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Estamos nos tornando ausentes presentes?
Quinn Buffing | Unsplash
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É possível conviver com alguém todos os dias e mesmo assim não reconhecer essa pessoa.

Outro dia, ao ler um site de notícias, me impressionei lendo casos de uma síndrome que até então desconhecia. Um tipo de transtorno em que a pessoa, de um instante para o outro, passa a acreditar que alguém próximo foi substituído por um sósia. Aconteceu com uma mulher, de 24 anos, que ao chegar em casa se deparou com um estranho deitado em sua cama, usando o pijama do marido. Ela percebia a semelhança entre o estranho e o homem com quem casou, mas tinha convicção de que era um impostor.

A Síndrome de Capgras

Apesar de ser uma condição rara, a Síndrome de Capgras ou “ilusão dos sósias”, tem casos registrados desde 1923. Não há ainda uma explicação definitiva, mas pesquisadores apontam para um possível dano na conexão entre áreas do cérebro responsáveis por reconhecimento facial e a consequente resposta emocional.

desconexão

Crédito: Samuele Giglio | unsplash

Porque ao vermos uma pessoa, o que nos faz entender quem ela é não é apenas seu rosto e suas características físicas e sim tudo aquilo que nosso cérebro vai resgatar na memória. Como se fosse uma caixa na nossa intimidade com tudo que esse alguém representa para nós e uma foto do rosto dela pregada do lado de fora.

Seguindo por essa direção, a saudade é uma evocação emocional da ausência. Como se algo nos fizesse buscar a caixa de uma pessoa na memória, mas sem que ela esteja por perto para que se estabeleça a conexão caixa-presença. Por outro lado, é possível estar perto de alguém e parar de sentir o impulso de buscar a caixa. Uma desconexão que ocorre principalmente quando estamos hiperconectados à internet. Ausentes na presença.

Desconhecidos muito próximos

Essa ausência, ao se prolongar, talvez cause em nós uma sensação parecida com a experimentada pelas pessoas que sofrem da “ilusão dos sósias”. É possível deixar de reconhecer quem está ao nosso lado? Acredito que sim. Quem nunca ouviu alguém dizer “quando me dei conta, percebi que não reconhecia mais a pessoa com quem havia me casado”. Ou então algo como “bastou uma conversa para eu entender que não sei nada sobre meu filho”.

É que a caixa precisa ser constantemente alimentada com o que representa aquela pessoa no presente. Se não, aos poucos, a foto dela vai até estar lá, mas o que tem dentro não faz sentido com o que enxergamos na sua presença.

Como alimentamos a caixa? Estando de fato conectados com os outros. E talvez o primeiro passo para isso seja se desconectar do que nos torna ausentes quando estamos junto deles.


TIAGO BELOTTE é fundador e curador de conhecimento no CoolHow – laboratório de educação corporativa que auxilia pessoas e negócios a se conectarem com as novas habilidades da Nova Economia. É também professor de pesquisa e análise de tendências na PUC Minas  e no Uni-BH. Seu Instagram é @tiago_belotte. Escreve nesta coluna semanalmente, aos sábados.

*Os textos de nossos colunistas são de inteira responsabilidade dos mesmos e não refletem, necessariamente, a opinião de Vida Simples.

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