessas sobre ler mais e quase nunca consegue? Você não está sozinho. Rayza Fontes conhece bem quase todos os tipos de leitores e tem conselhos para todos, inclusive quem precisa de uma forcinha para retomar o hábito da leitura.

Conheço muitos tipos de leitores. O mundo, por exemplo, se divide entre aqueles que leem ouvindo música e os outros, que preferem o silêncio.

Existe ainda um outro tipo de leitor bastante peculiar, o que é cheio de manias e vive em busca da conjuntura ideal para ler: a poltrona mais confortável, a melhor posição, o clima perfeito. E, aí, sem nenhuma surpresa, é óbvio que o desgaste da preparação não deixa a leitura fluir.

Ainda assim, existe o desejo genuíno de ler, por isso, o leitor perfeccionista sempre compra livros, aceita bem dicas e sugestões, gosta de ganhar livros de presente. A dificuldade toda é só começar a leitura.

Sabe um outro tipo bem comum? O leitor que não consegue desgrudar do celular e se divide entre olhar o Instagram e virar as páginas do livro distraidamente. A receita para o fracasso está assada: nem as redes sociais e nem o livro ganham.

CONFIRA: Livros para não parar de ler 

Quer saber outra coisinha que costuma fazer as leituras serem um fiasco? Tentar ler um livro que está na moda, mas não é de um assunto de interesse. Eu já caí nessa cilada na época do sucesso estrondoso de “50 tons de cinza”. Embora tivesse uma forte intuição que o livro não fosse o meu tipo, resolvi insistir já que estava em todas as listas de mais vendidos e nas bolsas de todas as amigas. Não fosse eu uma leitora experiente, se minha única motivação para continuar a ler dependesse do best-seller mal escrito era ali mesmo que minha vida de leitora acabaria.

Portanto, a regra é clara: confie nos seus interesses. Gosta de carros? Leia a biografia do Henry Ford, oras. Ah, o seu negócio é confeitaria? Que tal um romance fofo com uma linda pâtisserie como pano de fundo? Gosta de viajar? Pois escolha uma leitura que fale de viagens ou que tenha como tema o país que você gostaria de conhecer.

Como vocês já devem ter notado, eu não sou uma leitora muito seletiva. Apenas me atiro de cabeça no livro que aparecer pela frente e ao longo da leitura vou descobrindo se me agrada.

É raro abandonar um livro, sempre tenho aquele sentimento que após algumas páginas uma mágica vai acontecer e vou descobrir algo incrível. Mas, quando vejo que não vai mesmo ter futuro, abandono sem medo.

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Sugiro então que você faça isso com aquele livro que está arrastando há meses: deixe ir! A vida é muito curta para ler livro ruim.

Caso você não saiba por onde começar, aí vão algumas sugestões minhas de livros praticamente impossíveis de largar.

A menina da Montanha – Tara Westover

(336 páginas – Editora Rocco)

Sabe aquele livro curinga, que serve para dar de presente para a melhor amiga, o pai e até o chefe do marido? Pois bem, aí está o meu: A menina da montanha. Até hoje, desde que li, há uns bons 5 anos, todos que ganharam, compraram ou leram por indicação minha foram unânimes em dizer que o livro é incrível em vários aspectos, inclusive na categoria: “eu estava sem ler há meses e agora a vontade voltou com tudo.”

Mas, eu não sou a única fã! O livro foi escolhido como um dos livros do ano por Bill Gates e indicado pelo ex-presidente Barack Obama. A história, pasme, é toda real e contada pela protagonista, a americana Tara Westover, que tinha 17 anos quando pisou pela primeira vez em uma sala de aula. Caçula de sete irmãos, foi criada em uma família que vivia isolada e guiada pelo fanatismo religioso e conspiratório do pai. O mais incrível, eles estocavam comida em conservas e dormiam com uma mala pronta para o caso de fuga. A mãe atuava na região como parteira e curandeira, fazendo remédios medicinais e sendo a única referência de saúde de toda a família, que não recebia qualquer tipo de vacina ou medicamento, já que o pai desconfiava de hospitais, e afins.

Deixo vocês com um pequeno trecho da sinopse e um pedido encarecido: deem uma chance aos livros!

“A família estava tão isolada da sociedade que não havia ninguém para garantir que as crianças recebessem educação, nem para intervir nos casos de violência. No entanto, quando um de seus irmãos conseguiu entrar para a faculdade e retornou com notícias do mundo além da montanha, Tara resolveu tentar um novo tipo de vida. Aprendeu matemática, gramática e ciências para prestar o vestibular, e foi admitida na Universidade Brigham Young. Sua busca pelo conhecimento a transformou, fazendo-a atravessar oceanos e continentes, até chegar às universidades de Harvard e Cambridge, na Inglaterra. Foi quando se deu conta de quão longe tinha viajado, e se perguntou se ainda existiria um caminho de volta para casa.”

Torto Arado – Itamar Vieira Junior

(226 páginas – Editora Todavia)

O livro brasileiro mais comentado dos últimos tempos merece a fama que tem. Eu poderia parar por aqui, mas vou acrescentar que a temática, o estilo de escrita e a construção das personagens têm um poder inexplicável. É um encantamento que cresce com o tempo.

O passado impiedoso e o presente injusto coexistem na obra que tem o sertão da Bahia como cenário, o sincretismo religioso como liga e a vida dura de quem sobrevive da terra como trama. A sensação causada pelas escolhas e ações dos personagens é quase física. Há muito tempo eu não sentia raiva, frustração, medo, alegria e emoção com tanta intensidade em um livro tão “pequeno” em número de páginas, mas gigante em tantos outros aspectos, inclusive na mensagem de resiliência.

Leia, dê de presente, converse sobre Torto Arado e sinta a dor e a delícia que é conhecer, e depois ter que se despedir, de Belonísia e Bibiana.

Os meninos que enganavam nazistas – Joseph Joffo

(320 páginas – Editora Vestígio)

“Paris, 1941. O país é ocupado pelo exército nazista e o medo invade as casas e as ruas francesas. O poder de Hitler se mostra absoluto e brutal na França… é durante um dos períodos mais turbulentos da História que a emocionante narrativa de Joseph e Maurice se desenrola. Irmãos judeus de 10 e 12 anos de idade, eles perambulam sozinhos pelas estradas, vivendo experiências surpreendentes, tentando escapar da morte e em busca da liberdade.”

E com esse trecho da sinopse eu deixo a minha indicação para quem quer ler, mas está sem saber por qual livro começar. Uma história real que parece saída das telas de cinema e não por acaso acabou sendo mesmo adaptada e virando um ótimo filme – que claro não chega aos pés do livro.

Um prato cheio para quem gosta de livros com temática de guerra, mas também para os aficionados por histórias reais. Sabe quem também vai gostar? Os leitores latentes, que estão incubados em um casulo e vivendo de redes sociais enquanto pensam “vontade de ler alguma coisa, mas não sei por onde começar”.

Capitães de Areia – Jorge Amado

(283 páginas – Companhia das Letras)

Eu quase nem consigo indicar um livro do Jorge Amado, seja ele Gabriela, Tieta, Tenda dos Milagres ou A morte e a morte de Quincas Berro D’Água sem dar um sorriso automaticamente. É o clima da Bahia, a prosa ligeira e os personagens fantasticamente construídos para se parecerem com cada um de nós ao mesmo tempo que são únicos. E depois de ler Capitães da Areia eu posso te garantir uma coisa: os meninos de rua nunca mais serão invisíveis. E digo mais, estando eu na terceira, talvez quarta leitura, ao longo dos últimos 15 anos, posso garantir que quem não sente um arrepio, um calafrio, aquela vontade de chorar em alguns trechos, já morreu por dentro.

Um clássico, segundo grandes teóricos da literatura, é uma obra capaz de sobreviver ao tempo, às mudanças – tecnológicas, sociais, ambientais e tantas outras – e não seguir modismos. Não depende de divulgação massiva ou de fazer parte daquelas famigeradas listas dos mais vendidos para seguir existindo. Por isso, deixo vocês com um clássico da literatura brasileira que deveria ser leitura obrigatória não só nas escolas, mas parte do currículo de todo brasileiro.

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Gostaria de indicar algum livro que entra na categoria “eu estava sem ler há meses e agora a vontade voltou com tudo.”? Escreva pra gente nos comentários! 😉


RAYZA FONTES (@rayzagfontesé uma jornalista capixaba, mãe de pet, de planta e de muitos livros. Casada com o seu melhor amigo, sonhadora compulsiva, leitora crônica, fã de café para acordar e champanhe para relaxar. Descobriu muito cedo que ler é a prevenção e a cura para todos os males.

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*Os textos de colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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